por Rafael Belo
Lá estava ele sentado
no coletivo. Dormindo de olhos abertos. Bem mais distante. Onde nem a
velocidade da luz pode alcançar os pensamentos. Depois ele estava na janela do
trabalho tão longe quanto. Talvez ainda mais. Quem sabe. Ele andava silencioso.
Quem visse seus olhos, vagos e dribladores, diriam estarem lotados e
concentrados. Diriam: “Briel está sentado nas nuvens tentando se equilibrar e
dividir todo seu peso para a nuvem não passar e se desmanchar”. Se só soubessem
seu sobrenome também diriam ser trocadilho e comparação. Ele é Briel Nuvens e
Briel Só queria voltar para casa.
Havia esquecido ter
vindo de carro. Gostava de dar caronas, mas ultimamente a violência andava
tanta... Preferia ser encoxado no ônibus. Sentir o calor do povo, daquela união
forçada, aquela situação de aperto sentida por todos. Aí ele poderia dividir. Mesmo
sendo assediado. Não só por mãos espertas e partes baixas molhadas cutucando...
Tinha aquela mistureira de sons e a
psicologia do busão no falatório e nos conselhos, palpiteiros... Também era
considerado se sentir como gado carregado, mas... Mas... Mas todos dividiam
aquilo. Mesma hora todo dia. Como um grande família... De desconhecidos. Ida e
volta, sempre igual.
Outra coisinha
gostosa de dividir era este aperto. Um aperto no peito. Uma falta de lugar para
segurar e aquela condução correndo a vontade no caos do trânsito do salve-se
quem puder. Briel agradecia não ser mulher e ter de passar por mais e mais
humilhações. Por isso, queria voltar para casa. Ir para estrada sem avisar e
amanhecer lá. Comida de mãe. Conselhos do pai. Conversa das irmãs. Doces de vó.
Causos do vó. Dengo da tia. Lembranças dos primos. Todos aqueles pequenos
conflitos de família... A união. Mas queria dizer chega. Ninguém é de ferro afinal. Para isso tinha o violão e as
músicas. Armas brancas de quase todos na família.
Já tinha feito as
vontades inconscientes de muitos amados dele... Foram anos tocados. Agora seriam
revividos com canções. Mas só depois dos abraços, dos beijos, de todo o carinho
familiar. Ele não precisava de apoio ou compreensão. Ninguém precisa. Mas como
é fato, todos querem. Nem sempre a razão tem razão. Isto lhe dava força e ele
queria também a força da família. Tudo imaginado do alto da suas Nuvens. Briel
ouvia os quatro ventos e eles sopravam em brisa enquanto o sol, mais uma vez,
dourava a pílula do fim. Terminava outro dia. O ritmo era de todas as folhas no
mesmo galho chacoalhando e os pássaros acompanhando em diversos tons. O som era
de sorrir e de reunir a família. E lá ia Briel... Juntá-la.
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