Estava vazio lá fora. A casa também não tinha nada
e não deveria ter ninguém. Os silêncios se
cruzavam dentro, fora, tropeçavam uns nos outros em todas suas incontáveis
formas. Dava vontade de tapar os ouvidos e sair correndo sem rumo, esquecer
tudo, começar de novo... Ciana se sentia um pêndulo balançando em um ritmo
irritante do sol do meio-dia para um eclipse total sem estrelas, do sol do
meio-dia para um eclipse total sem estrelas, do sol do meio-dia para um eclipse
total...
Ela sentia calor e frio, mas suas emoções estavam
condenadas como esta casa. Se houvesse alguém na rua não perceberia nada. Parecia
nova, bela e um ótimo lugar para morar, mas havia uma opressão por dentro,
sabe? Como se caíssemos em buraco e uma pedra de 50 kg caísse também. Ficamos sustentando
e pequenas pedras menores, menos pesadas, vão se acumulando em cima, até... Vamos
cansando, porém, se nos entregarmos morremos... Está faltando o ar. Por que vim parar aqui?! Só há cinzas neste lugar
agora.
Consigo
ver cada móvel imóvel onde deveria estar... Ali... Qual o motivo de um espelho
ter sobrevivido intacto a esta destruição? Só posso rir desta aparência, mas
não vou quebrar este silêncio nem tocá-lo. Engraçado é ele não preencher este
vazio e estar por toda parte. Quem sabe está com meu coração perdido e calado. É!
Foi isso. Esta casa sou eu. Isso me atraiu até aqui. Não era o que eu esperava
quando sai procurando sons e significados pela manhã muda. Serei eu surda?
Mais
uma vez Ciana, mais uma vez... Não resisto a esta atração no horizonte. A este
chamado para a vida. Escute, você não está surda... Nunca direi nada disso em
voz alta. Vou continuar a evitar o inevitável e ficar olhando para fora. Há um
lindo incêndio terminando no céu... Quem sabe eu queime e dê boas-vindas ao fim...
Será possível existir doações de sentimentos? Será difícil sorrir? Não deve ser
impossível morrer e nascer todo o dia como uma fênix cruzando o céu.
Estou toda amassada. Sou um rascunho errado à
mão e jogado no lixo. Hey! Talvez eu seja uma fagulha esquecida deste fim de
dia, esta fênix da encruzilhada ou uma lâmpada queimada. Estou apagada. Vou sair
pela janela e quem sabe mudar ou acender. Mas seu puder sentir... Que eu comece
a sentir agora! Desculpem... Ciana foi engolida pelo silêncio que já havia devorado todos nós. Ela saiu em direção ao horizonte e
olhou para trás tentando enxergar a casa... Então, finalmente tudo estava vazio. Só havia cinzas.
2 comentários:
Muito bom!!
Perfeito!
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