quarta-feira, janeiro 17, 2018

Sombras por toda parte (miniconto)





por Rafael Belo
Estou cercada de sombras. Elas parecem vivas. Sinto um mal me espreitando. Que angústia. Dói até respirar... Pareço possuída e ainda com uma legião pulando no meu peito... Estou sozinha no meu quarto. Era um pesadelo e mesmo assim vejo movimento nas sombras. Esta voz na minha cabeça fica repetindo para eu não tirar os pés da cama. Qual o sentido disso? Este medo? Esta solidão? Não poderia ser mais direto Sr. Universo? Eu preciso tanto dormir e agora minha preocupação é que algo aconteça se meus pés não couberem na cama.

É tanto tempo acumulado sem calendário, sem horas para marcar... Estou perdida. Sei... Estava me escondendo... Estou me escondendo. Minha memória falha. Não consigo confiar em ninguém. Há uma sensação estranha. Já não sei mais diferenciar realidade de delírio. Não consigo confiar em ninguém. Serei solipsista? Não. Eu nego. Não existe além de mim só experiências. Ainda existem seres humanos, certo? Este não é mais um fim do mundo prestes a acabar de novo, ou é?

Nem sei mais se tenho dormido. Só tenho tido pesadelos e delírios. Será reflexo de me esconder, de tentar me manter acordada, de não me permitir quaisquer relacionamentos porque sinto que tudo é invasivo, manipulador e violento? Este silêncio me mata aos poucos. Estou confundindo tudo, por isso falta ar. É como se eu fosse uma super-heroína largada no espaço sideral e de repente perdesse os poderes e todo tipo de racionalidade...

Eu preciso da verdade. Esta vontade de impor o meu querer como se fosse único precisa mudar. Este não era meu mundo e agora... Agora eu sinto uma tristeza profunda querendo entrar. Minha cama é fria. Minha casa está congelando e lá fora está 40 graus na sombra... Sombra... Sombras por toda parte. Estou enlouquecendo. Preciso acordar ou preciso dormir? É possível pegar insolação sem sol ou agora sou uma assombração? Que o desespero não venha tomar conta de mim! QUE O DESESPERO NÃO TOME CONTA! ... Continua...

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