sexta-feira, abril 06, 2018

Duvido se estou enganada (miniconto)






por Rafael Belo

Havia um poder no meu olhar enquanto eu caia. Foi neste momento que decidi ficar no chão. Isto não é desistir. Era uma opção. Eu chorava sem controle, mas não era pelo descontrole que chorava. Era a primeira vez que vivia a solidão. Aliás, a admitia. Até bater com tudo no chão. Há quanto tempo eu não dormia? Eu vivia a mesma relação pulando de uma para outra assim que uma chegava ao fim. Um sem sentido ensaiado com a boca fechada, os dentes mordendo os lábios e as bochechas... Bem sentida eu estava naquele momento quando pensei em superação, mas era coisa superada...

Havia sido roubada e me abalava mesmo a demora para a superação. Então, depois da queda, eu enxergava melhor. Tudo bem são só bens... Eu tentava me convencer. Supera essa... Não conseguia. Eu dizendo assim parece distante o tempo de onde aconteceu, mas foi agora pouco e vem acontecendo de novo e de novo, mas só porque estou atenta senão aconteceria de novo e de novo e eu acharia ser novidade porque estaria desatenta, desligada...  A gente é tudo fachada ou somos? Não exijo mais muito do meu português... Há quanto tempo eu não durmo direito? Estou tentando dizer isto há tanto tempo...

É sempre o tempo, não é? Talvez ele nem exista como a ironia de detestar os poderes e ao mesmo tempo fazer de tudo para ficar “estável” em um concurso e ser funcionário público ou seria engraçado...? Não acho que... Paradoxo? Sarcasmo? Já sei eufemismo? Deixa esta loteria para lá. Não jogo, não tenho chance de ganhar... E quem entende de figura de linguagem hoje em dia? Deve ter o mesmo problema para interpretação... Quer dizer, com interpretação. Até que esta coisa de não superar não faz mal. Sentir tudo, respirar, não evitar, confrontar e sei lá... Não cheguei lá ainda. Alguém sabe me dizer se já chegaram lá? Estes já voltaram para dizer algo?

Até onde somos fachada, aparência...? Onde começamos de fato? Nossa! Quanta filosofia para pouca fala de uma mulher bugada...! Faz horas que escrevo uma palavra e aí... Aconteceu de novo. Dormi e acordei. Quem consegue dormir direito ou o suficiente? É isso! Era o que eu queria dizer...! Nós não estamos vivendo, estamos morrendo mais rápido. Queremos fazer tanta coisa, ser tanta coisa, ir a tantos lugares que nos esquecemos de ser nós mesmos. Somos reféns duplos. De nós mesmos e daquele que damos o controle do indivíduo que somos! Se nossa felicidade custa nossa liberdade, seria mesmo liberdade? Agora acho que isso é superação... Digo eu me superei e... Não, espera?!

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