segunda-feira, abril 08, 2013

Trocando as vogais do convívio


Trocando as vogais do convívio

por Rafael Belo


Guerra! Balas, trocação, sangue... As pequenas lutas forçosas criadas. O cultivo do ódio, a confusão mental e física. Há uma cisão entre o público e o privado clara (e necessária), mas a nitidez se desfoca quando o particular e o coletivo se agridem em campo aberto e se fundem. Nesta batalha campal vazia e, portanto, desnecessária só acontece descarregamentos de variadas munições com tamanha energia desperdiçada que os choques terminam em uma hecatombe pessoal ou, no lugar-comum, o famoso tiro no pé.

Armas carregadas e apesar da mira, hora na cabeça hora no coração, os tiros sempre são para o alto. Covardia? Sim. Porque de fato não importa o alvo, importa tê-lo e guerrear a agitação. Mas antes da covardia contra o outro, é pessoal. Coletivizar é uma estratégia malograda de dispersão. É como um espião espionando a si mesmo. A guarda sempre alta com as mãos no rosto tão acima do necessário que nada é possível enxergar. As portas se fecham e mesmo assim o sangue escorre.

Para cultivar pessoas e, consequentemente, amizades é preciso o desarmamento imediato. Descruzar os braços, abrir os sorrisos, cumprimentar as pessoas, olhar nos olhos e saber que todos merecem um tratamento normal. Porque, além do mais, confiar é uma conquista diária e frágil a ponto de vir em garrafais letras vermelhas ESTE LADO PARA CIMA ou você revela seu pessoal para o coletivo? Ser sincero, mas pensar antes de cultivar o veneno e os duplos fios de corte preciso. O inimigo é o outro? Não somos nós mesmos e nossa guerrilha interna resvala no profissional em uma troca sem igualdade.

Trocando o "u" pelo "o", a extensão se torna cumprimento e o comprimento um fraco aperto de mão . Esta medida fica desmedida quando ao invés da simpatia ou a tentativa de, acontece o percorrer do olhar pelo outro, a desarmonia geral e, enfim, esta constante guerrilha pessoal e a guerra civil profissional. E, pessoalmente, só podemos dizer que esta confusão cria uma falsa separação entre o físico e o intelectual mesmo sabendo que todo este armistício é um batalha sem fim de cultivo de ilusões analisadas onde o convívio consigo mesmo torna-se pior "do que" com o outro.

3 comentários:

Unknown disse...

Eu fiquei extasiada. Exatamente o que penso.
Seu jogo de palavras me encanta.
E, parabéns. Esse é o que eu mais gostei, de todo que eu li.
Beijinhos :*

Help disse...

Muito bom....Parabéns ...brinca com as palavras de uma maneira divertida..Sos

José María Souza Costa disse...

Nobre, Rafael.

Desenhas um texto Harmonios, Encantador. Nivelado por cima. Um dia, ainda aprenderei a escrever assim.....
Abraços abraçados.