sexta-feira, setembro 27, 2019

Outro Tempo (miniconto)







por Rafael Belo

Meu Deus! Protege minha coluna e minha cabeça. Depois dor. Muita dor! Mas vida! Vida em abundância! Minha vida estava ali. Dentro de mim além do pouco de tempo que vivi. Foram instantes para mim. Mas em Outro Tempo foram anos. Tenho outra chance, outra vida na mesma vida.  Vivi por lá uma eternidade. Um instante aqui…

Em Outro Tempo, as almas estão restauradas.  Há o infinito e o Único Absoluto. Lá Ele nos trabalha aqui para evoluirmos. Tive a permissão para enxergar e vi que não há apego algum. Há a existência. Um rio correndo sem pressa, sem represado ser. Estar ali era fazer parte do Todo, era perceber que apenas o sentimento de Outro Tempo, a sensação de Unidade e Paz voltaria comigo sem nenhuma lembrança.

De volta a Este Tempo, chorei como renascida. Era de novo um recém-nascido rasgando espaço e consciência. Questionava o motivo do acidente, mas tinha medo de saber o propósito, de entender a extensão dos meus erros… Foquei na dor. Estava sozinha e tudo me pedia um pouco mais de calma. Estava confusa entre pensar que tudo terminava ali e tudo começava ali…

Era vida. Era dom. É vida. É dom. Aquele cuidado, aquela proteção… Sempre esteve dentro de mim. Voltei a escutar. Minha missão vai aperfeiçoando meu espírito. Só preciso de coragem para entender qual é. Faço parte da harmonia universal para reparar angústias, incentivar o Bem e expiar as faltas… Mas antes preciso expiar minhas próprias.

quarta-feira, setembro 25, 2019

Maiores










a melanina distribuiu os tons de Negro
pegos no meio da palpitação disparada no ar
a dor se estendeu no asfalto
do Alto a vida voltou

tudo se dobrou contendo as lágrimas
o Ébano frio continuou na estrada
sem um fim espiritual

o físico retorcido na desigualdade
foi obrigado a desacelerar enquanto o mundo corria

só para quem entende a pequenez de nossos desejos diante de planos bem maiores.
+Rafael Belo, às 10h59, segunda-feira, 23 de setembro, Campo Grande-MS+

segunda-feira, setembro 23, 2019

Se não conhecer ninguém







por Rafael Belo

A sensação de sobrevivência é estranha. É boa. É um frescor e um peso no estômago ainda mais quando não se trata de você e ainda assim se trata. Quando as desigualdades, o desânimo, a revolta, a raiva, o medo, os maus-tratos surgem antes do cuidado, da gentileza, do bem-estar, dos direitos e deveres, sentimos o valor da vida humana. Um acidente sofrido por quem mora no seu coração te leva a realidade da ausência de leitos e do abandono das pessoas.

São detalhes que definem toda a linha inicial desfiando o tecido bem costurado de alguns segundos atrás. Um tempo desperdiçado cuidando de bens materiais enquanto a vida importante está em um local frio de dor e sofrimento. Os prontos socorros, clínicas, hospitais e unidades de saúde públicos seguem da mesma forma desumana. É desespero o que lá habita, é desesperança depositada em macas… Há pouco mais de uma semana se não fosse a fé, família e amigos talvez agora a conversa fosse sobre mais números e estatísticas.

O impossível realmente não existe. Analisando o acidente o que fica é o milagre, a mão de Deus… Na parte humana ficamos na burocracia, principalmente se não se conhece ninguém. Quando não há ninguém para intervir, agilizar, fazer os direitos valerem ou o conhecimento dos próprios direitos para advogar por si… É o abandono, o para depois, o esperar, o velório… Há justificativas para todos, para tudo, mas e as ações? A efetividade? A iniciativa? A proatividade e o profissionalismo?

Apesar de mal pago e sem reconhecimento, ser jornalista tem para os outros um peso e um glamour raro para o profissional. Depois de reclamar com todos e poucas horas abandonada no PS da Santa Casa com muita dor devido a fratura exposta causada pela imprudência de uma motorista sem habilitação na BR 163, que atingiu a moto pilotada pelo meu amor, foi preciso algumas ligações para alguém da saúde amenizar a dor e encaminhar para o raio-x. O acidente aconteceu 17h40 e já eram quase 20h daquela quinta-feira.

Mais tarde, quase meia-noite, ainda consegui entrar para vê-la e a quantidade de acidentados se acumulava por toda parte. A toda hora uma nova ambulância trazia uma nova história de dor. Resumindo idas e vindas com suspeitas e exames, quando a vi novamente, ela estava entre duas salas em um ambiente de 80cm por 1,80 cm com uma pia. No dia seguinte ainda estava no mesmo local. Mais revoltas e ligações… Contatos… Depois do almoço da sexta-feira 13, foi levada mais adiante para o Hospital do Trauma. Entre promessas de cirurgia, dor e contatos do SAC da Santa Casa, a cirurgia só aconteceu no sábado depois das 05h30 da manhã. 

Eram 14h de um nervoso sábado quando meu amor saiu do pós-operatório. O milagre ficou com três placas e 15 parafusos no braço esquerdo. As visitas do SAC também eram físicas…  O quarto sempre tinha alguém nas primeiras noites e tirando a idosa de 96 anos ao lado. As outras duas jovens que foram internadas ao lado sofreram acidentes de moto. A senhorinha quebrou o fêmur e devido a uma longa dieta de cálcio e uma saudável vida rural já estava se recuperando bem. Mas a mente distante tentava confeccionar um bordado ou tecido lá da infância. Costurava e buscava agulhas invisíveis enquanto falava com quem já se foi ou simplesmente não estava ali. A outra, a segunda paciente, estava com fome e contando a saga de precisar ameaçar chamar a assistente social para ser atendida já estava de alta, mas nada da família buscá-la.

Também houve a última que compartilhou o quarto com a gente. Uma interna com tornozeleira, aos 19 anos com três filhos e relegada ao medo, ao preconceito, ao julgamento e ao desinteresse dos outros. O olho direito com sangue, corpo ralado, a fala era a conhecida dos MCs. Afrontosa para se impor e conseguir o que quer, se virava como podia com a perna. Disse ter sido presa por estar na casa de amigos quando a polícia chegou. Enfim… a perna estava toda costurada, parecia começar a apodrecer e ela só queria ir pra casa. Não comia até a convencemos que comendo teria a recuperação mais rápida. Quando tivemos alta, ela ainda ficou… 

Lá, ao lado, e aqui, fora, pedimos a Deus por quem necessita, agradecemos o milagre da vida, da oportunidade não perdida de estudar, continuar, recomeçar e aprender o que Deus quer para nós.

segunda-feira, setembro 09, 2019

Rindo a vida







por Rafael Belo
Uma redação é quase idêntica a uma aula da saudade da graduação ou, para quem nasceu mais recentemente, uma sala de aula onde seus melhores amigos também estão. É um falatório profissional, no entanto não importa a situação, o clima pesado logo fica leve com brincadeiras, piadas e uma diversão com a tensão alheia. Parece tipicamente brasileiro tirar o famoso sarro, fazer a falada zueira, mas este aliviar o ambiente é natural do ser humano.

Mário Quintana já dizia: "O sorriso enriquece os recebedores sem empobrecer os doadores". Mas não precisamos ficar no poeta, o próprio IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) tem um levantamento apontando que sorrir relaxa as tensões do corpo e faz trabalhar aproximadamente 17 músculos. Além disso, um estudo divulgado há 13 anos pela Escola de Medicina Lona Linda, Califórnia (EUA), provaram que o riso não só aumenta como faz mais ativas nossas células conhecidas como "Assassinas Naturais", as NK (Natural Killers). Chamadas assim porque destroem vírus e tumores. Rir traz melhora na imunidade e bem-estar.

Naturalmente sabemos disso porque nos sentimos menos estressados, com menos dor, relaxados e um monte de benefícios grátis por aí. Mas parece que achamos ser fácil demais sorrir, rir e brincar e vamos levando tudo a sério. Perdemos a graça e me parece ser desta maneira que nos afastamos da Graça também. Nos distanciamos e questionamos tudo com um gosto de rancor na língua ou o tão vial ranço. Parece trouxa e idiota dizer sobre a vida ser curta e uma só…

Porém, precisamos ouvir e ver o óbvio. Vivemos com pouca fé na vida, no outro e principalmente em nós mesmos. Por isso, fomentamos a inveja, a inexistente inveja branca, ódio, o desamor e as fofocas. Nossa preocupação com o pensamento e o julgamento alheios nos aprisiona, nos impede de sorrir. Somos nossa própria prisão ambulante ficando distante de quem realmente somos e porquê não podemos sorrir e rir antes, durante e todo o processo de ser nós mesmos?

sexta-feira, setembro 06, 2019

Ruínas (miniconto)







por Rafael Belo
Cai de rosto no chão. Desviei da minha própria fala. É hipócrita, certo? Reclamei no fogo da minha língua. Já não sei a mulher que sou. Me chamaram demônio… Eu sempre me achei um anjo. Um anjo insuportável, claro. Mas, um anjo. Todos estão loucos! Agora estou caída sem saber porquê. Meu peito dói. Meu estômago não me deixar comer nem beber. Devo estar viva só pela força do ódio. 

