segunda-feira, abril 16, 2018

Versões em guerra





por Rafael Belo


Às vezes eu chego em casa e fico na porta imaginando algo distante. Mas, também penso em nada. Simplesmente paro como se nunca tivesse feito uma parada antes na vida. Onde estou agora? Onde Estive? Onde estarei? Conjugar o verbo estar e vivê-lo não é a mesma coisa. Parece uma guerra de versões, uma greve de identidade... Destas só possíveis de resolver indo até a fonte da divulgação ou de si mesmo, como esta envolvendo EUA, França, Reino Unido e, claro, Síria. Ninguém confirmou nada além do ataque... Mais uma vez a acusação é de fabricação e suposto ataque químico. Há uma reedição da Guerra Fria encenada entre Estados Unidos e Rússia enquanto nos bastidores a conversa é outra. Sempre uma força extrema contra uma duvidosa, ambos péssimos lados...

Só o tempo dirá se foi fabricada ou não. Estamos na ponta disso tudo e até alheios a mais um fim do mundo iminente. Eu fico á beira de mim tentando não me entregar a esta abismo de insegurança com tanta publicidade efetiva por aí. Uma hora a gente esquece, se distrai , começa a viver novamente porque não temos apenas um destino. Ou você se conforma de chegar até onde imaginou e simplesmente parar? Não tem mais para onde ir? Nós travamos nossas guerras, bem como individualmente buscamos a nós mesmos, a algo mais, aos sentidos, a sentir...

Assim, versões de nós mesmos ganham vida. Ganham espaço, forma e conteúdo e quando percebemos somos outro ainda sendo nós. Eu fico de costas para a porta aberta, olhando o horizonte ou mesmo só o imaginando buscando a sintonia de quem sou agora, não deixando a estática prevalecer. A gente evita pensar no fim, por isso, queremos prolongar aquilo sentido como bom ou considerado desta forma e nestas desrazões irracionais temo medo de arriscar, de tentar algo diferente e lá vamos nós fazer tudo igual de novo.

Então, eu paro aqui na porta para encarar tudo que estou a carregar comigo. Faço greve de identidade. Neste momento sou um coringa a ser qualquer um, todo mundo e absolutamente ninguém. Quero deixar todo o medo e insegurança de fora. Nada disso mais vai entrar aqui. O faço e como a estabelecer uma nova identidade, uma universal, mutável... Eu zero a minha vida. Entro fecho a porta sem pressa. Sorrio tão mais livre e fácil mesmo diante das notícias e especulações dos jornais... E é desta forma sou abordado pela minha percepção, percebo que tinha parado de respirar.