segunda-feira, janeiro 04, 2021

Poça seca

 






por Rafael Belo


Vejo a beleza exterior e a estética em forte atuação nos objetivos e metas dos seres humanos. Um mundo de aparências e amor fingido. Tudo dedicado e envolvido da pele para fora é poça seca. Não há verdadeiro Amor em atos de desprezo e violência. O motivo desta inexistência é Deus ser Amor consequentemente é eternidade. Não tem fim. Não acaba. Nada disso é facilmente visto por aí.


Somos falhos! E como somos! Não temos humildade! Nenhuma! Não realmente. Então, tropeçamos em fatos hediondos, em constantes divisões e separações, em atrocidades tão aterradoras, mas comovendo apenas enquanto estão em evidência porque logo outra consequência dos nossos atos e omissões ocupam este espaço… Somos poça seca e estamos sedentos.


Podemos transbordar este Amor em nós, mas escolhemos os prazeres e nossa razão. Qual o propósito? Estamos caminhando na beira do Vale da Morte e nosso espírito se desprende de nós. Estamos sendo usados para o caos, para a dor, para o afastamento de Deus. O desamor predomina na nossa falta de humildade, escolhemos morrer ao invés da eternidade. Escolhemos não fazer nada para termos razão no final. Vale à pena?!


Este é o prazer terminando a todo instante buscado por nós?! Ardemos intensamente na fogueira das vaidades e nos iludimos com o vazio preenchendo o mundo. Buscamos sexo e likes tão obstinados tendo a ousadia de cobrar dos outros o que não fazemos. Mas onde está nossa ousadia para fazer o certo, o justo? Queremos ser aceitos por quem fere, machuca violenta e mata por prazer quando nem sabemos quem somos. Hoje sei exatamente quem eu sou e minha vontade. Quero Deus, quero minha família, quero amizades sinceras, quero Amor e quero transbordar os propósitos de Deus na minha vida.

sexta-feira, dezembro 25, 2020

Filme inédito já visto (miniconto)

 







por Rafael Belo


Chegamos após horas nas águas. Não sei se esse é o passado ou o futuro. Sei não haver vestígios de nada. Não há história nem nada ou ninguém inspirando. Só há medo. Éramos um grupo imenso e poderoso. Mas tudo que ela precisou fazer foi acabar com a memória de todas. Ficaram lá dizimadas. Escravas Dela. Ninguém jamais soube seu nome. Então nada era conhecimento, tudo é especulação. Mas vou descobrir cada detalhe.


Eu era todas as que chegaram. A que veio de elefante, a que veio sobre as águas... Todas tinham um animal representando uma nação. O poder era a representatividade e ela acabou com isso. Todos só podiam servi-la. A primeira resistência de independência a pessoa era apagada da existência. Foi quando uma estrela brilhou cegamente sobre mim. Não era para eu enxergar ou sequer viver diante de tanto poder… Mesmo assim lá estava eu. Aquela Luz me libertava e protegia. Lembrei do significado do Natal. Lembrei que a data representava o início da nossa Salvação. E o que era Ela?


Eu tinha uma vaga impressão que Ela era um disfarce. Tenho certeza ser ele. Um homem. Da tribo excluída pelo desenvolvimento da violência e da submissão. Como ele escapou e faz todas pensarem ele ser ela? Como este Machismo devorando as entranhas virou soberano? Quando tudo se tornou patriarcal? Por quê tudo se tornou extremo? Não entendo como quase acabaram com nós, mulheres...


É pura magia corrompendo as pessoas, utilizando truques e atalhos como se fosse natural resolver assim quaisquer problemas. Só a União e a Paz edificam. Só o Amor constrói… Estou me sentindo tão clichê ou um filme inédito que todo mundo acha ter visto… É preciso despertar a fé nas pessoas. Não adianta forçar, fazer milagres para quem se recusa a acreditar. Tolos! Pensam que cada peça tem seu lugar marcado. Lá vem ele disfarçado de Ela. A Luz me revelou. Acabarei com a ilusão ou serei mártir por 15 minutos de viralizar?

quarta-feira, dezembro 23, 2020

Culpas

 






sorriso na cara

maldade na mente

quem não separa sente

o peso da possessão 

distorção escrava que mente


abala maltrata bate mata

sociedade indecente 

com gente que surpreende

quando revela a cara real


não é face é cara pelo comportamento animal 


cúmplices conveniente na ajuda do medo prevalecer 

nesta sociedade assassina

mais uma Mulher acaba de morrer


A dúvida de todo dia é temer ou não temer

e nenhuma desculpa vai resolver.


