Aquele sofá já tinha
seu formato mesmo ele se derramando nele apenas às noites. Souza Cinza era
consumido pelo sofá. O sofá era o encosto da solidão. A solidão um sumidouro
onde desapareciam vítimas constantes e, ele como todo ser humano, oscilava em
casa. Seu humor era multipolar e ele não sabia o que fazer com tanta liberdade. Separava
seus momentos como instantes de estar sozinho e o restante de lidar como ser
solitário, porque, obviamente, não são a mesma coisa.
Estar sozinho era uma
necessidade da alma para se expandir. Uma precisão do coração para relaxar e um
vício da mente para aquietar. Ser solitário
é.... O silêncio incomodo, o vazio do lar, uma coceira inalcançável, uma
ausência de conexão, um medo explicado, um celular mudo... Era uma malcheirosa
bosta! Porém, era uma condição por ele imposta. Uma escolha irreversível,
simplesmente porque ele não tinha vontade suficiente para reverter. A preguiça
se enraizava em seus ossos e, como dizem por aí, cada vez mais Souza Cinza
tinha preguiça das pessoas.
Tinha uma inveja
doentia das folhas secas. Mesmo mortas, nunca estavam sozinhas e ainda iriam
melhorar o solo. Estavam ligadas a algo. Este algo é a renovação da natureza. Ele
era um estorvo. Seu nome tinha o significado da ironia. Seixo, pedra... Não sirvo nem
para ficar no meio do caminho de ninguém. Entre a depressão e a total falta
de estima e baixa autoestima. Então, um grande inseto verde grama começou a
sobrevoar sua cozinha americana e em seguida a sala. Ele estava na sala sendo
consumido pelo sofá. Souza pensava: VáemboraVáemboraVáembora...
Com o spray de veneno
na mão acertou o inseto no ar, na pia e depois no chão enquanto este tentava
limpar a cara. O fez até matá-lo. Souza só conseguia se balançar e repetir: eu matei a esperança... EU matei a esperança... EU MATEI A ESPERANÇA...
E o fez até ficar rouco e depois até perder a voz. Então, desapareceu como a
voz. Foi-se no sumidouro da solidão. Estava finalmente consumido pelo sofá. Ele
desapareceu com a esperança morta. Mas, aquele grande e verde inseto era apenas
um devorador. Um destruidor gafanhoto. Este teve a morte antecipada por
segundos. Longe de sua nuvem morreria de qualquer jeito.
2 comentários:
É dramática essa morte da esperança.
Vidas que levam a tristezas tão profundas que se auto aniquilam.
Entendo o sofá e o Cintra.
beijo
exatamente Pérola. É bom saber que entende. Grato pela visita e coments
bj
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