sexta-feira, fevereiro 14, 2014

Divertir-se-ia (miniconto)


Divertir-se-ia (miniconto)
por Rafael Belo

Irael vivia repetindo qualquer hora cansa. Mas não era só isso. Ele queria cansar. Tinha um desejo lunático e psicótico. Esperava uma provocaçãozinha... Queria explodir, saltar da janela do controle, fugir de toda esta segurança e proteção. Foi às ruas. Juntou-se a muitos, mas queria, não, precisava destruir. Necessitava de violência. Seus olhos brilhavam de desejo. Ele quase sentia o prazer de dar uma lição em alguém. Talvez fosse o poder do domínio. Quem sabe uma liberação de seu eu verdadeiro. Sabe lá. As explicações só solucionam uma parte, afinal.

Ele destruiu. Não só objetos, mas pessoas, principalmente pessoas. Elas estavam no caminho. Queriam impedir, se meter. Ele simplesmente fez isso parar de ser um problema. Ira queria guerra e depois de um tempo as pessoas enxergavam isto nele e se afastavam. Até as corajosas. Quando finalmente a violência se tornou ele. Ira se autoproclamou O Ares. Deus da Guerra. Agora ele era um Neandertal no físico, mas um Einstein no intelecto. Nada pior... Nada pior...

Não havia alívio imediato. Cada golpe era um alívio instantâneo que terminava antes do braço, perna ou cabeça voltar ao lugar. Era uma fúria cega. Uma ira interminável. A suprema ignorância, mas para Ira era todo o conhecimento. Seu sangue frio estava tão quente... Tão quente... Mas ele não suava. Nem uma gota. Evoluía sua violência a cada minuto. Parecia crescer e se embebedar na raiva do mundo. Deliciava-se e se conseguisse parar enquanto praticava sua violência suprema, lamberia os dedos e os beiços.

Assim tudo parecia. Anos de silêncio e de controle sem qualquer, qualquer escape. Explodiram Ira. Ele era pura energia negativa. Saboreava o medo, o sangue e o poder... Hummmm... Mastigava maledicências, justiceiros, vigilantes, heróis... Tudo tinha o gosto de prazer. Até o doce amargar. Mas ele já havia saltado pela janela, passado do limite da sacada... Estava em queda livre, mas tinha aquela ridícula sensação de cair para cima, porque recebeu uma mensagem no celular – ninguém­ tinha coragem de se aproximar. Divertir-se-ia ainda mais. Agora era pago por autoridades para manter o caos, a descrença e a ilegitimidade. Era legítimo. Que Alívio!

2 comentários:

Tt Irie disse...

amor e perdão neutraliza (:

Tt Irie disse...

amor e perdão neutraliza (: