sexta-feira, maio 05, 2017

Quantos? (miniconto)




por Rafael Belo

Todos se foram. Deixaram-me aqui no fim do jogo. Eles pararam de jogar. Eu não queria ter começado, mas me viciei neste lance de experimentar. Não ficar presa a uma relação e poder entrar em todas as paranoias destes homens no fundo sempre querendo controlar, se dar bem... Em algum momento há a queda, não há quem fique para sempre em pé. O jogo sempre foi assim, mas bem na minha vez mudaram as regras... Nunca aceitaram mulheres jogarem também, porém fomos nós as criadoras do jogo e enquanto os homens se achavam artilheiros pegadores, nós colecionávamos os troféus. Quantos aqui sairão reabilitados? Quantos vão se acostumar à monogamia de verdade?

Queria minha liberdade e acabei em mais uma prisão. Certo! Eu tenho a percepção deste jogo também ser um ciclo de correntes. Digo isso alto e entre dentes... Acabo com raiva de mim. Claro! Seria mais fácil pegar um carinha qualquer e sair do foco das fotos, dos boatos, das fofocas, mas só o começo vai bem depois desanda a mesmice, aos mesmos comportamentos com variação e personalidades criativas para desculpas... Eu quero ser o sol, principalmente quando nasce e se põe, mas assim me sinto escondida e agora... Abilie Ariete na clínica Seja Sincero? Não, não, não, nãonãonão... Sempre fui sincera e honesta. Só não dizia nada além do necessário... Falando assim... É... Admitir é um dos passos!

Faço meu querer meu foco. Toco os matches querendo se apegar quando diziam não. Os testes só provam o contrário: eles querem exibir um mulherão. Depois se enciumam dos olhares, das invasivas cantadas, das abusadas investidas... Inventam absurdos quando os rejeitamos. Ok, vamos! Não somos santinhas, também inventamos. Também queremos ter aquele coringa para voltar quando nos sentimos mais sozinhas, mais vulneráveis, quando choramos... Somos instáveis, bom digo por mim, no entanto eles são ainda mais... Estátuas de sais, mas nem nós nem eles somos vitais. Nenhum de nós, não mais...


Se for admitir, só somos essenciais quando nos damos importância e damos importância para alguém. Exagerei muitas vezes, normal... Não é? Admita também...! Vai! Quem não quer ter o poder de escolher? Se há problema com rejeição... Trabalho para não ser rejeitada, mas às vezes falha e dói... Como dói! Quantas pessoas estão aqui nesta clínica? Meu Deus! Vão embora! Não podem me obrigar a sair do meu quarto. Não vou interagir com mais ninguém. Só tem homens aqui! Onde estão as mulheres? Onde?! Só me digam!! Ei! Ei! Ei! Mas, não me deixem só! Não precisa disso! Quantos dias terei de ficar aqui? Quantos? Quantos? Alguém me responda, por favor... QUANTOS!??

Nenhum comentário: