quarta-feira, novembro 07, 2018

a mais insuportável (miniconto)






por Rafael Belo

Retiraram todos no meio da noite. Como nao percebi? Como isso é possível? Estou algemada… Mas eu só reagi! Pegaram meu celular, mas eu já tinha mandado tudo para a nuvem… Só queria saber quem desligou as câmeras, por que não tem o ponto digital e onde estão os médicos? Minha saúde mental está cheia de mordaças e ainda embutiram os choques para chocar ainda mais a gente… Só entendem de agressão e enfrentamento. Tudo acaba em sequelas e morte… Tudo!

Só digo que aqui a humanidade faliu de novo. Só restou dor e indignação. O resto todo é fakenews. Sumiram com todos os doentes… Aqui era onde ainda tinham alguns e uma fila… Estou chocada e infame neste leito. Devo estar com dosagem alta de alguma coisa pra falar assim como se isso fosse alguma novidade. Mas deve estar passando. Sinto todas as minhas dores voltando e batendo na minha sanidade. Ouço minha loucura rir e o descontrole se aproveitar desta insanidade.

Sem heróis nem vilões. Só sobrevivência sincera e isto vai me levar as barreiras. Minha resistência vai me abandonar sem eu perceber. Neste lugar já tenho uma coleção de números, sou um novo dado para as estatísticas, mas serei manipulada? Algum médico vai me tocar ou já tocou? Foi a enfermeira que me medicou… Onde está ela? Que horas são? Preciso da minha saúde… Sem ela nem a dignidade serve para alguma coisa…! Está tudo tão silencioso que eu me arrepio como se a morte me tocasse...

Dói demais dobrar a dor. E mesmo tão dopada ela ainda coça como um assédio nojento no ônibus, lateja como um beijo forçado no rolê e queima como um rodada de tequila para esquecer… Há quanto tempo estou aqui. Não há nenhuma identificação. Eu só quero ficar boa, nem preciso saber o que eu tenho, só me faça sarar… Ei! Que demônio! Eu estou desaparecendo…!!!! Poderia ser ao menos de uma vez ou no mínimo sequer doer, mas esta dor é a mais insuportável!

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