sexta-feira, junho 29, 2018

Olhos de girassóis (miniconto)





por Rafael Belo

Era proibido registrar. Nenhuma imagem. Nenhuma palavra. A única regra do lugar. Havia uma placa dizendo o quão antigo eram... Não acreditei ser possível tudo aquilo ter sobrevivido por tanto tempo, portanto, quebrei as regras. Em pouco tempo minha imagem virou meme. Até aquele momento ninguém sabia o que era um girassol…

Eu e um campo com uma quantidade incontável de girassóis. O sol parecia não se pôr por lá. Todos queriam saber como chegar àquele lugar. Eu não lembrava. Testaram as fotos. Tentaram desacreditar a existência do lugar. Houve debates, brigas, mortes… Tudo por causa de uma imagem. Nem havia polêmica e mesmo assim polemizaram.

Lembrei do aviso e só enxerguei, a partir dali, girassóis. Eu via girassóis por toda parte. Eram iguais. Todos iguais. Não havia nada de diferente. Pareciam cópias exatas uns dos outros. A diferença era a fala. Eles conversavam comigo. Eles eram pessoas. Quem via diferente era eu. Como iria explicar isso…? Quem iria explicar isso? Em uma sociedade medicada e obcecada pelo corpo, eu era a mulher humilhada.

Passei a sorrir e tratar todos da mesma forma. Não sei por quanto tempo isto durou. Poderia bem ser uma alucinação, mas eu me sentia bem. Como se eu fosse o sol… Esta sensação jamais me deixou. Antes eu sentia que nublava o ambiente e chovia destruidoramente granizo. Às vezes, me sinto assim ainda, mas ninguém me deixa esquecer os girassóis e ainda hoje tento lembrar da localização deles. Muita gente precisa ter girassóis na vida.

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