Força destruidora. Só planta discórdia e se autoalimenta. Aí estas guerras nunca acabam. São só pausas para continuar exatamente de onde pararam. Este é o segredo do mal escondido em nós. Ele distorce as coisas, espreita até agir. Só faz mal a nós. Ao outro só há mal se ele permitir cair nesta energia… Eu fui responsável Por Isso no mundo todo… Como eu sinto é repartido com todas as almas mundanas e não somos todos do mundo?

Não. Nenhum de nós é. Mas me ajude a levantar aqui. Me dê a mão sem qualquer intenção. Chega de reclamar. Pare de clamar coisas ruins ao universo duas vezes. Falar em voz alta ajuda. Isto é ruína. Se tem algo que eu desisto é de ser Ruína. Arruinei este lugar com minha queda, queridos. Vejam só. Só sobrou este buraco e esta dor sentida sem sentido algum. Ainda assim sigo escolhendo o dessentido. 

Eu sou muitas em uma só. Só vim conferir o lugar. Minha força negativa é este fim. Preciso parar de reclamar. De assumir outras personalidades por empatia. Só preciso de um minuto para me recompor e redizer a mulher que sou. Eu construo, não destruo. Mas todo mundo cansa, não é? Uma hora fingimos ser outra pessoa e é confortável ser alguém o qual julgamos não ter problemas… Abram espaço. Preciso de espaço para voar. Adeus.

quarta-feira, setembro 04, 2019

Impulsionado







morreu a voz antes do fim
em meio a próxima reclamação
suada na tremedeira do arrebentar dos batimentos
o sentir armazenado explodiu 

transbordou imediatamente em inveja
correndo nas salivas da fofoca
desafios de não se fazer mal

malfeito cotidiano ansioso 
desequilíbrio da exposição total

cansaço impulsionado nas redes digitais
navegando longe dos mares da solução.

+às 15h19, Rafael Belo, quinta-feira, 04 de setembro de 2019, Campo Grande-MS+

segunda-feira, setembro 02, 2019

Reclamar mata







por Rafael Belo

Há burburinhos, murmúrios e sussurros velozes como a negação na constante perseguição a quem somos. Nossa exposição diária abre julgamentos injustos e desnecessários na necessidade de guerra e divisão de seja lá quem for responsável por se alimentar da discórdia. A inveja e a fofoca andam de mãos dadas na relação abusiva mais antiga do mundo… Mas é a reclamação a coisa mais cansativa do planeta e parece ser nosso trabalho cumprir as metas de quantidade e qualidade de reclamações por dia… Quantas vezes você já reclamou hoje?

Para mim, a categoria mais irritante do chatômetro é reclamar. Mimimis são normais quando estamos putos, desde que não seja um hábito e não tenha te distanciado e isolado do mundo, é normal. Lembrando que ir atrás dos nossos direitos não é reclamar, é reivindicar algo que deveria estar sendo cumprindo e não está. É buscar resolver... No entanto, reclamar sempre é acumular tantos pesos dando massa e definição para problemas que sequer queriam ir para a academia, se alimentar e dormir… Só aconteceram para criarmos um solução ou nos movimentar. 

Reclamações pesam diretamente em nós. Nosso corpo e nossa mente respondem. Consequentemente doenças graves têm espaço para morar e dominar assim como o desânimo e a ausência de fome. A Medicina, a Psicologia e a Filosofia apontam um desequilíbrio nos expondo ainda mais ao hormônio cortisol levando a lapsos de memória, dificuldade de aprendizagem e cansaço. Criando tantos hipocondríacos armazenadores de raiva, frustrações e medo parados diante de qualquer impacto da vida.

Tudo isso gerado por nossas expectativas e atitudes das pessoas. Não somos parâmetro para o outro. Alguém pode até fazer algo muito parecido com o que fazemos, mas jamais farão exatamente igual e esperar que alguém faça como nós faríamos é se iludir, se frustrar e se machucar. Esta ansiedade crônica namorando o imediatismo moderno é solo infértil para coisas boas, porém fértil para mortes diárias. Nós somos capazes de sobreviver e viver cotidianamente. Somos capazes de buscar soluções e iniciar a meta diária de abolir a reclamação e por que estamos parados falando? Vamos agir. Nos desafio a não reclamar mais. Aceita o desafio?

sábado, agosto 31, 2019

Chamas Vivas (miniconto)









por Rafael Belo
Aquele incêndio criminoso fui eu. Eu iniciei. Mas… Era só pra eu ter me queimado. Porém, perdi a mim mesma no instante da minha omissão. Tudo plantado logo eram inúteis cinzas misturadas com a poeira de mim. Se um dia fui feita de barro ou da costela deste barro, quem moldará este pó, estes restos, chamado eu? Qual é o meu valor depois da destruição? Palavras não apagam incêndios nem fascínios. E eu? Eu sempre fui fascinada pelas chamas…

Só nunca imaginei poder controlá-las. Apenas jamais pensei na vida delas. Elas estão vivas. Elas vivem e precisam se alimentar. O problema foi eu não ter pensado nas consequências e ter me transformado na melhor versão de Prometeu. Todas as sementes reflorestadas dentro de mim são um infinito foco de nada. Eu queimei os incendiários, os piromaníacos julgando serem eles. Não houve defesa. Não houve justiça. Eu os executei. Eu os incendiei. Até agora… Me recuso a confirmar o descontrole. Aliás, o controle das Chamas Vivas. Elas me controlam… Controlavam…

Este mundo em chamas criado por mim. É! Eu sou a criadora. Não coautora. Autora mesmo. As Chamas Vivas precisam de permissão para controlar e eu permiti. Permiti e me deliciei. O Fogo sempre tem razão. Era tarde demais, literalmente quando eu dei por mim. Foi quando estava sob as águas contaminadas com um pouco de combustível. As Chamas Vivas avançado, consumindo e destruindo. As Águas se adaptando, contornando, inundando… Neste momento rejeitei a destruição e fui afogada. Mas já era cinzas. Tarde demais…

Quantas gerações serão necessárias para apagar minhas queimadas? Estou encharcada, mas agora transbordo. Perdoei a mim. Quero ser Água Preenchendo. Ainda não sei o tempo necessário para eu ser o Elemento Mais Vital porque o Ar me sopra diferente. Ele diz ser o mais importante e eu culpo a Fumaça pela arrogância Dele porque a Terra já havia me ensinado a sustentação, a base dentro de cada uma. Já Ela… Principalmente, Ela sendo subproduto deste mundo em Chamas criado por mim... Ela é filha de tudo que queimei querendo… Espaço. Mas ela é quem sufoca… E fumaça nenhuma esconde o que vejo, mesmo que doa por mais que mate e… Espere! Há algo diferente em mim, algo diferente no lugar também… Percebo… Percebo respirar embaixo d'água. Uau!! Eu me perdoei e fui perdoada… Cicatrizes curadas…. Zerada. Agora é outra jornada. Vou começar do princípio e no Princípio Eu era Chuva quando os princípios valiam. 

quinta-feira, agosto 29, 2019

Dormir tranquilo








despertou-me o vento me sufocando
 em incêndios amontoando cinzas
todas fazendo dentro de mim
o meu espalhar em autodestruição

nesta sequidão que não sou mais
apaguei os incêndios certos 
alimentei as fogueiras importantes

na minha combustão espontânea transformei instantes em reflorestar

as queimadas do mundo cessaram no fim da cortina de fumaça onde dormir tranquilo é iluminar.

+às 18h49, Rafael Belo, quarta-feira, 28 de agosto de 2019, Campo Grande-MS+

terça-feira, agosto 27, 2019

Iluminar ou queimar?










por Rafael Belo
A divisão separa chamas e labaredas alastrando um incêndio pelo mundo sufocado pela própria fumaça. Eu tusso todos os dias e diariamente poderia adoecer desabando, engasgado, queimado por dentro nestas queimadas insanas da destruição. Esta forma uma cortina de fumaça levando todos os sentidos às cinzas e é fácil não enxergar nada. Por isso, estamos em alerta de risco secando à força sem chuva e ainda incendiando. Por que estamos nos matando?

Não estamos renascendo. Estamos acumulando nossas cinzas e toda vez que venta  somos espalhados. Distantes criamos mais focos de incêndios até sozinhos não sermos mais capazes de apagar. Eu fico pensando em tanta ilegalidade, na nossa preguiça de juntar os matos e transformar em algo útil novamente, mas não. Queimamos. Fazemos muita fumaça e muito barulho pensando nas facilidades sem sequer avaliar as consequências. 

