quarta-feira, junho 18, 2014

Constelação do esquecimento (miniconto) – por Rafael Belo





A coroa negra era feita de pedras preciosas derivadas do ônix, turmalina preta, obsidiana, hematite, mas principalmente de axinite e opala preto. Toda sua armação era feita de um tório deixado no ar mais puro da China. Toda luz refletida era amarelada com uma aura negra. Havia uma força magnética dona de todos os olhares e quem olhava tinha a mente esvaziada deixando um olhar abobado, quase feliz.

Queria se apoderar da coroa negra, a milenar, o Rei de Amarelo. Ela sonhava possuí-la e reinar além dos seus limites. Vesti-la era coroar a cabeça com o universo estrelado. Havia muitas estrelas mortas ainda iluminando suas ideias. Ele passou tanto tempo alucinando ser mais majestoso que foi ficando ele amarelo. O Rei Amarelo de Amarelo...

Queria seus súditos como ele e sabia ser a única majestade capaz de suportar a coroa negra. Já havia espalhado seu rosto e trajes nas faces da moedas. Ninguém havia percebido. Aos poucos o papel moeda também o tinha em todas as suas formas. Não demorou muito para alcançar o interior de cada um e todos começaram a amarelar. O problema é que o absolutismo corrompe até o absoluto.

O amarelado Rei de Amarelo julgava-se, e nós o imitávamos sem sequer sabermos, um ser único. Um amarelo ser acima de todos os outros seres, mais evoluído, inteligente, perspicaz e claro não era. Em pleno Brasil durante a Copa do Mundo, descobriu a coroa negra escondida à vista. Em cima do painel digital em um fim de tarde amarelando em Campo Grande – MS, em sua principal avenida. Como todos ao redor, estava hipnotizado, sua mente estava vazia e seu olhar abobado. Olhava para cima e já se esquecia quem era... De novo.

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