sexta-feira, fevereiro 20, 2015

Aperitivo noturno (miniconto)


por Rafael Belo

A insônia era um aperitivo diário. Começava depois das 22h e se não fosse forçada a ir embora seguia caninamente fiel até a claridade voltar. Um incômodo noturno, companheira indesejada invadindo a casa, o corpo e se esparramando na sala enquanto o mundo silenciava e dormia. Parecia a mente quieta, mas eram tantas camadas que na verdade ela gritava do fim da noite até o fim da madrugada e este não era o fim. O pior continuava quando clareava.

Havia algo naquele apartamento novo e com certeza não eram a falta de móveis. Eles estavam ali à maneira Feng Shui, mas parecia ser tudo impróprio, pois ventava o tempo todo e haviam... Estranhas sensações... Sabe? Quando o lugar parece não ter ido com nossa cara? Então... O efeito neles era ao contrário. Ela dormia rápido, ele não dormia. Ela inventava desculpa, ele já não sabia mais inventar nada para conseguir dormir...

Mas ele não queria chateá-la, então omitia. As portas batiam e ele tremia. Vinham os mais variados sons de cima e de baixo, afinal eles estavam no décimo terceiro andar de incríveis 26... Era a sexta-feira 13 anterior. Sexta-feira 13 de carnaval. Quanta folia, ele pensava. Uma semana sem dormir e ele já surtava ou já estava surtado e não sabia? Ele e olhava para ela cada vez do inexplicável, principalmente quando a luz do quarto pensava ser flash de câmera de estúdio fotográfico e insistia e piscar como se tivesse em uma tempestade de areia na noite congelante do deserto. Ela ainda caída no sono.


Ele era só mais um louco, mas ninguém sabia. Ela era a sanidade. A verdade era fantasia e a fantasia era subestimada. Só a noite era realidade e, se havia algo físico identificando isto, quem nela ficava já sabia quem enlouquecia e quem estava prestes a enlouquecer. Finalmente o ano novo começava. Era 2015, graças a Deus... Ela acordava, afinal, ele podia dormir e definitivamente voltar ao normal. "Ora" ela era o Despertar, "ora" ele era a Insônia, estava na hora de trocar. O pássaro iria pousar. O equilíbrio do feminino e masculino voltava a trocar de lugar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Perfeito...,,,mamys