quarta-feira, novembro 28, 2018

passado pra trás (miniconto)




por Rafael Belo

Não sei onde deixei meu coração. Deve estar com a razão fajuta. Só existe do próprio lado, com a própria tendenciosa face. Quem sabe meu corpo todo seja razão em uma particular desrazão correndo paralelamente a tentativa de ser calmo. Posso ter vindo com defeito de fábrica e começo a ser como os trouxas conscientes vestindo apenas seus papéis e gritando entredentes sobre a inexistência do amor. Bom… Não existe. Até aqui não enxerguei um ser humano capaz de se despir de apropriação para ir.

A vez que eu disse que o verdadeiro Amor era Jesus me chamaram de beata e não consegui sair deste looping de bullying até hoje. Eu disse isso porque está escrito algo como largar tudo e me siga. Mais ou menos isso. Eu sempre me machuquei acreditando nisso e mais que o Amor está enraizado em nós. Então, é preciso cavar fundo para achar a origem da raíz. O problema é eu não ter achado nada. Eu abri tantas vezes o meu peito para forçar as lágrimas enquanto forçava meus olhos a permanecerem abertos...

Bêbado?! Não seja mais um cretino. Talvez este seja meu único momento de sanidade, de lucidez, de desembriaguez… Enfim, estava seco e vazio. Estava frio lá. Mas só porque me lembrou da Antártida e esta frieza também é intensidade. Desembriaguez… É isso! Estamos todos há tanto tempo embriagados de exemplos com defeito que estamos com defeitos também. Eu pareço a voz da razão… Fazendo o quê? Falando, óbvio. Como vou entregar algo perdido?

Eu só posso assumir, presumir que tinha batimentos antes de nascer. Agora eu morro de amor direto sem nem ter amado só suposto isso, ou melhor, suporem. Acusam-me de amar?! Quem de você Amou? Teorias, possibilidades só isso somos hoje! Amor? Deveríamos parar de entender e tentar viver … Mas tudo que deveríamos é algo que nunca faremos. Entre isto dito agora esta justamente o presente. Neste estado justo, apertado, envergonhado de ser sempre passado para trás sem sequer precisar de outra pessoa para tanto.

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