por
Rafael Belo
Em vão as
cortinas se fecharam como um raio estourando no vil metal. Fulminante. Figurino
bestial da nudez arrepiada em cada olhar glacial. Não era o esperado pelo
público. Este deixou de ser respeitável há tempos, por isso quem riu fui eu. Logo
depois de cessarem as gargalhadas. Estas subitamente viraram gritos e outras reações
de susto. Valeu o custo? Cada centavo... Imediatamente o alvoroço ia e vinha
feito musgo dominante. Solução hilariante no momento. Quem estava se divertindo
então?!
Foi a solução
para tanto estardalhaço das ilusões lá de fora. A vida já não é e ponto. Como não
rir com pessoas deslizando, escorregando, se atropelando... Plena comoção. O ápice
do teatro. Quero ver quem fica stand-up...
Palavras erradas, entonações erradas, expressões erradas, gestos errados, o
corpo errado... Enfim... O fim da interpretação... Ainda bem que todas as ações
caíram pelo mundo e os preços subiram comprometendo até as próximas cenas do
não escrito.
Afinal
criar bolhas dentro de bolhas dentro de bolhas... É vistoso, artístico,
habilidoso, mas quando estoura a inflação é geral, ou melhor, a inflamação. São
encenações atrás de encenações no meio de encenações no fim de encenações que
se iniciam ao primeiro despertar, mesmo se ainda estiver dormindo. As tais das
intenções sorrateiras, disfarçadas de pãezinhos quentinho da manhã, do aroma
salivante do cafezinho recém passado deixa os desavisados, todos nós, em estado
de eufórica mudança até a noite chegar e o teto nos encarar... Já foi mais um dia.
Próximo
papel, por favor. Saiam todos! Encerrem a cena. Sem direção, ator principal nem
figurante. Vamos criar neste instante. É tudo improvisação. Pode se atentar. O teatro
agora é a realidade e a realidade vai começar um velho novo espetáculo. Ainda vamos
descobrir isso. Ah, vamos! Descobriremos que é preciso tirar qualquer nitidez
para enxergar além do talvez e que a lucidez pode não ser tão lúcida assim. Lá fora
é tudo mentira, a vida é aqui neste palco e parece que o público entendeu os
atos, fez seu teste e vai pedir que não passe de uma trilogia, pois o enredo e
os atores estão tão ruins que assumirão eles mesmos os papéis. Assim que
conseguirem entrar no personagem...
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