por
Rafael Belo
O
inverno não veio de repente. Aos poucos o céu azul estava cinza e então chumbo.
Pesado e denso como as coisas palpáveis deste tempo. Casacos e adereços de frio
ainda estavam perdidos em algum lugar do guarda-roupa, portanto, seria um dia
de tremer e reclamar de Campo Grande sendo Campo Grande. Mas, Eu, Dayni falo
dos caldos, dos vinhos, da quantidade de roupa possível de usar nesta estação,
da quantidade de casacos e cobertores arrecadados para impedir a morte por
hipotermia de moradores de rua ou doenças para quem não tem como se esquentar. Até
me bagunçarem toda.
Virei
falsa para alguns, para outros chata, ainda têm aqueles me atacando, me
questionando e eu... Bem, eu rio, gargalho, queda d’água, cascata, cachoeira,
afinal não vou me preocupar, me importar, vou pelo contrário: desimportar. Aliás,
é interessante como os norte-americanos traduzem esta nossa palavra: de-strees.
Eu vejo bem isso: sem estresse. Ah, não. Não vou permitir inventar problemas. Não
vou colaborar com ruindades e maledicências. Sou perfeitamente decente e capaz
de continuar. Tenho todos os meus membros intactos e ainda posso chorar e
gritar. Mas, estou aqui toda bagunçada. Não
falo da aparência e sim do meu interior ou aquele quem ele foi.
Tudo
depois de um buraco. Humm... Ok! Dezenas deles. Saia de um entrava em outro,
saia de um entrava em outro e assim foi até... Bem, eu ia explodir uma hora ou
outra e explodi. Bem O Rappa, sabe. Mas, não consegui recolher meus pedaços
todos viram e na voracidade de dizerem estarem certos sobre o julgamento sobre
mim, as mãos estendidas não me alcançaram e eu cai. Senti todo o frio do
inverno recém-chegado. Cada grau diminuindo furava minha pele. Minhas costas
pareciam nuas e obviamente eu gritei. Como qualquer mulher faria. Não, perdoem
amigas feministas. Como qualquer pessoa faria. Lembrem da minha bagunça...
Eu
neguei meu orgulho, porém não só o carregava, mas o incentivava com todo ar
quente sem nem perceber a altura dele. Bem, minha né?! Eu estava lá no alto
cheia de falsa modéstia fingindo não reclamar das pessoas reclamando...
bagunçada feito rio recebendo esgoto de toda bagunça da cidade. Aí - de verdade
- relaxei. Joguei as armas fora com
aquele tilintar de aço no chão junto com minhas armaduras. Acreditem! Eu sorri!
Não aqueles sorrisos irônicos, sarcásticos e falsos, mas sinceramente. Eu sorri
para mim. Disse a mim mesma: Dayni, chega de acumular dores alheias e colaborar
com continuidades do não fazer bem. Devo a mim mesma me sentir bem e sorrir já
destrava tudo. Nem sempre funciona, mas é meu mantra capaz de me devolver o
sorriso quando ele se perde.
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