E as consequências são desmatamentos sem fim. Não são só as florestas que ardem em chamas, nós vamos queimando em psicopatia deixando de ter simpatia, solidariedade, empatia e sentimentos não só pelos outros, mas até pelos nossos. Nestas fogueiras públicas de orgulhos e falsas moralidades, nenhum fogo derrete nossa frieza adquirida por achar sermos os mais importantes concentrados no nosso umbigo. É o coletivo que move o mundo. O indivíduo é social. Sozinho faz o que?

Nesta quantidade de consequências que somos, a individualidade se perde e ao ver as fogueiras criminosas pela cidade neste tempo seco, tudo se alastra rápido nestas sequências de filmes ruins… Porém, a diferença é entre a vida e a morte. Não é um filme. Não é conspiração. É sobrevivência. A cada dia que sobrevivo me pergunto se estou apagando os incêndios certos e alimentando as fogueiras realmente importantes. Acender um fósforo ou um isqueiro pode iluminar ou queimar, qual você escolhe fazer?


domingo, agosto 25, 2019

Não somos fantasias (miniconto)








por Rafael Belo

Desinventei a mim mesma sentada aqui nesta escultura de um sorridente Manoel de Barros. Fiquei assim, vazia imaginando o quando ele não gostava de exposição. Não o conheci mas são palavras da neta dele. Neste Centro da cidade, a velocidade me atormenta e o desrespeito. Não se pode ser mulher. Não se pode não ter partido e ter posição, atualmente parece ser contraditório e hipocrisia. Preciso deixar de ser uma fantasia.

Bem neste lugar, houve um tempo que o tudo visto ao redor, não era nada. Apenas um grande campo. Inexistia até pensamentos sobre isto aqui. Engraçado terem colocado a escultura do Poeta no ponto exato… Tanto aconteceu neste descampado… Digo quando era descampado… Lá no início de tudo, antes mesmo de mim, aqui era o fundo mais profundo de um oceano. O Oceano Único. As Proprietárias Originais da Vida me juraram que nem se sabia o que eram conflitos, combates… Guerras!

Eu não era sequer um sopro. Mas na minha infância já era. Tudo era atraído para este Nada. Até o Vazio vinha tentar sentir por aqui. Com sucesso, diga-se de passagem. Há algo aqui ainda do Inexplicável para mim. A Energia parece vir daqui. Os olhos do mundo constantemente se veem nesta mesma sintonia e se voltam para cá. São quando coisas incríveis estão acontecendo. Pensando em tudo isso eu desimagino para imaginar as possibilidades e ativar minhas ações no meu querer.

Eu quero. Eu posso. Eu consigo. Eu sou A Alma deste espaço, destas pessoas esvaziadas… Sou Soul! Você sente Manoel? Pode sorrir pela eternidade desta quantidade de pequenez por aqui. Mas sei ser o mesmo em toda parte… O Reconhecimento dela nos ajudar a começar a ser Grande, a entender o Poder da Humildade. Pense nisso!  A Força do Pensamento é Pensar. Eu Existo! Olha como estou sorrindo Manoel! Respire comigo de olhos fechados. A Energia está aqui. Não somos fantasias!



sexta-feira, agosto 23, 2019

nós fazendo






no entendimento repleto
quebra-se o concreto
massa de bloqueio alimentada por nós 
completos tolos vestindo culpas despindo desculpas
perdendo quem somos na nudez fundamental

alimentamos nossos animais secretos
na mente vazia invertendo a azia em refluxo artesanal
a guerra na mente destroi o coração 

lavando o cérebro na chuva paulistana
as nuvens pesadas descarregam

acelerados não olhamos ao redor e fingimos desconhecer onde está nosso melhor.

+às 09h28, Rafael Belo, 22 de agosto de 2019, quinta-feira, Campo Grande-MS +

quarta-feira, agosto 21, 2019

Vazios diários





por Rafael Belo
Há tantos vazio por aí. Mas tantos a ponto de eu acreditar ser a origem deles. Talvez todo mundo já tenha se sentido assim ou irá se sentir… Aparentemente todo mundo mesmo. Há pesquisas da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre. As causas podem ser genéticas e diretas do ambiente onde se vive. Há a negação e o pensamento errado de podermos fazer tudo só. Resolvermos tudo. Não. Não podemos. Ainda mais nestes dias onde nunca se viveu neste ritmo tão frenético na história do mundo deixando os cuidados com si mesmo em último plano ou sem plano nenhum. 

