segunda-feira, abril 30, 2018

Podemos nos esforçar







por Rafael Belo

Quando vejo a lua gosto de pensar que é a primeira vez. Cheia então, é algo mais intenso como se me reconhecesse nesta fase. Olho a vastidão do universo e me sinto ao mesmo tempo uma minúscula parte dele e ele todo. É a hora da partida de quaisquer vestígios de arrogância. Eles insistem em grudarem ao longo do dia pelo ego, pelas palavras e na hora da consciência - certa hora da noite - a vida deixa de ser um quê de escrava desta rotina estética.

Somos pessoas céticas até precisarmos acreditar e a caminhada começa acreditando em nós mesmos. Conhecendo quem somos desde o íntimo até o motivo do músculo do dedo mindinho do pé direito dar espasmos. Procuro me libertar destas correntes pesadas e barulhentas do estereótipo da Beleza e é neste momento que as pessoas começam a ficar realmente belas. A sinceridade e o sorriso iluminam mais que a loteria geométrica do modelo midiático da banalização do ser humano.

Medidas externas não mostram o tamanho de ninguém. Eu meço as pessoas no dia-a-dia as ouvindo, não julgando, então vejo o tamanho possível para a expansão destas almas e no início do outro dia já joguei até estas medidas fora. Eu preciso da minha calma e cada vez mais ela me possibilita uma nova visão, um prisma de dimensões para eu me conhecer. Como é possível conhecer o outro se eu não me conhecer? Como vou crescer, somar, se só me diminuo e fico preso nas feridas passadas guardando tanto entulho, acabando com o espaço que está aqui, dentro de mim?

Acredito na necessidade de uma limpeza diária de nós e é sempre noite lá fora, acima deste céu azul. Aliás, de eu’s, do eu acumulando outros eu’s de outros dias, que por algum motivo sórdido, de apego ou saudosista, não quis deixar e – ao contrário do que pensamos – é aí que a insegurança e o medo nos fazem repetir os erros e impedir nos conhecermos realmente. Podemos ao menos nos esforçar para seguir neste cotidiano do autoconhecimento, não podemos?

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