+às 17h47, Rafael Belo, quarta-feira, 22 de dezembro de 2020, Campo Grande-MS+

segunda-feira, dezembro 21, 2020

Sociedade assassina


 





 


por Rafael Belo


Já sofri assédios e importunações sexuais nas ruas, mas nunca tive medo, algumas vezes me senti lisonjeado e outras raiva. Homens e mulheres já o fizeram, porém não há como comparar. Jamais vou me sentir como vejo, leio e ouço os relatos das mulheres. Homens se achando no direito de violentar a paz da Mulher. Imprimindo medo e insegurança para quem já precisa lutar bem mais para sobreviver diariamente. 


Vergonhosamente já fui um adolescente, e até já passado um pouco os 18 anos, que detestava, me incomodava mas era conivente com meus amigos e colegas que assediavam e importunavam todas as mulheres que passavam, estando a gente de carro ou à pé, elas acompanhadas ou não. Tenho vergonha de não ter me posicionado e dito o quanto eram erradas e criminosas aquelas atitudes.


Nossa sociedade consegue ser desprezível ao culpar a mulher por ser assediada, apanhar e ser estuprada. Sabemos: nunca é culpa da vítima. Mas diariamente milhares de mulheres sofrem ou morrem por nossa falta de atitude. Quantos homens traem, vêem pornografia e, mesmo, em um relacionamento buscam outras pessoas? Em contrapartida há muitos "solteiros" assediando ou praticando importunação sexual com a Mulher comprometida e, até, na frente do casal. O pior é que há incentivos e aceitação para este comportamento deplorável criando tantas desculpas para a prática que, infelizmente, ainda não é possível calcular quando isso vai terminar.


Além da minha mãe, tive e vive com minha vó, tenho duas irmãs mais velhas, duas sobrinhas, tias e primas. Por ter sido criado e convivido tanto com elas que não fui contaminado pela cegueira da sociedade machista e violenta respirando a busca do prazer sexual. Hoje casado novamente e com um linda menina vindo, confesso que tive medo ao confirmar o sexo da minha filha. Colocá-la neste mundo sexista, machista e deturpado… Sim, me amedronta. Penso todos os dias uma maneira de ajudá-la a se tornar uma mulher forte, independente e capaz de se defender sozinha.  Tenho fé e, por isso, certeza de que conseguiremos. Gostaria mesmo é que não houve sexismo, mas até lá precisamos mudar nossa sociedade assassina de sonhos, mentes e vidas.

sábado, dezembro 19, 2020

Assim é a Salvação ( miniconto)

 











por Rafael Belo


Estava deserto mesmo com o som de multidões. Eu olhava para todos os lados e tudo parecia infinito. Quando percebi novamente, depois de não conseguir ouvir meus pensamentos, estava respirando nas profundezas de um oceano vazio. O silêncio me ninava. Ali era duas vezes infinito.


Minha mente havia se bandeado com o coração para as orientações da alma. Estas imagens eram o sentimento de um pedaço impossível de medir do infinito porque quaisquer pedaços de algo sem fim, também são intermináveis.


Do deserto não da solidão, mas da necessidade de sentir quem sou, de ouvir sem interferências Deus arder em sarça no meu coração e aprender sobre este Amor inexplicável e incondicional. Mesmo só eu enxergando, agi muito com posse e em extremo egoísmo.


