por Rafael Belo
Desabou o homem em uma queda seca e catatônica. Um baque surdo-mudo levando ao susto todos os presentes. Chico se debatia em seu silêncio e roubava o silenciar dos outros. Doía reconhecer sua ingratidão e desgraça. Então, insone, era o monstro da noite, os ruídos do prédio, o tédio do sonâmbulo culpado demais para dormir.
Arrastava sua corrente, rangia os dentes, batia portas e insatisfeito gritava. A noite não era de ninguém e silenciosa como um abismo ecoava seu som animal encurralado e ferido pelos sonhos terríveis dos outros moradores. Era impossível saber a origem dos sons e Chico sabia estar ruminando suas escondidas emoções.
Saiu no frio sem roupas depois de uma semana sem comer. Era pura água e náuseas estomacais. Toda vez Chico sabia da sua inaptidão para o amor. Falava coisas belas e as cantava, até aconselhava bem, mas como muitos, fingia não precisar dos próprios conselhos e sua forma de castigo era se privar das suas vontades...
Traído por si mesmo chorou como uma garotinha abandonada pela mãe por desamor. Fez-se oceanos de insônia com suas lágrimas doloridas e sinceras e se esvaziando voltou a se preencher, mas nas ruas paulistanas tão “pedindo pelo pior” não voltou para casa e toda sua família acreditou que Chico cumprira finalmente sua promessa de sumir... Enquanto isso, os meses devorariam os vermes conhecedores íntimos da aparência irreconhecível dele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário