segunda-feira, maio 04, 2015

Órbitas em colisão


por Rafael Belo

Os fogos estouram lá fora como a ilusão da alegria de domingo de jogo, os cães se acuam com medo mortal das explosões antes que a segunda-feira chegue decretando o fim do feriadão e o início de mais uma semana de trabalho. Bom, é segunda-feira na expectativa de novas manifestações, novos congestionamentos e mais deseducação espalhadas no círculo viciante da vida.

Viciosa maneira canina de tentarmos morder nossa própria cauda e girarmos, girarmos em rotação e translação seguindo um sistema geográfico de posicionamento fora de órbita na lógica sem argumento, sem profundidade e mesmo assim nos tornando uma areia movediça de palavras erradas e gestos repetidos em um enlouquecedor déjà vu.

Provavelmente já vimos e fazemos e o faremos de novo, mas seguimos nos movimentando desesperadamente e afundando para uma morte medíocre. Não paramos para prestar atenção no outro e ajudamos a empurrá-lo mais para baixo enquanto há quem o empurre em nossa direção. Baste ver o ônibus nos horários de pico, trens e metrôs em dias de manifestação...

Mesmo sabendo que as portas não fecham enquanto alguém estiver nelas, há empurra-empurra desnecessário e uma total descortesia. Falta gentileza nas pessoas, sobra medo e estamos empanturrados de egoísmos. Achamos nossa dor ser maior, nossa reclamação ser mais justa, nossa pressa ter justificativa e se todos, ou a maioria, pensamos (pensa) assim, sabemos porque as órbitas só vivem em colisão.

Um comentário:

Anônimo disse...

'achamos nossa dor maior"......o egoísmo nos faz pensar e agir como únicos na rotação da vida....infelizmente.....parabéns pelo texto. Mosb