sexta-feira, maio 29, 2015

Caráteres e caracteres


por Rafael Belo
“A síndrome de vira-lata sofre de esquizofrenia e oscila por várias raças caninas até a síndrome de Mastim Tibetano, ou seja, varia de valor nenhum a 1,5 milhões de reais. De pobreza brasileira a status social na China...” é interrompido o pensamento de mais um anônimo por uma gritaria familiar a qual só pode ser identificado: “Nunca nada é bom o suficiente para você”, esbraveja Leozinho desrespeitoso para a mãe.

Esta superprotetora escolhendo e proibindo lugares e amigos de Leozinho, o cobrando o tempo o tempo todo resultados do investimento feito durante longos e briguentos 17 anos. Não teve carinho, atenção, presença, exemplo... Então, em quais esconderijos estavam a vida escolhida dela naquele filho bonzinho em dívida dos “pedidos” diários de sucesso?

Recolhendo as máscaras do chão eles se atacaram. Filho único contra mãe abandonada. Deu choradeira e rebeldia nas possíveis etiquetas na nunca. Rostos dos mais variados na mesma pessoa representavam uma paralisia social diante dos pensamentos sobre casais do mesmo sexo, moradores de rua, cidadãos sem cidadania forçados a viver em paupérrimas periferias, igualdade entre homem e mulher, respeito ao próximo... A paralisia transitava entre o sorriso e o ódio eterno nos lábios de Monalisa.

Escorregava da generosidade e simpatia para a antipatia e a proibida palavra preconceito. Uma fila de intermináveis 45 minutos de expressões para disfarçar a quantidade de julgamentos recheados das mais variadas camadas sociais. Leozinho desculpado pela adolescência e pelo “resultado” da criação, a mãe desculpada pelo duro trabalho de fazer tudo sozinha. Mas, a linha tênue sempre arrebenta e faz as cicatrizes maquiadas aparecerem.

O choro borra tudo e turva a visão insegura nas fissuras dos caráteres misturados com os caracteres e no fim um é o outro no desabafo revelador. O anônimo divagador volta a pensar e pensa na falta de caráter de alguns mundos, olhando a interminável cena... Não há caráter nem em mãe nem em filho, quem dirá... Onde Leozinho (neste momento todos sabem o nome do adolescente) moldaria seu caráter, seus valores (não, não... nada de cifras).

Assim Leozinho vira um smile e sua mãe outro. Caracteres virtuais e nada mais. O resto é não sabe de nada e o oposto também é gritado: “Está enganado filhinho. A juventude é supervalorizada. Está redondamente enganada. Vocês são novos demais e um dia irão entender!”

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