domingo, janeiro 31, 2010

Imperialismo

*foto tirada na estrada em "movimento"


A mão pesada cai como ferro nas cabeças de um severo sentimento manso
sacada com punhos fechados de uma raiva adulterada no chão de atalhos
humanos falhos, na ganância de um império faminto sem satisfação
na opressão velada em um riso enfadonho sempre risonho em destruição
sobre a beleza natural das coisas criadas em feridas abertas sem cicatrização
mercenários com mais sangue quente na cara que no corpo entorpecido de capital
estupidez, de proporções enveredadas na cegueira fabricada de vantagem
encapada com a couraça normal de um tecido vigilante diante da imagem da certeza
de posse, na terra de ninguém.


Rafael Belo (Folha de Outono) 11h54, 24 de janeiro de 2010.

sábado, janeiro 30, 2010

Nuvens Vertentes

* foto tirada exatamente assim, enquanto virava omundo de ponta cabeça

Chora chuva pelas lágrimas vertidas das nuvens coloridas de outrora
Chova guardada na nascente de um dia novo cavalgando pelo lume da aurora
Chore até um outro alvorecer, até ser orvalho do sereno do luar

Uma manha limpa vertendo dos olhos,
que revigorem,
o olhar,
Guardarei tuas pérolas choradas como uma praia de seus grãos de areia
Onde ateia a flâmula ardente e repousa a vida contínua

Toda dor chove um dia por fora ou vive a chover por dentro
Um sofrimento

Natureza humana de sentir e esconder o que sempre está lá
A incomodar tantos fingimentos, nos labirintos dos esconderijos lamacentos

Até raiar uma luz, rolando das nuvens nubladas do coração.

17 de janeiro de 2010, Folha de Outono (Rafael Belo) 19h52.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Receio da certeza

Por Rafael Belo
*foto tirada na volta pra casa enquanto o dia nascia


Estava tudo certo, mesmo não combinado consigo e com ninguém. Surgem em pensamentos era isso, era essa. Nem precisava a conversa. A certeza estava lá antes da gente. Precedeu o momento, precedeu a pessoa. Há uma magnitude levando a mente e a alma a se atrair por aquela força magnética percorrendo. Mas, há um medo de comparações próprias. Há um medo de insegurança constrangedora. E na nossa sapiência descomunal, decidimos não errar não se ferir. E o momento passa e a pessoa continua.

Penso neste receio da certeza dentro da nossa mente, a contradizer a certeza repleta de todos os sentidos do corpo. E ainda dizem não sermos loucos. Nossa! Deixamos tantas vidas para trás e muitas vezes ficamos na mesma. Como se não houvesse evolução. Como se universo não fosse uma conspiração silenciosa voltando no momento certo, para o não combinado, para as precedências involuntárias a baterem e acelerarem o coração sem tempo.

Quantas vezes não foi vista “aquela pessoa” e houve uma pausa no mundo. Se foram poucas ou nenhuma há bons amigos e psicólogos que podem ajudar... É como se tivéssemos algo faltando uma peça “do nada a perder” a impulsionar a engrenagem sem receio. Poucos se arriscam na vida e é tão arriscado viver. Me parece ser esta a tal liberdade. Seguir em frente, saber “voltar atrás” e saber aceitar os erros. Seria esta a perfeição? A perfeição é algo infundado, já que errar é que nos faz tão humanos.

Receio ter de dizer isto, mas receios devem ser recheios feitos trocadilhos para aceitar o convite de adentrar aquele olhar. Não é preciso dizer se apaixonar até que reticências tragam um ponto final e não venha a se transformar em Amor, afinal. Sem desespero. As certezas são temporárias, menos a final, mas até lá não é são duvidar de nós mesmos. Que o receio recheie, mas não seja o sabor.

quarta-feira, janeiro 20, 2010

Rostos sofridos


*A foto eu tirei no meu retorno enquanto o sol nascia para dar luz a um novo dia. Alvorada aquarela!

Por Rafael Belo

Crianças nas ruas. Descalças, algumas sem camisetas. Há algo diferente nos olhares. Um vazio, uma necessidade desconhecida para elas. Seus pais têm rostos sofridos, às vezes reclamam da vida, mas por hábito dizem estar “tudo bem”. É uma situação de vida onde falta cidadania, esta tão distante como o bairro asfaltado ao lado ou o centro há alguns ônibus dali.

Eles estão acostumados, assim como muitos de nós, a viver à margem de tudo. Privados de direitos. Olhados com olhos tortos e caminhos desviados pelos mais “abastados”. São rostos velhos salientes cheios de marcas profundas feitas pela navalha cega da vida, antes da juventude chegar. Parecem fadados a viver sempre, nas situações precárias limites onde estão.

Dizem ser futuros marginais aqueles pequenos. Mas, alguns infelizmente já o são. