sexta-feira, janeiro 26, 2018

Só fico pensando (miniconto)






por Rafael Belo

Não sei quantos dias durou a última batalha, mas se estou aqui é porque venci. Não há isso de não haver vencedores em guerras... Já faz algum tempo que vejo os corpos dos meus sentimentos espalhados e vê-los solitários e isolados me deixam em dúvida: foi legítima defesa mesmo, apenas auto-preservação ou prevenção? Mas, além deles não poderem mais aparecer – mesmo em outras formas – a Solidão já não vive mais comigo. Eu entendi o alerta e ingrata que sou a expulsei de casa. Sei quem acordo agora.

Sou todas. Não há separação nem motivo para isso. Já nem me dou o trabalho de responder algumas coisas e outras nem tenho vontade. Quando estou nos rolês... Sim, eu voltei! Tenho mais vida quando vivo e se sinto alguém querendo sugá-la de mim eu rio. Gargalho e a sensação passa. Ainda tenho muita raiva aqui e estou trabalhando minha impaciência, mas não quero ser boazinha nem desinteressada. Dá trabalho, sabe?! Não quero outra temporada com a solidão e não vou pedir perdão por quem eu sou...

Só de ver a interação acontecer, eu interajo. Mas... Conversar de verdade com alguém é quase emocionante. Porém, não ouse pensar que deixei de ser uma serial killer profissional de sentimentos. Isso não aconteceu. Eu só fiquei melhor. E apenas não ligo. Não há frieza e silêncios matadores mais.  Ao contrário de há um tempo, eu me sinto eterna. Talvez eu seja mesmo imortal, mas não estou a fim de testar não. Há sim um sentimento de invencibilidade, apesar da imbecilidade do mundo e de muita gente nele...


Estou contente e me vejo brilhar. Acima de tudo tenho um brilho no olhar. Não perco mais tempo surtando, explodindo com alguém... Simplesmente me desligo e, quando não, deixo tal alguém falando sozinho. O que mais mudou... Eu presto atenção em todo mundo e consigo ver e sentir se a Solidão foi morar por ali levando junto o isolamento. Quando meu sensor dispara eu fico encarando discretamente para garantir ser isso mesmo. Aí me aproximo e, normalmente, a gente se conhece... Mesmo se somente das redes sociais. Já pensou?! Depois eu só fico pensando: “que tiro foi esse?”

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