A
morte nunca está nos nossos planos (miniconto)
por Rafael Belo
Guto já vinha se
despedindo. Mas não tinha consciência disso. Destas coisas da vida, disfarçadas
até de si mesmo. Um traquejo preparando a alma para um novo caminho. Para algo
não entendido e às vezes nem conformado. Mas, fato. Como é verdade afirmar os conhecimento das suas cachorrinhas... Guto falava da morte como o
realista de carteirinha. Porém, nunca achamos... Por mais ao contrário dito...
Nossa vez ter chegado. Nosso número ter sido sorteado e a preparação nem está a
caminho, mas acontecendo à toda velocidade, mesmo se esta correria demorar
anos... A morte nunca está nos nossos planos.
Mas um mês antes de
morrer, Guto já vinha indo. Já mais não estava... Claro, ainda havia uma luz,
um reflexo dele, mas ele mesmo já estava com as malas das lembranças prontas. Foi
fazendo seu gosto, aos poucos. Encontrando todos ao seu modo. E assim, com tudo
dito provisório, mostrado transitório... Ainda fica aquela linha de esperança malcriada,
presa com voracidade sem entender o tempo e tudo ter o seu próprio. Guto achava
assim: Nem quem escreveu sobre o tempo
sabe sobre o tempo de fato, somos todos
aquele sapato velho do Roupa Nova... Somos imbecis e fim!
Então começou a cantar
esta mesma música lembrada: “Você lembra, lembra naquele tempo eu tinha estrelas
nos olhos, um jeito de herói, era mais forte e veloz que qualquer mocinho de
cowboy... Você lembra, lembra eu costumava andar bem mais que mil léguas pra poder
buscar flores de maio azul e os seus cabelos enfeitar...” E não era assim seu
eu mais jovem. Mas era outono e assim como as folhas, os corpos caem e as almas
nascem de novo. Vestimos novas roupas e vemos lentamente as árvores mudando...
Quando abril chegou,
Guto já havia ido alegrar outros caminhos. Não há quatro dias como nós, tolos,
pensamos, mas nos últimos 45 dias, aquele Belo homem já não estava mais ali,
nem lá... Ele queria ir para casa. Já tinha ido. Já começava a brincar, rir e
fazer piadas de seu novo caminho. Só ficara sua casca. Guto tinha sua própria
lista de afazeres particulares. Ele não ficaria para sofrer e fazer sofrer. Sua
missão fora cumprida. Fez o mundo mais Belo, o Guto, tinha seus próprio planos
porque a morte... Bem, a morte também não estava nos seus planos.
Um comentário:
Lindo filho .........seu pai já se despedia.....cansado das dores não reveladas......triste por ouvir minhas mágoas profissionais nunca apagadas....parou aquele coração que não guardava ressentimentos....não tive um. Último abraço só um olhar...que parecia dizer fuioiiii....te amo e pronto
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