É bárbara a forma como
vivemos o paulatino cotidiano neste constante viver provisório. Bárbaro nos
dois sentidos pela liberdade e opressão confusos em seus significados. Provisório
porque assim a nossa vida é, a não ser que pratiquemos boas obras repercutindo
na eternidade, nossa própria Odisseia, nossa própria Divina Comédia. Vidas Provisórias
de Edney Silvestre é um destes ecos para o futuro.
Paulo e Bárbara são
forçados a viver vidas provisórias. Um pela ditadura dos anos 1970 e outra pelo
Governo Collor, em 237 páginas,publicadas pela editora Intrínseca, difíceis de nos largar e nós largarmos elas, com uma narrativa
surpreendente. Um é obrigado familiarmente a sair do país em uma perseguição
nada provisória do Chile à Suécia e outra vai ser empregada de brasileiros nos
Estados Unidos. Vão vivenciar vidas violentamente diferentes e frutos do que
não fizeram. Levados ao limite, órfãos de um Brasil feito de desconfiança e dor nos mostrando a visão do "exilado ilegal".
Lá fora não são eles
mesmos. Não possuem a mesma identidade. Estão em conflito interno. São provisórios
e vivem desta maneira: provisoriamente. Estrangeiros chegam aos países
distantes da realidade que lhes machucou de forma abrupta e têm tudo mudado
constantemente, pois nada é definitivo. São assombrados pelos fantasmas brasileiros
vivos e mortos podendo chegar até elas ou as ignorar. Bárbara e Paulo estão
solitários, mas dificilmente sozinhos.
Nesta solidão que nada, Silvestre nos acolheu
e se mostrou uma revelação fantástica da nossa literatura com uma abrangência
mundial repleta da capacidade de qualquer pessoa se reconhecer em algum momento
naquelas vidas provisórias e, quem sabe, não se identificar improvisando seu
dia-a-dia sobrevivendo longe do desejo de viver, vendo o desejo possível de ser
alcançado, mas preso naquele improviso supostamente temporário.
EXPATRIADOS, separados no tempo e na geografia, Paulo e
Barbara compartilham, além da experiência do exílio, o estranhamento pela perda
de suas identidades, o isolamento e a sensação de interrupção do curso normal
de suas vidas. Diferentes motivos os levam ao estrangeiro. Em 1970, Paulo,
perseguido pela ditadura militar, é preso, torturado e abandonado sem
documentação na fronteira, de onde segue para o Chile e depois para a Suécia.
Barbara, com uma identidade falsa, deixa o país para trás em 1991 — durante o
governo Collor —, fugindo de um rastro de violência, e se instala nos Estados
Unidos como imigrante ilegal.
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