Meu caminho me libertou. Quando percebi estar permanentemente no oceano tive certeza ser um resquício mergulhando em mim desse Amor inalcançável para a carne, para o orgulho e mesmo assim tão entranhado na descoberta de Quem Somos, basta Ouvir e aceitar. Imediatamente nos sentimos o Todo e todos! Não ficamos em dor, mas em Glória! Assim é a Salvação!

quarta-feira, dezembro 16, 2020

Brisa forte

 







o sentimento em chamas

espalha o viver em brasas

pela brisa forte do se entregar

na essência livre de Ser


Estar na pureza intensa de Amar

é um constante arrepiar

mesmo apenas no sentir um pedaço deste infinito


nossa carne aquece do Espírito

fogo exposto terno


sério inabalável Amor no despertar do Eterno.

+às 08h16, Rafael Belo, 16 de dezembro de 2020, quarta-feira, Campo Grande-MS+

segunda-feira, dezembro 14, 2020

Não nos cabe

 




por Rafael Belo


Nada seria sem Amor a não ser um vazio sem fim. Meus atos e palavras seriam vãos. Minha existência um espaço a ser preenchido. Mas há vida em abundância em mim e por mais que veja atos hediondos interrompendo sonhos e amores, todos os minutos nos noticiários, não é regra, pelo contrário, são exceções. O ser humano em sua essência é Bom, afinal, somos imagem e semelhança de Deus.


Porém, somos altamente influenciáveis buscando lideranças tortas e referências falhas independente de Deus. Somos imagem e semelhança, não cópias. Isso nos leva ao livre arbítrio. Não estamos preparados espiritualmente para escolher e, por isso, seguimos nesta jornada. Se, tomado de raiva, temos de escolher entre nos afasta e descarregar uma arma de fogo carregada… Os tiros chegam antes das palavras e a Palavra é utilizada como escada ou distorcida como desculpa para crimes. As mortes chocam diariamente e o amor é minúsculo novamente manipulado como máscara da obsessão e da inexistente posse.


Não temos posse de nada, a não ser das nossas ações e reações. Mas deixamos nossos impulsos e escuridão dominem. Nos tornamos criminosos em diversos níveis e significados sempre com motivos. Temos motivo para tudo, mas ao contrário das motivações criminosas, o Amor é maiúsculo, é um Estado, é O Espírito reconhecido em nós de um sentimento divino onde nada queremos além do Bem e do auxílio para que o melhor sempre prevaleça.


Quem de fato teve a benção de viver este Amor? É Livre na essência. É como se o próprio Deus despertasse Ele em nós. É algo além da compreensão humana e, em alguns momentos, tentar compreender nos afasta de sentir e viver. Mas o simples fato de sentir a fagulha deste fogo perpétuo já nos toca para este aquecer nossa carne exposta e possa nos levar a querer bem o outro independente de todas as situações que não nos cabe jamais julgar.


sexta-feira, dezembro 11, 2020

Paro

 






amparo meu próprio rosto

diante do falso desamparo imposto

no moço vivo em mim

feito de gostos e desgostos


posto no dorso da mão batida

nas faces adulteradas caídas

em intrigas tão repecurtidas


em curtidas e likes diferentes

de quem é realmente gente


paro olhando para tudo criado

o Criador me vê e sei que tenho amparo.


às 10h19, Rafael Belo, Campo Grande-MS, quinta-feira, 10 de dezembro de 2020.


terça-feira, dezembro 08, 2020

Falso desamparo

 






por Rafael Belo


É fácil se sentir no desamparo ainda mais isolado. Mas em um mundo de conectados como você se adapta as realidades que se chocam contigo? Uns só falam de dores e problemas outros ao contrário, mas quantos buscam ajuda? Quantas pessoas se revelam? Você busca a Deus? Você busca ao próximo? A gente não imagina quantas pessoas se preocupam com a gente ou mesmo quem são realmente a gente até adoecer.


Às vezes afastamos as pessoas com nossa distância e nosso silêncio e o outro simplesmente reflete sua postura ou apenas respeita. Assim, a espera de uma ação o distanciamento social já está entre nós há muito tempo. O diálogo é necessário. Porém, com o devido respeito, ou vivemos uma imposição de fala e uma tentativa de manipulação por meio de enfiar goela abaixo nossa opinião no outro.