Se você acredita em Deus certamente pediu ajuda a Ele e pode ser que tenha se convencido que não precisa de mais nenhum tratamento. Médicos e psicólogos então de nada servem… Já pensou fazer e tomar atitudes positivas, fazer tudo que mais gosta e não sentir absolutamente nada mais em relação a isso? Não é só uma questão de decisão, de opinião, de ação, há uma comprovado desequilíbrio na bioquímica cerebral que diminui a substância (Serotonina) responsável pela nossa sensação de bem-estar.  Imaginou seu cérebro não produzindo mais a sensação de bem-estar? É praticamente se sentir alheio a tudo, o tal de indiferente ou, realmente, um mal-estar sem fim.

Se já houve na história mundial um motivo para não julgar as pessoas, este é um. Não é possível por meio de padrões de comportamento qualificar, quantificar e dizer o que se passa na mente das pessoas. Pode ser vento e pode ser tantas coisas que é possível tornar a pessoa incapaz de identificar algo.   É normal desconfiar, só não é saudável. o Latinobarômetro mostra que nós, brasileiros vivemos de aparência já que apenas 4% das pessoas acreditam umas nas outras. Outras dezenas de pesquisas indicam que a confiança está ligada a felicidade. Eu prefiro ser enganado de vez em quando a desconfiar de tudo e de todos.

Qual é o nosso futuro se não buscarmos a felicidade e o fazermos já? A gente não decide o porvir, ou seja, o futuro. Ele vem. Decidimos como o recebemos e como o criamos agora. Depois é nós enrolar. Adiar as coisas é cultivar crises de ansiedade, é se entregar as inevitáveis dores. É chorar em uma noite inexpressiva. Então, depois de uma madrugada onde não há sono e só o cérebro e os órgãos sentem algo, só posso me levantar e questionar o motivo das pessoas perguntarem a motivação - ou falta dela - nos outros sendo que nem a nós mesmo entendemos por completo.

segunda-feira, agosto 19, 2019

No Meio do Nada (miniconto)





por Rafael Belo

Estava recebendo buzinas, assédios e ofensas. Mas, sem  nenhuma ajuda. Nem mesmo das mulheres. Eu via receio, medo e raiva. Muita raiva! Nada disso me assustava. Ficava triste. Bem triste! Logo em seguida deixava este sentimento ruim ir. Queria entender, impor, porém nunca aceitar, respeitar… Não de fato. Até isso ser cobrado de mim. Não pelos outros, nunca liguei tanto para eles. O meu próprio organismo, minha própria consciência… Eles revidaram. Eu estava me fazendo mal. Mesmo agora com carros desviando quase em cima de mim.

Eu procurava pensar em algo, sentir algo e me senti molhada. Encharcada. Como se tivesse me jogado em águas profundas. Não fazia sentido. Ali. Aqui. Agora. Só tinha poeira, coisas e pessoas secas. Quando foquei meus olhos, minha cabeça já latejava e meus olhos queimavam. Onde eu estava? Minha mente estava em conflito. Está em conflito. Eu estou em conflito. Sou água? Não. Sou poço. É isso! Não estou mais represada. - Finalmente! Pensamos que você não voltaria a respirar.

Como morrer, você diz? - Não. Morrer é diferente. Você já deveria saber disso nesta fase. Você é o Poço Corrente. Veio para desrepresar.  Isso. Está é a postura. Está é a atitude. Venha. Nada até aqui. Saia do Meio do Nada. Não finja que desconhece que tudo isso é um teste constante. Ou, então, teria surtado com as provocações. Venha para poder ir. Você precisa trazer mais e mais pessoas para o Desrepresar. Até Tudo vir até o Nada.

Estas duas vezes prisão das pessoas. Não me incomodava até eu perceber o quanto eu poderia facilitar a jornada delas. Conectar o lago lunar de cada uma neste mar desbravado. Engraçado a quantidade de perguntas que recebo por conta do recado afirmativo da minha camiseta "Não se Represe"! Neste momento eu sou as buzinas, os assédios e as ofensas. Sou a poeira e o tempo seco. Latejo e queimo até você perceber que pode cavar mais fundo e libertar tua água na correnteza.

sexta-feira, agosto 16, 2019

flutuar em si








a água funda do poço raso
choveu sem parar no seco
virou um desbravado mar
a nos puxar para si em correnteza

corrente de retorno refluxo do avanço
força da nossa própria gravidade
movimento das nossas marés pessoais

sem pior nem melhor apenas tudo
no reflexo na sombra na história particular lunar

um lago mental para flutuar em si e ir desaguando no mundo.

