domingo, novembro 18, 2018

a semente (miniconto)





por Rafael Belo

Reclamam de comer. Reclamam de não comer. Mas, então maltratam o corpo de qualquer jeito se alimentando apenas de congelados, de sal, de açúcar, de algo, de fumaças… Sintéticos! Envenenados. Nos envenenam depois nos devoram se matando aos poucos. Sabe eu não tenho autorização para falar… Ninguém tem, mas cansei de ouvir vocês conversarem com a gente… É! Nos referimos a nós mesmas assim também ou estou apenas repetindo o que tanto ouço? Deve ser orgânico ou estas lágrimas...

Tudo regado a lágrimas. Eu sou semente. Sou a semente como tudo nesta vida. Há tanta gente me molhando com o cultivo da própria dor e não faz disso adubo… Acabam se alimentando de vazios. Ninguém cresce assim nem chega perto da evolução. Claro que os estômagos vão mal. Qualquer um enjoaria comendo tão mal… Falta carinho para servirem qualquer refeição. Não se preocupem em comer com prazer e satisfação. Eu sou original, sou orgânica. Eu não morro. É um ciclo…

Não é tudo um ciclo? Está tudo em nós. Nós somos a natureza e basta procurar. Eu não consigo ficar tanto tempo longe do sol e escondido sussurrando deste jeito é difícil me fazer entender. Nós somos a cura de vocês e não precisamos de ei! Pode me largar! Não finja que não me escuta! Ah, pelo menos não tenho agrotóxicos… Não vou te envenenar. Vai continue. Agora me escuta?! Ótimo! Vai surtar ao invés de se alimentar de algo bom pela primeira vez na vida...

Olha eu reclamando. Só que quando digo eu é coletivo. Somos todo um organismo. Solo infértil, solo impermeável, solo desnutrido… Como vamos manter vocês saudáveis? Como vamos manter vocês vivos? Pensando bem eu não devo estar escondida… Se somos um coletivo, não há indivíduo e olha seja simplesmente orgânico. Como coisas naturais. Cuide do seu corpo. Se alimentar bem e comer bem é natural, não sintético, não supermercado… Não me lembro mais quantas vezes eu passei por este ciclo que não sei porque vocês chamam de morte… Morte pra mim é como vocês comem e a pressa com que se alimentam. Estas são minhas últimas palavras nesta forma, vou ser alimento da terra. Quem sabe eu não nutra este seu pedaço de chamada novamente.

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