Estar sozinho por conta de procedimentos de saúde não impossibilita ninguém de entrar em contato com pessoas queridas ou de rever opiniões e posições tomadas, mas nosso orgulho desnecessário é facilmente ferido. Deixamos de dizer como estamos realmente ou nos deixamos ficar naquele estado instável e temporário por tempo indeterminado. Como voltar deste lugar que criamos para nós?


Há um limiar muito tênue nos atrapalhando na busca de ajuda e um deles deixa a sensação que a honestidade é prejudicial quando o prejuízo real é ser desonesto, principalmente, consigo mesmo e com aqueles que você ama. Agora assim é o verdadeiro desamparo, por isso, nos sentimos exatamente desta forma e ainda resistimos a ver e corrigir nossas falhas. Nosso orgulho é nossa queda. Nos afasta do nosso eu, de Deus e, assim, de todos enquanto ostentamos um desamparo falso somos consumimos pelo real.

quinta-feira, dezembro 03, 2020

Disfarces

 






 


Quando a chuva toca

afogando os pecados lá fora 

ela invade a casa aliada ao vento 

determinada a atingir dentro


traz todo o momento 

com o assobio do tempo

encurralado nos cantos 

onde toda dor e sofrimento tem razão 

mesmo quando não 


tudo molhado até o eco do telhado no vazio dos móveis 


imóveis seguimos o mesmo pecado disfarce de sete


+às 11h16, Rafael Belo, 03 de dezembro de 2020, quinta-feira, Campo Grande-MS+

terça-feira, dezembro 01, 2020

Nosso doce veneno

 









por Rafael Belo


Preciso de doses de solidão. Todo mundo precisa, mas a interação é essencial para nossa humanidade  para não nos perdemos na escuridão sussurrando por aí. Há mortes e casos horríveis nos jornais todos os dias. Falta Amor. Falta Deus. Nos deixamos levar pela gula, pelo orgulho, pela ira, pela preguiça, a ganância, inveja, luxúria e esta ânsia de satisfazer nossos desejos é nossa perdição diária e origem de todas as nossas falhas.


Falhamos da forma mais imperdoável e nos transformamos no próprio eufemismo. Esta forma de amenizar a seriedade dos nossos atos distorceu o mundo ao nosso gosto. Gravemente matamos o mundo e nos marcamos na busca da perdição. Questionamos Deus que habita em nós e espera nosso reencontro. Nossos passos em Sua direção são desviados por nós mesmos reféns das nossas fraquezas. 


Nos revelamos enfraquecidos por toda parte, nos divulgamos e expomos de maneira tão brutal que ignoramos os pecados que espalhamos como realizações e conquistas que todos podem ter com o mínimo de esforço… Somos instrumentos manipulados como exemplos das vontades realizadas. Escolhemos a carne todos os dias ao invés de escolher o espírito, ao invés de escolher Deus.


Seguir nossos pecados camuflados como vontades que temos o direito de realizar é a forma mais insaciável de viver. Deus nos perdoa toda vez que nos arrependemos de coração, mas ao invés de querer viver Deus habitando em nós, seguimos querendo saciar nossas vontades sem fim desaprendendo, utilizando a fé como corda na nossa queda constante e de maneira conveniente nos afastamos e nos aproximamos quando queremos. Mas até quando vamos viver em iniquidade e nos fazer de desentendidos?


segunda-feira, novembro 23, 2020

Covidado do isolamento

 








por Rafael Belo


Hoje deve ser o décimo dia. Ou os dias se embaralharam tanto que não sei mais qual é, qual foi nem qual será... Quando será que virei Covidado? Talvez em algum momento antes de sexta-feira 13 ou no sábado 14 ou até no domingo de eleições 15, o fato é que detesto dor de garganta. Aos poucos ela veio, virou o que pareceu uma sinusite, atrás do olhos doía. Fui aos médicos CRS, UBS, UBSF, UPA e nada. Oxigenação do pulmão boa, boa pressão, bons batimentos, possível dengue, inflamação da garganta e bactéria da "inflamação ainda sem pus" no estômago. Abre bem a boca. Enfia o instrumento quase na garganta. Usa o estetoscópio em todos os pontos do pulmão…


