por Rafael Belo
Fico
pensando em como é possível se contentar com a estagnação, a paradeira. Trabalhar
sem a possibilidade de evoluir, sem a perspectiva de melhorar... Viver sem contribuir
de forma alguma com a vida. Está aí algo que me irrita. Uma rotina onde é tudo
redondinho e igual dia após dia. Como não absorver, compartilhar, transformar...?
É como se contássemos mentiras diárias para nós e cada mentira adiasse ser quem
somos. Gradualmente a irritação aumenta, se transforma em raiva, ódio, fúria e
toda a ira nos curva pendendo nosso corpo para o chão.
Ainda
fico então pensando se importa o tamanho da corrupção. Maior ou menor, não
muda. Porque é claro que nos corrompemos. Vamos nos corrompendo aos pouco. Mais
uma vez fingimos não ver e sentir na nossa maniqueísta versão de o que os olhos
não veem o coração não sente. Falar e ouvir continua sendo um arremedo da nossa
verdade. Falamos muito e mais besteira ainda. Ouvimos pouco e quase ensurdecemos.
Aí falamos de carreira e salário para no fim preferirmos a suposta imagem da
profissão.
Toda
esta paradeira e mesmice fica martelando enquanto fico pensando no tempo desperdiçado
para agradar, para continuar ao invés de seguir. Porque continuar é ficar
girando em círculos, embaralhar todos os pensamentos e misturar qualquer
decisão que poderia ser tomada. Seguir é usar outra pontuação da nossa Língua
Portuguesa. Substituir as reticências, deslocar as vírgulas e utilizar os pontos
finais. Ah, há tantos finais. Cada um disfarçado de prolongamentos como aqueles
filmes considerados bons que pelo sucesso do primeira emendam uma continuação
péssima.
Portanto,
não adianta ficar no fico pensando... Ficar. Pensar. É bom, mas é uma etapa. Uma
prévia para ir e agir. Protelar, adiar, cria uma ilusão de agrilhoamento,
várias correntes cheias de bolas de metais, com a vestimenta obrigatória das listras
intercaladas em preto e branco nos aprisionando na nossa própria covardia de
arriscar. Com isso a morte vem todo dia de uma maneira mais pavorosa. O medo de
provar sua inutilidade faz a tecla ser tão batida que já não tem nada a identificá-la.
A pasmaceira toma conta e se não quisermos apodrecer devemos podar partes de
nós mesmo para novas flores nascerem e deixarem nosso perfume.
2 comentários:
Excelente texto, un placer leerte...
Bello martes.
Obrigado, linda. Bom ter vc por aqui. Bjs
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