por
Rafael Belo
Largar os calçados na porta. Deixá-la
aberta e com os pés descalços chegar em casa. Gosto das minhas extensões:
celular, tablete, relógio, pulseira, boina, calçados e roupas. Mas, no lar doce
lar prefiro ter a nudez deste itens. Não fico nu, mas livre. Se saísse com
tamanha liberdade nas ruas seria preso e agredido. Não necessariamente nesta
ordem... Roupa de baixo só em casa, na avenida durante o carnaval, nas piscinas
e praias. E apesar de me incomodar ficar, pelo menos, metade do dia coberto
ainda tenho 50% do tempo para me despir, para a desconstrução. Porém, listar meu ano, em possíveis afazeres é
o cúmulo dos meus incômodos.
Gosto de surpresas. Não que eu não
cumpra minhas metas, mas estou sempre em evolução e não gosto de nada me
limitando. Por isso, acredito e pratico a desconstrução. Só assim consigo
construir e ver os pedaços e as diversas formas de chegar até certo ponto. Por outro
lado, vejo como a mãe da incomodação as
fórmulas prontas, a visualização da realização de projetos... Esta tal de
lista... Este tal de deu certo com fulano, beltrano, cicrano, vai dar certo com
você também... Este tal eu sei... Criam uma zona de conforto, uma área de
segurança inexistente. Vai daí a
quantidade de acidentes diários...
Assim vai daqui uma lembrança de sábado
e ainda dominando meus pensamentos. O tal de ultimamente não paro de pensar no
Mágico de Oz. Principalmente no diálogo entre Dorothy e o Espantalho: - Espantalho,
como você é capaz de falar se não tem um cérebro? - muitas pessoas sem cérebro
falam um bocado, não acha?!... Onde estão nossas raízes? Todo o passado e nossas
referências espalhados nos nossos poros ligando nossa mente ao nosso coração?
Precisamos nos conectar com quem somos e espalhar nossas sementes. Temos de ter
o encaixe antes de tudo, antes da sociedade, com a gente, com a nossa família. Aí
podemos calçar aquele par de conforto para caminharmos e tirarmos para sentir o
chão, então a porta fica aberta e a luz entra só para encontrar nossa própria
luz. Mas para tanto é preciso se soltar, rasgar as listas, parar com as
promessas e com a futurologia porque investir na própria nudez é estar vestido
com todas as qualidades oferecendo raízes.
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