Peço novamente exame de COVID, mesmo com outro diagnóstico. "A enfermeira já foi embora. Marquei seu teste para terça". Outro médico outro posto. Sentado distante. Receita amoxicilina por cinco dias junto com dexametasona 5 ml e o mesmo de maleato de dexclorfeniramina. Mas e o teste? "Não adianta fazer agora vai dar falso negativo". Saio desnorteado. Volto peço encaminhamento para o teste. Mesma orientação. Vou em outro posto que atende até 18h30. São 17h. "Não atende mais hoje. Não tem ninguém. Volta na terça".  Antes liga para o Disk COVID. Ocupado por horas. Atende. " Você é o número 50". Quase 30 minutos depois. "Tenente fulano de tal, Como posso ajudar senhor". Tusso muito. Várias vezes. Explico. "Só dia 28 senhor". "Não, não tem jeito antes, posso marcar?"


Sábado, 21 de novembro. Teste pago na farmácia. R$ 99,00. Depois de 45 minutos na fila para o exame, a farmacêutica manda para outra fila pagar o teste nasal que eu seria o próximo. "Chegou o paciente de antes senhor. Logo depois é o senhor". Mais 15 minutos de espera. Entro. Ouço os procedimentos. Tapo a boca com um papel. Inclino a cabeça. Lágrimas escorrem enquanto por dois minutos o cotonete específico é girado pela farmacêutica primeiro em um narina, depois em outra. "Deu positivo". Mas nem dá pra ver a marca preta direito. "É o suficiente. Quer dizer que já passou de sete dias". É só.


Ir ao CRS novamente. Consulta para pegar atestado. Pedido de remédio para tirar na farmácia o kit COVID. Faltando Azitromicina em toda o sistema público, mas sobrando nas farmácias particulares. O pior - tirando grande parte do isolamento - é a ausência de olfato. Mesmo sentido o paladar, nada de cheiro. Sempre tive sensibilidade olfativa. Na sexta 20. Esfreguei um desodorante roll on de forte odor nas narinas. Sujou todo o nariz e nada. Foi quando mais me preocupei ainda mais com meu amor grávida de seis meses. Mas a gente é otimista demais, acredita demais nas pessoas e eu ainda não acreditava assim como os médicos que me atenderam… Minha voz também quase se foi. Doía. Se esmagava para se formar na boca. Mas o silêncio do isolamento a descansou para ela não me deixar totalmente. Desde o início da pandemia este é o terceiro ou quarto teste que faço. Todos negativos, menos o último. Quantas pessoas eu não poderia contaminar e até matar se não usasse máscara, distanciamento e álcool em gel? Graças a Deus não infectei ninguém ou infectei? Talvez tenha infectado... Que Deus cure e ela tome as medicações. Não é possível um momento de descuido.  Mas quantas pessoas estão infectadas sem saber? Oremos e não nos descuidemos.

quinta-feira, novembro 19, 2020

Não houve tempo de piscar os olhos (miniconto)

 







por Rafael Belo


Foi como se céu fosse rasgado com um força brutal em um instante sem fim. Tudo ruiu. Todos caíram. Muitos sumiram. Pelo menos um membro de cada família. Mas isso, só foi descoberto dias depois. Era tanto caos quando as pessoas despertaram da queda que pensar doía e só se foi perceber as faltas no momento da reorganização da mente e dos sentimentos. Até lá se perdeu tempo e nada se sentia ou pensava.


Não se via o céu. Nada se enxergava à frente. Era uma coleção rara de esquecimento habitando nos restantes. Febre, mal-estar e dor inimaginável percorria os que restaram. Era assim que chamavam uns aos outros… Mas cada vez que pensavam em equilíbrio e em como ser justo mais fazia sentido a situação.


