Divertir-se-ia (miniconto)
por Rafael Belo
Irael vivia repetindo qualquer
hora cansa. Mas não era só isso. Ele queria
cansar. Tinha um desejo lunático e psicótico. Esperava uma provocaçãozinha... Queria explodir, saltar da janela do
controle, fugir de toda esta segurança e proteção. Foi às ruas. Juntou-se a muitos, mas queria, não, precisava
destruir. Necessitava de violência. Seus
olhos brilhavam de desejo. Ele quase sentia o prazer de dar uma lição
em alguém. Talvez fosse o poder do domínio. Quem sabe uma liberação de seu eu verdadeiro. Sabe lá. As explicações
só solucionam uma parte, afinal.
Ele destruiu. Não só
objetos, mas pessoas, principalmente pessoas. Elas estavam no caminho. Queriam impedir,
se meter. Ele simplesmente fez isso parar de ser um problema. Ira
queria guerra e depois de um tempo as
pessoas enxergavam isto nele e se afastavam. Até as corajosas. Quando finalmente a
violência se tornou ele. Ira se autoproclamou O Ares. Deus da Guerra. Agora ele era um Neandertal no físico, mas
um Einstein no intelecto. Nada
pior... Nada pior...
Não havia alívio
imediato. Cada golpe era um alívio instantâneo que terminava antes do
braço, perna ou cabeça voltar ao lugar. Era uma fúria cega. Uma ira
interminável. A suprema ignorância, mas para Ira era todo o conhecimento. Seu
sangue frio estava tão quente... Tão
quente... Mas ele não suava. Nem uma gota. Evoluía sua violência a cada
minuto. Parecia crescer e se embebedar na raiva do mundo. Deliciava-se e se
conseguisse parar enquanto praticava sua violência suprema, lamberia os dedos e
os beiços.
Assim tudo parecia. Anos
de silêncio e de controle sem qualquer, qualquer
escape. Explodiram Ira. Ele era pura energia negativa. Saboreava o medo, o
sangue e o poder... Hummmm... Mastigava
maledicências, justiceiros, vigilantes, heróis... Tudo tinha o gosto de prazer.
Até o doce amargar. Mas ele já havia saltado pela janela, passado do limite da
sacada... Estava em queda livre, mas
tinha aquela ridícula sensação de cair para cima, porque recebeu uma mensagem
no celular – ninguém tinha coragem
de se aproximar. Divertir-se-ia ainda mais. Agora era pago por autoridades para
manter o caos, a descrença e a ilegitimidade. Era legítimo. Que Alívio!
2 comentários:
amor e perdão neutraliza (:
amor e perdão neutraliza (:
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