sexta-feira, maio 12, 2017

Na praia cinzenta (miniconto)




por Rafael Belo

Estava pinicando. Começava a coçar. Havia algo minúsculo... Aliás, vários “algos” caminhando no meu corpo. Mas, não era ruim... Tinha um cheiro de orvalho e tantas estrelas intensas naquele céu me impactando no instante do abrir dos meus olhos. Era um gramado gracioso. Fiz um anjo de grama. Pode rir. Não sei como é fazer de neve e não sei se teria coragem de congelar minhas costas e todo meu corpo. Brrrrr. Fiquei lá tentando me lembrar da noite épica responsável por me deixar sozinha lá e não consegui. Estava só e assim fiquei. Não conseguia encontrar uma forma de parar de olhar para aquele cosmos magnífico. Sorria por isso.

Eu via tudo cinzento e nebuloso, sabe? Como em certos sonhos de premonição ou de interação com... Com... Sei lá. Com quem já morreu... Sinistro falar assim. Acaba com qualquer rolê dos medrosos de plantão. Ao mesmo tempo eu pensava quem não sonha colorido? Eu, pelo visto...! Se bem... Não era de lembrar dos meus sonhos mesmo. Não posso afirmar nada, no entanto eu me arrepiava conforme ia tomando consciência de tudo ao meu redor, mas ainda assim não tirava os olhos das estrelas e tinha outro motivo além da beleza. Eu precisava sair deste transe.

Com muito pesar na alma e um peso incompreensível no coração, me sentei. Percebi uma praia focando bem perto. Esfreguei meus olhos até as lágrimas escorrerem. Não adiantou as gotículas marítimas estavam suspensas no ar como pequenas pausas entre o som das ondas indo e vindo em contradição. Meu nome estava na areia e pegadas o cercavam. Só havia pegadas ali... Estava tudo estranho de qualquer maneira, então fui até lá e meu nome virou meu apelido e as pegadas seguiram de par em par apagando seus rastros até a maré. Lali Láctea...


Estava meio-dia e meia-noite, mas pôr do sol e todas as estrelas dividiam o espaço. O céu era uma raridade. Quando um estalo na minha cabeça clareou minha visão e a névoa toda se dissipou carregando o som agudo da minha mente com ela. Estrelas e gotas eram meus sonhos. Lembrei-me astronauta. Eu fui a primeira. Um sonho recorrente sempre me impulsionando a novos planetas. Este é meu mundo... Quando sonhei, despertei para este sonho adormecido. Fechei os olhos e voltei a dormir. Precisava me encontrar novamente naquela praia cinzenta.

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