por Rafael Belo
Ela acordou sorrindo com uma vibração
no corpo, a sensação de ter deixado ele ali e ter vivido toda a intensidade da
alma durante inenarráveis vidas, mas foi só uma noite. O corpo de Soli Dazi
dançava. Uma alegria matutina capaz de sorrir até as mais oxidadas carrancas e os
mais deteriorados maus humores irradiava suavemente dela invadindo casas e
vidas aos arredores. Havia um contraste de doçura habitando ali com uma
brutalidade incapaz de gentileza. Toda essa energia metia o pé e arrombava
portas e quaisquer tipos de defesas tentadas pelos isolados.
Foi um sonho interrompido. Sonho
sonhava com Soli. Ele havia tirado ela para dançar quando o estágio do sono já
beirava o profundo. Ele a esperava na beira do abismo sem fim da liberação
espiritual do físico sorrindo. Demorou para ele despertar do próprio sono. Sonho
havia sido deixado ali quando uma adolescente Soli foi desiludida. Ela não estava
preparada para deixar seus sonhos de lado e Sonho foi escolhido para
representar todos os outros. Não conseguiu
despertar Soli para a grandeza dela ao criá-lo tanto tempo antes...
Quando Soli foi tocada por antigos
amigos com as possibilidades a reatando com aqueles não mortos, aqueles capazes
de a levitarem, a fazerem voar tão alto quanto o impossível... Ela chorou. Um pranto
de alegria se misturando ao sorriso e absorvido pela pele até ser bombeado pelo
coração para a substância profunda da alma... Essa mistura, sorriso com
lágrimas felizes, é ingrediente principal para os milagres cotidianos. Uma questão
de fé. Ela havia esquecido qual era seu sonho e, assim, quem era ela.
Foi uma noite de libertação. Soli
caiu de amores por ela mesma e de um vagalume nas sombras virou um eterno sol. Quando
seu corpo exausto do dia não aguentava mais as comemorações da recuperação dos
sonhos e de si, a redescoberta, Soli foi dormir. Sonho voltou a incorporar em
Soli. Soli era Sonho. Sonho era Soli. Agora ela despertava sonhos perdidos, mas
ainda vivos aos arredores. Onde ela chegava começavam as pessoas a irem também.
O corpo incapaz de conter tanta completude só podia dançar. Para onde se olhava
agora, todos dançavam sem mais se conterem.
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