quarta-feira, maio 27, 2015

Mais um dia de trabalho




por Rafael Belo

Neuróticos histéricos anônimos se reuniam diariamente, afinal tinham apenas uns aos outros exatamente pelos nervos à flor da pele e a histeria completa. A desordem generalizada não interfere nos pensamentos deles. Irritados com tudo, mas pensando racionalmente. Agitados, passíveis, intranquilos, porém há a paralisia, a cegueira, a surdez, a mudez, enfim a nudez.

Todos os moldes e regras sociais saem anonimamente pela língua destravada como um vírus transmitido pelo ar contaminando o mundo exalando suas neuroses e histerias. Tornam-se anônimos inconscientes difamadores. Na alvorada, ao invés de debandar, os pássaros silenciam como cada som surgindo manhã após manhã agradecendo mais uma oportunidade de recomeços. Apenas Luna Luanda desperta ao pisar em um rosto caído...

Solta um grito longo e capaz de estilhaçar taças de cristais legítimos, mas comum e entediante para neuróticos histéricos. Trombando e sendo coberta de indizíveis impropérios ainda não registrados por aqueles que ainda podiam falar. Desequilibrada corta cada vez mais as solas dos pés. Há rostos espalhados por todos os lugares...


Não há grama, terra, asfalto só faces etiquetadas com preços sobre preços cada vez mais altos, marcados com apelidos pejorativos, preconceitos linguísticos, classicistas, literais, visuais, capilares, gestuais, vestuários, comportamentais... Depois de um tempo sendo esculhambada os ainda falantes perderam este sentido. A paralisia afetou o último estágio e a língua parou....

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