Por Rafael Belo
Então
é aqui que os cães se escondem quando fogem de casa? Viram cachorros de rua e,
naturalmente, se tornam amigos dos mendigos... Pensou
o pequeno Luís incrivelmente coerente no português. Mas Luisinho era destes geniozinhos
que mal tinha entrado na pré-adolescência e não demonstrava nem a inteligência
nem seu ódio pelos diminutivos fofinhos.
Saiu aquela manhã silenciosamente
escondido em suas certezas de sexta-feira. Como se fosse para a escola, mas
contrariado com sua passividade, como todo gênio, estava prestes a libertar
suas vontades e eus mais obscuros. Já esfregava as mãos de ansiedade, a tensão
no rosto já relaxava com um tenso sorriso assustador repelindo as pessoas como
um ímã opositor.
Luisinho era todo
satisfação e finalmente parou de se conter gargalhando furiosamente a ponto do
motorista do ônibus o fazer descer sob nenhum protesto. Não suportava ver a
alegria dos moradores de ruas com seus cachorros foragidos, então foi passando
a mão em cada cão, incrivelmente sem nenhum protesto dos mendigos acostumados a
perder, mas ninguém reclamava porque algo exalava daquele olhar e daquele
sorriso...
Quem vive sem um local
para dormir sob um teto acolhedor sabe exatamente o significado exalando de
Luisinho: eram os limites quebrados da loucura. Certa insanidade apontando a
capacidade imediata de matar ou morrer rascunhados no olhar e no sorriso. Ele se
chamava ironicamente de “o” Injustiçado. Logo ele (logo eu) tão inteligente, podendo adquirir tudo e agora livre, mas
com tamanha capacidade de raciocínio ele sabia necessitar de uma paz mais
elevada e, por isto, partia. Apenas um cachorro o seguia para o isolamento onde
nada chocaria com sua órbita colidida.
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