segunda-feira, abril 28, 2014

Plantando sementes, colhendo raízes


por Rafael Belo

Largar os calçados na porta. Deixá-la aberta e com os pés descalços chegar em casa. Gosto das minhas extensões: celular, tablete, relógio, pulseira, boina, calçados e roupas. Mas, no lar doce lar prefiro ter a nudez deste itens. Não fico nu, mas livre. Se saísse com tamanha liberdade nas ruas seria preso e agredido. Não necessariamente nesta ordem... Roupa de baixo só em casa, na avenida durante o carnaval, nas piscinas e praias. E apesar de me incomodar ficar, pelo menos, metade do dia coberto ainda tenho 50% do tempo para me despir, para a desconstrução.  Porém, listar meu ano, em possíveis afazeres é o cúmulo dos meus incômodos.

Gosto de surpresas. Não que eu não cumpra minhas metas, mas estou sempre em evolução e não gosto de nada me limitando. Por isso, acredito e pratico a desconstrução. Só assim consigo construir e ver os pedaços e as diversas formas de chegar até certo ponto. Por outro lado, vejo como a mãe da incomodação as fórmulas prontas, a visualização da realização de projetos... Esta tal de lista... Este tal de deu certo com fulano, beltrano, cicrano, vai dar certo com você também... Este tal eu sei... Criam uma zona de conforto, uma área de segurança inexistente.  Vai daí a quantidade de acidentes diários...  

Assim vai daqui uma lembrança de sábado e ainda dominando meus pensamentos. O tal de ultimamente não paro de pensar no Mágico de Oz. Principalmente no diálogo entre Dorothy e o Espantalho: - Espantalho, como você é capaz de falar se não tem um cérebro? - muitas pessoas sem cérebro falam um bocado, não acha?!... Onde estão nossas raízes? Todo o passado e nossas referências espalhados nos nossos poros ligando nossa mente ao nosso coração? Precisamos nos conectar com quem somos e espalhar nossas sementes. Temos de ter o encaixe antes de tudo, antes da sociedade, com a gente, com a nossa família. Aí podemos calçar aquele par de conforto para caminharmos e tirarmos para sentir o chão, então a porta fica aberta e a luz entra só para encontrar nossa própria luz. Mas para tanto é preciso se soltar, rasgar as listas, parar com as promessas e com a futurologia porque investir na própria nudez é estar vestido com todas as qualidades oferecendo raízes.



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