terça-feira, novembro 26, 2013

Ledo engano

Ledo engano
por Rafael Belo

Conversar. Trocar ideias. Manter um diálogo. Interagir... Está aí! A interação, mesmo que virtual, carece de argumentos e de entendimento. Aliás, do medo de não ser entendido e da falta de argumentação. Tanto a ponto de hoje ironia e sarcasmo terem um acréscimo que podemos chamar de por via das dúvidas. Um hashtag explicando o tão badalado e nunca antes da história mundial visto nesta proporção #sqn (só que não). Explicar a diferença entre ironia e sarcasmo então requer sutileza e eis outra em descrédito. Há um descontrole latente e corrosivo nos espaços que separam as pessoas e uma imensa confusão entre falar e calar.

O ser humano sempre teve um imenso medo de ser incompreendido, injustiçado... E a falta de diálogo, junto com as interpretações corretas, está em desuso pelo menos da forma usual. Há mais uma batalha vazia e desesperada em busca de ser ouvido e absorvido. Um nadar de costas no oceano revolto e repleto de todos os monstros mitológicos e infantis para convencer as pessoas do seu ponto de vista ser o melhor. Uma disputa pela razão sem razão alguma. Provocações para quem não possui paciência e o conhecimento de não possuí-la e mesmo assim aceitá-las partindo para a exposição pública.

Gosto tanto de trocar ideias, de manter diálogos (do grego diálogos que resumidamente significa entendimento através da palavra entre duas ou mais pessoas), esta passagem, este movimento, esta boa vontade de compreensão recíproca, principalmente quando são pontos de vistas diferentes, contraditórios, aumenta a dimensão do que se é falado, o respeito. Anima minha alma ouvir e falar sobre qualquer assunto que se desenvolva em muitos argumentos de caminhos trilhados e possíveis de se trilhar. Esta possibilidade de se colocar no lugar do outro, de olhar nos olhos, de rir e testar o calor humano.

Porém, o que vemos é um constante tribunal armado em tendas onde o constante julgado/júri/juiz é o detentor da fala e o restante seus ouvintes. Não importa a incoerência, os erros, o contexto, a pontuação e, às vezes, nem o assunto. Então a retória é enorme, mas seu conteúdo ínfimo e quase inexistente acabando em falácia. Uma parte desta é paralogismo, (aquela sem intenção de enganar), mas a maioria é sofismo (produzidas para confundir dentro de uma discussão). Aliás, falácia é um raciocínio errado que parece verdadeiro, mas não tem fundamento nem argumento ou validade, portanto não prova de maneira eficaz o que alega. A palavra vem do latim fallere e significa – adivinha só - enganar. Pode-se concluir, então, que não dialogamos, nos enganamos ou fingimos ser enganados.

Um comentário:

Pérola disse...

O diálogo verdadeiro e autêntico é conversa dificil e exige interlocutores sintonizados.

Beijo