por Rafael Belo
Às vezes eu chego em casa e fico na
porta imaginando algo distante. Mas, também penso em nada. Simplesmente paro
como se nunca tivesse feito uma parada antes na vida. Onde estou agora? Onde
Estive? Onde estarei? Conjugar o verbo estar e vivê-lo não é a mesma coisa. Parece
uma guerra de versões, uma greve de identidade... Destas só possíveis de
resolver indo até a fonte da divulgação ou de si mesmo, como esta envolvendo
EUA, França, Reino Unido e, claro, Síria. Ninguém confirmou nada além do
ataque... Mais uma vez a acusação é de fabricação e suposto ataque químico. Há uma
reedição da Guerra Fria encenada entre Estados Unidos e Rússia enquanto nos
bastidores a conversa é outra. Sempre uma força extrema contra uma duvidosa,
ambos péssimos lados...
Só o tempo dirá se foi fabricada ou
não. Estamos na ponta disso tudo e até alheios a mais um fim do mundo iminente.
Eu fico á beira de mim tentando não me entregar a esta abismo de insegurança
com tanta publicidade efetiva por aí. Uma hora a gente esquece, se distrai ,
começa a viver novamente porque não temos apenas um destino. Ou você se
conforma de chegar até onde imaginou e simplesmente parar? Não tem mais para
onde ir? Nós travamos nossas guerras, bem como individualmente buscamos a nós
mesmos, a algo mais, aos sentidos, a sentir...
Assim, versões de nós mesmos ganham
vida. Ganham espaço, forma e conteúdo e quando percebemos somos outro ainda
sendo nós. Eu fico de costas para a porta aberta, olhando o horizonte ou mesmo
só o imaginando buscando a sintonia de quem sou agora, não deixando a estática
prevalecer. A gente evita pensar no fim, por isso, queremos prolongar aquilo
sentido como bom ou considerado desta forma e nestas desrazões irracionais temo
medo de arriscar, de tentar algo diferente e lá vamos nós fazer tudo igual de
novo.
Então, eu paro aqui na porta para
encarar tudo que estou a carregar comigo. Faço greve de identidade. Neste momento
sou um coringa a ser qualquer um, todo mundo e absolutamente ninguém. Quero deixar
todo o medo e insegurança de fora. Nada disso mais vai entrar aqui. O faço e
como a estabelecer uma nova identidade, uma universal, mutável... Eu zero a
minha vida. Entro fecho a porta sem pressa. Sorrio tão mais livre e fácil mesmo
diante das notícias e especulações dos jornais... E é desta forma sou abordado
pela minha percepção, percebo que tinha parado de respirar.
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