A mente clareava, o coração falava e tudo era possível ver. As conexões se estabeleciam. Havia reconhecimento e já não havia a pessoa ali no momento da aceitação. Mas, antes gritos incontroláveis cortavam tanta cegueira vindos de todas as partes. Eram aqueles que não aceitavam. Aqueles que falhavam no último processo. 


Só quem já não estava ali enxergava. Entendia não poder intervir. Cada um tinha seu momento de escolha. Havia lágrimas escuras da cor de um horrendo odor pairando denso, áspero e barulhento na dominação daquela terra já perdida. Era exatamente A Terra agora se abrindo com o som sangrento aos ouvidos repetindo o rasgar dos céus. Não houve tempo de piscar os olhos diante do fim iminente. 

quarta-feira, novembro 11, 2020

custeados

 





a Liberdade queimou a venda da Justiça

cruzando os braços da estátua do cristo carioca

trazendo o alto da crista

da onda afogando mágoas com palpites


despistes do desequilíbrio

queimando a vida no combustível gasto

incendiando pastos

anotado no pagar depois


apagado no estouro do gado

marcado onde ninguém notou


nota riscada da manada vendida


vencida na validade desta estrada não pavimentada

construída cheia de custos

destruída quando esquecem

cabe ao Eu ser Justo.

às 11h49, quinta, 11 de novembro de 2020, Campo Grande-MS.

+-Rafael Belo/*




segunda-feira, novembro 09, 2020

Somos injustos

 




por Rafael Belo


Eu olho ao redor e só vejo injustiças. Paro e reflito se é isso mesmo. Busco entender o que é ser justo. Leio o significado, procuro na Palavra e percebo o peso de carregar esta cruz. No mínimo ser justo é conceder igualdade a todos em tudo. Mas mais uma vez, humanos falhos que somos, não respeitamos o outro. Nem nas filas queremos ficar.


É justo você julgar alguém? É justo você não ouvir o outro? É justo não se pôr no lugar do outro? É justo cobrar algo de alguém (se esta pessoa não estiver te devendo)? Somos injustos porque tendemos, obviamente, a não enxergar o todo. Ficamos contidos na nossa visão se nem sequer querer entender as outras partes envolvidas. Seguimos cultivando rancor, raiva e frustração.


Não buscamos a Paz, buscamos a razão. Não buscamos a harmonia nem o equilíbrio, buscamos prolongar situações que até poderiam ser ignoradas. Somos criados desta forma. Poucos de nós cedem, ouvem, deixam pra lá quando necessário… Estamos desunidos. Preferimos falar causando constrangimento ou confusão a calar e esperar conversar no particular ou em outro momento. Há mais desconversa ou oportunidade de falar do que escutar e, se avaliarmos com Verdade, poucas vezes somos justos.


É justo passar no semáforo fechado sem qualquer fator que nos leve a pensar estarmos em risco de morte iminente? Ir em alta velocidade de carro vai fazer diferença no nosso atraso? Furar a fila no supermercado é justo com quem está esperando? Entrar na vaga de estacionamento que outra pessoa já estava entrando, é justo?  Ofender, gritar, agredir é justo? Só Deus é justo, nós, cristãos, assim somos considerados. Mas se não tentarmos agir com justiça sempre, quem somos? Quem seremos?

sexta-feira, novembro 06, 2020

Idiopatas

 







o silêncio não se omite

ele grita todas as intenções

nesta preguiça culposa

cheia de flores cheirosas

escondendo as plantas venenosas

se alimentando da alma das nações

deixando todo um povo sem noção pensar ter opinião

estuprando mentes e corações

parindo aberrações democrática fingindo demência ao não saber ter decência

na desigualdade e injustiça somos tão escuridão

no absurdo que mata frutos dos idiopatas. 

