sexta-feira, junho 15, 2018

Real delírio (miniconto)







Por Rafael Belo

Já não sei para onde vamos ou de onde viemos. Logo vou esquecer quem eu sou também. Sei haver motivo para isso, mas... Já não lembro mais.  Talvez não importe, só não posso afirmar agora. Não adianta perguntar para as outras. Estamos na mesma. Só há silêncio por onde passamos.  Nós apenas vamos continuando. Eu falo no plural não porque eu seja uma Legião ou uma Falange... Não. É por causa delas. Todas elas estão correndo comigo. Está tudo vazio, mas intacto. Como se o restante das pessoas do mundo simplesmente tivesse desaparecido.

Eu me sinto a voz de todas. No momento sou eu quem anima as meninas. Nós achávamos estar enlouquecendo quando nos encontramos. Todas estávamos sozinhas à beira do delírio. Duvidamos muitas vezes da realidade disto... Mas, acreditar ser um delírio seria nossa morte, estaríamos todas mortas e esquecidas, então o alívio de nos encontrar e compartilhar as angustias e desesperos nos fez mais fortes. Não sei quanto tempo tudo isso vai durar... Talvez até deixarmos de ser realidade. Ok. Não estou sendo totalmente honesta com vocês, é difícil falar...

Nossa espécie precisa da união e da crença das pessoas para sobreviver.  Se nosso nome se perde, nós nos perdemos e logo desaparecemos.  Nossa sorte é nos conhecermos e admirarmos umas as outras, antes de nós começarmos a sumir... Agora há algo nos perseguindo.  É forte e invisível, porém, desastroso. Por muito tempo, nós nos definíamos por nossas asas, nossas, diferenças e nos afastamos em solidão. Ficamos tão distantes e nem sabíamos mais de nada nem de ninguém, mas restou algo da nossa conexão e assim que a primeira de nós desapareceu sentimos todas e fomos nos reencontrar...

Como rosas aladas éramos alegria e esperança. Em um impulso sentimos a necessidade de correr, mas só nós, estas que você pode ver, sobraram. Foi quando o tempo se estilhaçou através do espelho. Ganhamos desmemoria e coubemos em um só abraço. Nos compartilhamos e sentimos novamente a vontade de correr e corremos... Ainda estamos nesta fugindo do tempo, mas estamos juntas. Até cantamos rindo, deixadas ao vento na necessidade de andar e já vejo a possibilidade da fuga terminar. Hoje ouvimos o primeiro só rompendo um silêncio já dolorido em nós. Lembro ser o som de uma cidade superhabitada... Há até ritmo seja com sol ou lua, ouça... Será real ou delírio? Venham ver estar rosa alada, acima de toda roseira! Venham! Venham!

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