+às 09h45, Rafael Belo, 14 de agosto de 2019, quarta-feira, Campo Grande-MS+

terça-feira, agosto 13, 2019

Fundo do poço








por Rafael Belo

Há sempre uma forma de cavar mais fundo. No fim é um poço. O poço pessoal de cada um. A gente olha o redor e vê pessoas aparentemente pior em diversos aspectos, mas é a nossa visão. É o nosso julgamento. Nosso fundo, pode ser um abismo… Mas não acredito haver nenhuma profundidade onde caímos, nos jogamos ou ainda vamos capaz de nos prender ou soterrar. 

Temos ainda a mania de ajudar os outros para nos sentir melhor. Nossa simpatia se foi, nossa solidariedade engatinha perdida, nossa empatia nem nos foi apresentada e queremos o rótulo de bons. Aquela humanidade nos colocando em uma categoria diferente dos outros animais está todos os cartazes de procurada. Mas a verdade é que nós precisamos de tratamento. Encontrar a água deste nosso poço e nos hidratar até entender a nós mesmos.

Nossas histórias não nos fazem melhor ou pior. Elas simplesmente são o nosso caminho. Nossas opiniões, pensamentos e atos não nos são. Eles não significam que somos isso ou aquilo. É uma transição, uma aprendizagem, passos que escolhemos dar… Nós estamos muita coisa, mas quem somos não é definido desta forma tão simples. Dores, amores, valores podem sim mudar nosso ser, não nossa essência.

É por isso que tudo ao olhar é aparência. Nossos sentidos têm mais razão. Dar oportunidades e se dar possibilidades é construir sua própria fonte de água corrente, não empoçada, não com um fundo esperado e limitado. Meus limites terminaram quando desconstrui este tal fundo do poço. Não deixei de ver atrocidades, barbaridades, crimes hediondos, mas deixei de pensar que só a prisão ou só a morte resolvem. Soluções paliativas se tornam problemas maiores. As causas sociais e pessoais que impulsionaram todos até aqui precisam ser estudadas e receber ações paliativas. Cuide de seu poço, não julgue o dos outros. Não os represe e, principalmente, não represe a si mesmo.

domingo, agosto 11, 2019

Posso ver (miniconto)







por Rafael Belo
Tudo que eu queria era sumir, fugir, desaparecer… Aproveitar a reclusão das pessoas no inverno, esta neblina saindo de mim e me condensar para logo me dissipar. Esta pressa, esta pressão, este imediatismo me desloca. Faz-me bater a porta e fingir um estado diferente do meu. Afastei-me tanto de mim e nada do que era meu é mais. 

Ocupei meu mundo, acabei com meu tempo e agora preciso esvaziar. Estou cheia de matéria e emoções. Não sou fluída. Tenho certeza sobre estes sons ouvidos em toda parte. É meu espírito perdido. Expulso por tantas coisas matériais e distúrbios emocionais que cultivei. Não tenha medo do meu espírito. Ele busca iguais…

Ele vai voltar para meu corpo enquanto ainda o mantenho. Eu sou um templo, como você, de Algo Maior, Deus. Está aqui. Somos Sua Igreja. Mas eu deixei de ouvir este Verbo transcendente. Reclamo, desconfio, questiono… Deixei de confiar há muito tempo e cai no abismo sem fim que me ttansformei. 

Sou um Lar vazio, mas ainda assim um Lar. Sinto minha alma vir. Ajoelho sem necessidade, mas o Poder é tamanho, é tremendo que preciso me curvar para melhor sentir. Quando ergo meu olhos Vejo. Nenhum ser humano aguentaria enxergar Deus. Mas minha jornada me trouxe a maior Graça, a humildade e o Amor. Agora posso Ver.

sábado, agosto 10, 2019

Volto a ser








Sai neblina dos meus olhos
protegendo uma forte Luz
Natureza transcendente se manifestando assim
um eu indivisível vindo do Verbo

eco da alma vestindo o todo
incontido no meu peito
lugar onde meu coração sujeito se expande

Tão grande quanto a imensurável imensidão
vai minha pequenez se aconchegar no Destamanho

Eterno volto a ser depois deste desfazendo pó.

+Rafael Belo, às 11h58, quinta-feira, 04 de julho de 2019, Campo Grande-MS+

sexta-feira, agosto 09, 2019

Precisamos estar aqui






por Rafael Belo

A neblina anda amanhecendo comigo. Às vezes úmida como hoje, mas normalmente seca. Sorrio com ela e saio para as ruas começando a deixar de ser vazia. É julho. É inverno. Mas até o tempo não é mais o mesmo. Tudo fora do lugar. É bem fácil de desviar. Sair do caminho. Só nas questões de erros e acertos há controvérsias porque é preciso tentar, agir, mudar para trabalhar nas possibilidades de erros e acertos. Nós vivemos sem meio termos ou combatemos ou nos rendemos. Nestes confrontos e recuos ainda nos debatemos com a pressa e o imediatismo. 

