por Rafael Belo
Havia um poder no meu olhar enquanto eu caia. Foi neste momento que
decidi ficar no chão. Isto não é desistir. Era uma opção. Eu chorava sem
controle, mas não era pelo descontrole que chorava. Era a primeira vez que
vivia a solidão. Aliás, a admitia. Até bater com tudo no chão. Há quanto tempo eu
não dormia? Eu vivia a mesma relação pulando de uma para outra assim que uma
chegava ao fim. Um sem sentido ensaiado com a boca fechada, os dentes mordendo
os lábios e as bochechas... Bem sentida eu estava naquele momento quando pensei
em superação, mas era coisa superada...
Havia sido roubada e me abalava mesmo a demora para a superação. Então,
depois da queda, eu enxergava melhor. Tudo bem são só bens... Eu tentava me
convencer. Supera essa... Não conseguia. Eu dizendo assim parece distante o
tempo de onde aconteceu, mas foi agora pouco e vem acontecendo de novo e de
novo, mas só porque estou atenta senão aconteceria de novo e de novo e eu
acharia ser novidade porque estaria desatenta, desligada... A gente é tudo fachada ou somos? Não exijo mais muito do meu português... Há quanto tempo eu não durmo direito? Estou tentando
dizer isto há tanto tempo...
É sempre o tempo, não é? Talvez ele nem exista como a ironia de detestar
os poderes e ao mesmo tempo fazer de tudo para ficar “estável” em um concurso e
ser funcionário público ou seria engraçado...? Não acho que... Paradoxo?
Sarcasmo? Já sei eufemismo? Deixa esta loteria para lá. Não jogo, não tenho
chance de ganhar... E quem entende de figura de linguagem hoje em dia? Deve ter
o mesmo problema para interpretação... Quer dizer, com interpretação. Até que
esta coisa de não superar não faz mal. Sentir tudo, respirar, não evitar,
confrontar e sei lá... Não cheguei lá ainda. Alguém sabe me dizer se já
chegaram lá? Estes já voltaram para dizer algo?
Até onde
somos fachada, aparência...? Onde começamos de fato? Nossa! Quanta filosofia
para pouca fala de uma mulher bugada...! Faz horas que escrevo uma palavra e
aí... Aconteceu de novo. Dormi e acordei. Quem consegue dormir direito ou o
suficiente? É isso! Era o que eu queria dizer...! Nós não estamos vivendo,
estamos morrendo mais rápido. Queremos fazer tanta coisa, ser tanta coisa, ir a
tantos lugares que nos esquecemos de ser nós mesmos. Somos reféns duplos. De nós
mesmos e daquele que damos o controle do indivíduo que somos! Se nossa
felicidade custa nossa liberdade, seria mesmo liberdade? Agora acho que isso é
superação... Digo eu me superei e... Não, espera?!
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