Não
poderia ser pelas incontáveis horas debaixo de sóis de todos os desertos,
poderia? Cada pessoa tinha constelações só de astros reis permanentemente ao
meio dia sobre as cabeças. Mas era ela quem pensava no plural. Estava sozinha
há horas, aliás há dias... A pele de Sara desaparecia nas mãos, ela delirava. Era
a própria insolação em seu oásis pessoal. Sentia-se severamente um zumbi. Enquanto
suas ideias poluíam a mente enlouquecedoramente seus pedaços pareciam partir.
Caiam
pelas esquinas sem sequer serem tocados. Não estavam apodrecidos. Pareciam esquecidos....
Como uma reação natural da falta de propaganda. Quem não é visto, não é
lembrado, portanto, é esquecido. No delírio solar, Sara via seus membros
aparecendo nas caixinhas de leite do passado, nas notícias dos telejornais do
presente e nos nomes de praças ruas e avenidas do futuro. Ah, porque Sara garantia
ser celebridade. Garantiu até perder a língua.
Estava
esfarelando esquizofrenicamente, estava desaparecendo. Virava um pó cinza e
rapidamente era varrida pelos moradores obcecados por limpeza. Sara saltava de
esquina a esquina e se espalhava. Ficava um pouquinho em cada lugar. Uma doação
literal para aquela cidade. Se todo aquele solitário cinza cobrasse o esforço
de Sara ela estava certa em deixar os olhos, as orelhas, a boca, o nariz, a
cabeça, o tronco, um braço para lá, outro acolá e as pernas acabam de se
separar, mas estavam frente a frente.
O
cérebro de Sara também se preparava para virar farelo e se tornar um monte de
pó no asfalto. Ela não hesitou em deixa-lo. Suas lembranças já eram clara e
gema cozidas naquele asfalto do inferno. Por último, Sara arrancou o coração do
peito. Ele batia como uma ladrão coberto de cicatrizes que acabava de garantir uma
plástica caso ficasse onde estava. Mas saiu. Partiu-se tanto... Mesmo tão nova,
Sara tinha ideias e vontade suficiente para fazer o feito e fez. Reconstruía a
cidade. Agora precisava de outro novo.
Ficava
Sara sabidamente sarada. Ela não olhava
para trás porque realmente ficava. Quem partia era outra, era nova e Sara gostava
da ideia de ser nova e da sensação de fugir, desaparecer e desaparecia.
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