Detalhes na frente (miniconto)
por Rafael Belo
Depois
de todas aquelas palavras bonitas, inspiradas, incentivando o caminho, ela
caminhou. Cada letra proferida parecia ter cores únicas, vida própria e ela
imaginou uma a uma em um desfile a homenageando. Aquele exercício mental se
tornava realidade para ela. Não foi difícil convencê-la. Mesmo se não fosse um
discurso bem elaborado, ela já estava disposta a ser enganada. Ela queria
acreditar e acreditou. Foi e não precisou de muito tempo para perceber o engano
e, pior, a idiotice de querer ser enganada, mas ela não pensou ser bem assim. Nunca
é.
Era
ironia pura. Sabe, aquela coisa de ser cheio e no fim ser vazio. Pelo menos ela
imaginou... Enfeitou o pavão, se disfarçou de pavão e virou nitroglicerina. Uma
bem ruinzinha. Contrabandeada. Pirata. Estourou na primeira oportunidade. Logo no
primeiro passo correto, se viu em um paradoxo e, talvez, somente talvez, ela
mesma fosse este paradoxo. Parecia uma auto ofensa. Uma zombaria ou, como a
moda dita, bullying. Não era mais ironia. Era sarcasmo. O mais puro dele. Começava
a doer. Ainda mais naquele lugar. O caminho que a preencheu e no caminhar era
vazio.
Se
for olhar pelos passos dela, o caminhar não era importante. Era frustrante e
dolorido. Não adiantava dizer ser esta a importância, este o crescimento. Não era
assim que se sentia e ponto. Estava solitária, silenciosa, desiludida. O caminho
era uma coisa sua imaginação era outra. Não havia exercício mental, discurso
elaborado, diálogos sem nexo, nenhum convencimento. Só engano e pequenas
mortes. Ela morria um pouco de cada vez. Seu maior desespero era o silêncio. Não
poder gritar. Não conseguir elabora um pensamento inteiro antes deste se
desfazer sem nenhum som imaginado sequer...
Seu
caminho enganado por vontade, seu caminhar enganando agora contrariado. Seu paradoxo
naquela única via indo em todas as direções. Porém, uma imensidão de nada. De não
sentimento. Sem movimento. Tão pesada que a gravidade parecia outra. Suas palavras
não articulavam nem ao menos grunhiam som algo. Era mais tarde do que ela
poderia imaginar, “se” pudesse imaginar, pensar, se punir, se convencer,
enxergar mais neste caminho, tantas sombras e esbarrões, era o silêncio seu sofrimento
porque não sabia o significado.
Para
ela era tudo um ledo engano, mas até começar a perceber como entender algo de
novo, como sentir sem se enganar com cada coisa ou como absorver o seu redor,
era um grande resumo de sofrer. Só faltava saber o sentido das palavras e do
próprio sentido. Ela não era ela mesma. Era outra coisa. Sempre foi.
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