sexta-feira, junho 20, 2014

amarelando (miniconto) – por Rafael Belo








Há gerações seguiam a risca o quinto decreto amarelo. Ele agora se perguntava o porquê. Por que ninguém nunca questionou quais são os outros decretos? Quem diabos é o Rei de Amarelo??? Tudo isso lhe dava arrepios e uma sensação de uma futura certeza. Certamente ela aconteceria. O primeiro sinal aconteceu durante suas primeiras horas de dúvidas e hesitações.

Amaralino estava amarelando há tempos. Não percebeu o sol passando sem fazer diferença, pois as sombras... As sombras permaneciam densas e paradas... Como se o tempo esperasse uma solução para continuar. Quando a noite chegou havia um sabor metálico com textura de kiwi e um fundindo rançoso no ar com o aroma de uva passada.

Como se o próprio Rei de Amarelo tivesse jogado seu manto no céu e a coroa negra estivesse perdida para sempre, Amaralino temia o pior. Ele já se sentia perseguido e nem havia manifestado seus incômodos e insônias. Ah, tantas noites em claro amarelando ao invés de tomar coragem. Encolhia-se várias vezes em si mesmo em tantos universos contínuos paralelos... Mas como dormir com aqueles pesadelos?

Ele era perseguido por vultos e sabia ser vossa apavorante majestade. Terminava sempre da mesma forma. Amaralino caia sem parar nas escuridões e silêncios absolutos como o Rei. Havia escuridões mais escuras e silêncios mais mudos. Antes de cair no vácuo entre as escuridões e ver as estrelas começarem a aparecerem novamente infinitamente, Amaralino sentiu todo o pavor da certeza da presença do Rei de Amarelo. Depois foi só a dor de um centro pesado e definitivo. Ele tinha razão de amarelar.

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