Por Rafael Belo
Mais uma sexta-feira
cansada se levanta cheia de esperança (que
o fim de semana seja bom e longo?), mas no dia de rodízio de seu carro o
ônibus é obrigatório por questões práticas. Olivia Oito se incomodava com os cutucões,
puxões, empurrões, pisadas e ficava fora de si e raivosa com as encoxadas. Bolinada
intencionalmente ou não, não importava, ela tinha aversão ao toque e, ingrata
como todos, xingava pela falta de gentileza e gratidão.
Olhava muitos ali,
atrasados como ela, mas totalmente despreocupados. Os poucos acordados avisavam
por whatts do atraso enquanto se isolavam nos fones de ouvido, mas sempre tinha
os chatos falando ao celular tudo que os outros não querem escutar e todo o
ônibus escutava. Olivia observava com uma mistura de tédio e ferocidade
assassina constrangendo impiedosamente quem quer que fosse.
Quando era tocada se
contorcia como uma borboleta voltando a ser lagarta no óleo fervente. Segurava-se
para não gritar cada xingamento repassado repetidas vezes na mente. Mas, os
roncos a enlouqueciam fervorosamente mais... Como era possível dormir desta forma?!!!... pensava Olivia da forma
mais indignada. Ela estava em pé e encarava compulsivamente quem dormia
largado. Se alguém se atentasse ao rosto dela imaginaria uma dor lancinante a
torturando.
À direita dela uma
cabeça pendia quase encostando nas costas e à esquerda era um queixo colado no
peito babando. Altos roncos de estudantes bem
jovenzinhos. Muitas paradas depois, conseguiu bufante e mal-encarada sentar
resmungando a meia altura... Dormiu quase de imediato roncando alto como um
chaleira e balançando em toda sua antipatia rumo ao ponto final. Obviamente ela
não iria trabalhar naquele dia, mas estava tranquila sonhando com um mundo onde todos a agradeciam pela liberdade de não agradecer nada, apesar da gentileza.
Um comentário:
Parabéns é um retrato fiel do dia a dia do brasileiro...muito bom!msob
Postar um comentário