Regina caminhava e
olhava para cima. Seus pés cheios de bolhas e calos já tinham passado qualquer
definição de dor. Mas ela era forte. Suportava e caminhava. Obstinada. Olhava para
cima. Orientava-se pela antena. Como sempre foi livre. Ela queria se vingar
daquela antena transmissora. Todas as operadoras estavam lá e mesmo assim seu
smartphone não tinha sinal nenhum. Se tivesse pensado bem não teria destruído o
celular... Mas...
Ela não sabia por
onda andava. Nem percebia estar perdida. Não percebeu, também, estar em um
labirinto de ruas e quadras se entrelaçando em nós. Regina, então, parou. Se tivesse
alguém perto e, como de costume, mexendo no esperto celular, além de dar a ela
uma cabeçada das grandes, iria mais uma vez deixar cair o celular esperto. E claro,
soltar aqueles palavrões reprimidos. Mas estava sozinha e ninguém via o que ela
via.
Logo a frente. Havia uma
pessoa caída. Na verdade, ela especulou com certeza, só poderia ser um travesti. Ao ver dela, a
onda de surras gratuitas e covardes não pararia mesmo quando houvesse um bom
exemplo de justiça. Nada de olho por olho, mas cadeia e uma boa educação moral.
Ela se aproximou. Ele estava assustado, mas deixou cair a expressão de pavor
quando a viu estender a mão. Tirando os traços masculinos. Ele poderia ser um
bela mulher. Seios fartos, cabelo ruivo bem cuidado e quase uma viola...
Não disseram nada por
um tempo. Ele estava escorado em Regina, aceitando o milagre sem questionar. Ela
perguntou apenas onde ele morava. – bem naquele
canto onde me salvou dos meus pensamentos. E se for perguntar da família...
Veja bem as marcas que encontrou em mim...
O celular dele funcionava... Regina ligou para uma ambulância e aos seus
40 anos virou uma mãe confidente, amiga de Regis de dia e de Rita à noite. E o
sinal perdido segue por lá, Regina continua a caminhar.
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