sexta-feira, abril 04, 2014

A morte nunca está nos nossos planos (miniconto)



A morte nunca está nos nossos planos (miniconto)
por Rafael Belo

Guto já vinha se despedindo. Mas não tinha consciência disso. Destas coisas da vida, disfarçadas até de si mesmo. Um traquejo preparando a alma para um novo caminho. Para algo não entendido e às vezes nem conformado. Mas, fato. Como é verdade afirmar os conhecimento das suas cachorrinhas... Guto falava da morte como o realista de carteirinha. Porém, nunca achamos... Por mais ao contrário dito... Nossa vez ter chegado. Nosso número ter sido sorteado e a preparação nem está a caminho, mas acontecendo à toda velocidade, mesmo se esta correria demorar anos... A morte nunca está nos nossos planos.

Mas um mês antes de morrer, Guto já vinha indo. Já mais não estava... Claro, ainda havia uma luz, um reflexo dele, mas ele mesmo já estava com as malas das lembranças prontas. Foi fazendo seu gosto, aos poucos. Encontrando todos ao seu modo. E assim, com tudo dito provisório, mostrado transitório... Ainda fica aquela linha de esperança malcriada, presa com voracidade sem entender o tempo e tudo ter o seu próprio. Guto achava assim: Nem quem escreveu sobre o tempo sabe sobre o tempo de fato, somos todos aquele sapato velho do Roupa Nova... Somos imbecis e fim!

Então começou a cantar esta mesma música lembrada: “Você lembra, lembra naquele tempo eu tinha estrelas nos olhos, um jeito de herói, era mais forte e veloz que qualquer mocinho de cowboy... Você lembra, lembra eu costumava andar bem mais que mil léguas pra poder buscar flores de maio azul e os seus cabelos enfeitar...” E não era assim seu eu mais jovem. Mas era outono e assim como as folhas, os corpos caem e as almas nascem de novo. Vestimos novas roupas e vemos lentamente as árvores mudando...

Quando abril chegou, Guto já havia ido alegrar outros caminhos. Não há quatro dias como nós, tolos, pensamos, mas nos últimos 45 dias, aquele Belo homem já não estava mais ali, nem lá... Ele queria ir para casa. Já tinha ido. Já começava a brincar, rir e fazer piadas de seu novo caminho. Só ficara sua casca. Guto tinha sua própria lista de afazeres particulares. Ele não ficaria para sofrer e fazer sofrer. Sua missão fora cumprida. Fez o mundo mais Belo, o Guto, tinha seus próprio planos porque a morte... Bem, a morte também não estava nos seus planos.


Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo filho .........seu pai já se despedia.....cansado das dores não reveladas......triste por ouvir minhas mágoas profissionais nunca apagadas....parou aquele coração que não guardava ressentimentos....não tive um. Último abraço só um olhar...que parecia dizer fuioiiii....te amo e pronto