+-Rafael Belo/*

Às 08h36, Rafael Belo, sexta-feira, 06 de novembro de 2020, Campo Grande-MS.

quarta-feira, novembro 04, 2020

Estamos indo repetir nosso fim






por Rafael Belo


Estamos em uma sociedade culposa às avessas, ou seja, que tem intenção de fazer o que faz, mas finge demência. A injustiça reina nas brechas da lei, na imoralidade e até na amoralidade pregadas como liberdade de expressão. Os limites foram esquecidos em algum tapete perdido encostado em qualquer lugar varrido para baixo de outro esconderijo. A Justiça é minúscula e parcial diminuindo todos os que deveriam - por lei ou por consciência - serem iguais. A verdade é que tudo feito às escondidas antes, agora é exposto com orgulho.


É vergonhosa a desigualdade e a exclusão ensinada longe de quaisquer faces do Amor. O medo está mais forte na atuação dos nossos governantes, na imposição dos líderes ou simplesmente daqueles que falam enquanto outros calam. As conquistas da humanidade sempre chegaram atrasadas no Brasil, mas o retrocesso sempre chegou antes do entendimento dos acontecimentos. Assim, na hora das injustiças brilhamos em descaso, covardia e humilhação. Inventamos um crime. Estupro Culposo jamais será aceito. 


A legalização de tudo no Brasil depende de quem privilegia.  O voto feminino aconteceu em fevereiro de 1932, mas somente para as mulheres casadas e com autorização do marido, viúvas e solteiras com renda própria estavam previstas no Código Eleitoral, baseados no Estatuto da Mulher Casada, onde a mulher só podia fazer o que o marido permitia. Apenas em 1934 acabaram todas as restrições e em 1946 a obrigatoriedade do voto alcançou plenamente as mulheres. Nesta época já haviam passados 12 anos da única e primeira mulher eleita deputada federal, a médica, escritora e pedagoga Carlota Pereira de Queirós. Ela também foi a única mulher participante da Assembleia Nacional Constituinte (responsável pela Constituição de 1934).


Ainda assim, só na Constituição de 1988 os direitos das mulheres ficaram realmente garantidos. Esta repressão patriarcal machista voltou sem precedentes lembrando a filósofa existencialista, Simone de Beauvoir. No livro O segundo Sexo, Simone de Beauvoir diz:  Em verdade, a natureza, como a realidade histórica, não é um dado imutável. Se a mulher se enxerga como o inessencial que nunca retorna ao essencial é porque não opera, ela própria, esse retorno. Os proletários dizem" nós ". Os negros também. Apresentando-se como sujeitos, eles transformam em" outros "os burgueses, os brancos. As mulheres - salvo em certos congressos que permanecem manifestações abstratas - não dizem" nós ". Os homens dizem" as mulheres "e elas usam essas palavras para designar a si mesmas: mas não se põem autenticamente como Sujeito.


Somos sujeitos aos desmandos e injustiças, mas a fé sim salva. Fé e esperança com atitude e posicionamento na realidade. Então, ainda há quem se escore pela diferenciação de tratamento entre gêneros na Bíblia. Basta lê-la para saber ser ao contrário. Em Deuteronômio 16:19 está escrito: "Não torcerás o juízo, não farás acepção de pessoas, nem tomarás suborno, porquanto o suborno cega os olhos dos sábios e perverte as palavras dos justos." Sabemos bem qual caminho tomamos e para onde tanta desigualdade e humilhação nós leva. Se não sabemos, já chegamos ao lugar onde todos estão se permitindo ir.

segunda-feira, setembro 28, 2020

Escute seu coração

 





por Rafael Belo


Nós deixamos de escutar nosso coração. Passamos a seguir impulsos e pensamento guiados, conduzidos, viciados pela repetição. Não há só inversão de valores engasgada na garganta, mas inversão de prioridades e de criação com produto. Quem cria mentiras as torna verdade e as verdades as faz parecer mentiras. Entre nós os maus sentimentos, os maus pensamentos e falas com atitudes negativas proliferam como ervas daninhas


O caminho da Verdade foi pintado de ruína. Esconderam a Liberdade e Salvação. Discursos e posicionamentos de perdição foram introduzidos na nossa mente dourados em um altruísmo que é egoísmo tudo acobertado em inversão. Quem não lê, quem não busca respaldo da fé, chafurda neste mal. A dúvida e o tormento são as dores manipuladas arrancando a carne a unha enquanto o espírito grita pelo despertar na alma, coração e corpo. Trindade da união, da unificação onde um vai o outro está. 


