segunda-feira, junho 25, 2018

A cordialidade perdida


por Rafael Belo

De coração…. Cordial vem daí. Relativo ao coração. Nesta palavra/órgão cabe cor, oração, ação, mas atualmente está imperceptível no cotidiano. Falta nas nossas atitudes. Vejo como se o coração estivesse devastado e incapacitado de oferecer cordialidade. Esta anda perdida ou interpretada como fraqueza no nosso dia-a-dia. O que é de coração é afável, sincero, estimulante… Quando acontece é dado a raridade, a nobreza, não algo que é comum a qualquer um.

O ordinário passa a ser extraordinário  posto como exemplo e um simples gesto acaba nas páginas de destaque, vira viral… Logo porque há um estresse desnecessário no  trânsito, a má-educação, a pressa descabida só para parar no semáforo fechado logo à frente, claro, se não houver desrespeito a todas as regras de trânsito e aos outros motoristas. Mas, o que me chamou atenção neste domingo é o “novo” ponto turístico campo-grandense: O Campo de Girassóis. Plantado na entressafra e localizado a sete quilômetros de Campo Grande em direção a Sidrolândia, uma multidão registra belos momentos no local.

O Campo é aberto e é tanta gente indo e vindo que uma nuvem de poeira incessante fica no ar neste tempo seco. Carros parados em toda a pequena estrada de terra margeando o Campo. As imagens paradisíacas se espalham pelas mídias digitais e é quase impossível você não ter visto selfies com os girassóis. O incômodo é o comportamento das pessoas que, dizem por aí, já gera desconforto e reclamações do proprietário do plantio. A cordialidade ausente abre caminhos devastadores no lugar. Há famílias inteiras por lá, mas muitas passam carregando as flores solares arrancadas nas mãos.

Pelo caminho também há muitos girassóis no chão. Não percebi ninguém se comprimentando no local inspirador ou sequer enxergando o outro, apenas procurando os melhores ângulos, os melhores lugares como se cada dupla, grupo ou pessoa ali estivesse só. Seguimos sendo a sociedade da imagem fria, egoísta e descordial contrastante à beleza, ao calor, a cor, oração e ação coletiva  possível além da fotografia trabalhada. Já pensou se cada um ali presente ajudasse a cultivar o local, os girassóis, encontrasse a cordialidade perdida e fosse responsável não pelo abuso e destruição, mas pela permanência deste Campo para todos poderem usufruir dele e do melhor que o ser humano pode oferecer? Espero que possamos fazer tudo de coração.

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