Aceleramos o mundo. Ocupamos nosso tempo. Nos preenchemos física e emocionalmente até a exaustão. Nosso espiritual se prosta fica à mercê de todas as fraquezas possíveis. Vivemos cansados. Não deixamos a fé nos usar… Usamos a fé para nosso benefício. Aí a neblina volta independente da hora e é tão densa. É tanto eu. É tanta mania de ser Fariseu. Que a fé ou vai cega ou formalista demais, julgadora demais, assustadora demais. Como se o Deus vingativo substituísse o Deus Amor.

Falo de Deus. Sou questionado sobre alegações de eu supostamente ter tanta inteligência e ainda assim acreditar no sobrenatural. Deus é naturalidade. É Natureza. Sobrenatural é o que não é natural, não é da natureza. Ora, Deus é transcendência. É Luz inacessível porque não pode ser contido. Ele está aqui, ali, lá e além. Esta quando a medicina cura o incurável. Quando a fé cura... Nós, igrejas vivas, pedimos Seu Reino e quando temos acesso não podemos atribuir a sorte ou azar nossa prosperidade. Se ficarmos só na carne, só no conhecimento adquirido, morremos.

Assim, não só temos neblina nos olhos e no coração, mas no espírito. O Sol está na neblina, diante dela e atrás dela. Depende do nosso eu ser nós, mas nada é no nosso tempo. Tudo nos prepara para a chegada deste tempo nosso. Vamos desviados. Fariseus. Não estamos repletos, mesmo sendo. Estamos na teoria, no visual, nas redes digitais, até estamos nos nosso corações, mas como está este coração? Onde está nossa alma? Precisamos cuidar da nossa alma. Cuidar do cotidiano, das obrigações, da carne, do corpo, do coração, é totalmente insuficiente se não sabemos dizer A Palavra, O Verbo precisando ser compartilhado lá da nossa alma porque ela precisa estar aqui. 

domingo, junho 30, 2019

Vaga (miniconto)







por Rafael Belo

Eu não tinha mais cor. Apesar de ser vista era invisível. Não tinha a cor preta porque eu não sou ausente de cor. Não tinha a cor branca porque eu não sou concentração de cores. Vagava atropelada pelo tempo sem qualquer entendimento de mim mesma. Minha consciência ainda vaga e parece que tudo de ruim tenta ocupar o espaço dela. Eu confundo passado, presente e futuro.

Nem sou idosa, ou nem tão idosa assim ou sou? Ninguém me reconhece mais. Eu não sou meu lar e, portanto, não tenho lar nenhum… Estou sem voz também. Lá fora venta tão forte, mas a chuva é fraca. É possível um desejo ser material? Digo pessoal? Quer dizer uma pessoa como eu? Por que eu sou uma pessoa. Agora a indefinição continua… Qual pessoa eu sou?

Às vezes me lembro das coisas… Aí esqueço logo sem nem tempo de entender. Estou vestida de Tristeza… Quando começo a me despir toda... Nua, é exatamente onde as pessoas trombam em mim. Batidas distraídas movidas pelo silêncio e o celular. Aliás, eu tinha um. Tinha uma vida digital ou eu destinha? Eu era alguém ou ninguém consegue ser alguém e todo mundo é sempre ninguém?! Uma multidão de rostos desconfigurados…

Afetados por alguma raiva guardada tingida de algum rancor alimentado em cárcere privado. Um cativeiro que só o sequestrador pode saber a localização real. Agora percebi que talvez eu seja apenas mais uma inteligência artificial aprendendo toda vez que me ligam como se fosse recém-nascida… Se for assim, eu consigo descobrir a maneira de me desligar ou só seria reiniciada? Já tentei isso antes?

quarta-feira, junho 26, 2019

Continua







Na janela do impulso uma barreira
o vento sopra ao contrário forçando para dentro
Nenhum movimento faltam batimentos
talvez tristeza seja uma veste encharcada

Secando ali ao invés de olhar para baixo
chama o horizonte os olhos
para por princípios o pôr-do-sol

toda luz descolorida embranquece
aquece com cor contraste

ali na beira do empate entre morte e vida o dia termina e mais uma pessoa continua.

+às 13h14, Rafael Belo, terça-feira, 25 de junho de 2019, Campo Grande-MS+