Estamos onde? Este caos organizado pela dúvida, confusão e tormento nos faz seguir o primeiro a focar soluções em nós mesmos, no eu… O princípio é partir de nós. Arrumamos a casa, ou seja, nossos problemas e dúvidas para poder ajudar, mas precisamos começar por acreditar em nós mesmos. Fé em Deus, fé em nós e fé no próximo. Quaisquer notícias falsas e mentirosas são desvendadas, reveladas, descobertas, desmentidas buscando a fonte. Ser conveniente por concordar com o que está sendo dito é se enquadrar, é se associar, se igualar as injustiças e males consequentes. 


Se textificarmos e testificarmos toda informação que chega até nós não erraremos o menos possível. Vamos errar sim porque somos humanos e falhos. Quantas vezes deixou de ouvir seu coração e algo que poderia ser evitado aconteceu? Fui tantas vezes surdo a ele. Há tempos não sou mais. Já pensou que pode ser Deus falando contigo no seu coração? Tudo o que aqui foi escrito está lá em todo o capítulo de Provérbios 7 e Segundo João 2 onde nossa atual realidade está retratada. Quando reflito antes de agir penso o que Deus diz sobre isso e aguardo a resposta que sempre vem.

sexta-feira, setembro 25, 2020

Canção Íntima (miniconto)

 










por Rafael Belo


Aos gritos parei o trânsito na manhã. O fluxo de buzinas esperado não aconteceu. Não me xingaram. Não me cantaram. Desviavam apenas… Eu não falava após os gritos. Só olhava para as galerias fluviais abaixo de nós. Aquelas águas fluindo esquecidas debaixo da cidade. Apesar de toda a poluição sonora, eu ouvia e ainda ouço aquela correnteza.


Ela me chamava. As águas me chamavam. Só de olhar eu corria com ela. Só de olhar eu estava totalmente imersa nas águas correntes. Minhas correntes foram arrebentadas. Saí do estado hipnótico da rotina cansativa de acordar se matar de trabalhar dormir e entre isso pagar contas, arrumar uma forma de esquecer, usar sujar lavar roupas e repetir, repetir, repetir…


Quando percebi a leveza da gratidão, voei e neste instante sigo mergulhada nas galerias das águas que me limpam e me lavam até a alma. Aqui, imersa, me sinto imensidão porque se dizer imensa começo uma dieta no instante seguinte… Enfim me sinto O Todo e me espalho sem parar. Não há palavras para ouvidos absorverem, todo o diálogo vem do coração com a alma. Ninguém pergunta nada.


Em alto e bom som o silêncio despolui a cidade, despolui as pessoas... Eu sou instrumento deste Som do Coração. Uma Canção Íntima particular de cada um. Única. Nesta constante imersão sou um convite vivo. Todos são quando sãos ou na consciência da loucura constatada pela ciência por acreditar no que olhos sem fé, sem Amor derivado do Philautia (por nós mesmos), além do Pragma (dedicação ao bem maior), diferente do Ludus (por diversão, por prazer), superado do Eros (romance, paixão e desejo), consegue ser maior que Philia (por irmãos e amigos) e avançado do Storge (incondicional para pais e filhos). É o Ágape (incondicional para todos os seres vivos com conexão com a natureza, a humanidade e Deus) manifestado em nós, testemunhas de Renascimentos.

quarta-feira, setembro 23, 2020

Elo Eterno

 






aquece o sol a face

olhos fechados para sentir

um momento pessoal

refugiado no particular 


não há seres devastados no abandono

neste imediatismo precoce

na falsa crença da incapacidade


no nosso nítido coração habita

a mais divina pulsação


revela nossa ligação de cor no real envolvimento de nunca estar só.

+-Rafael Belo/*

+às 07h29, quarta-feira, 23 de setembro de 2020, Campo Grande-MS+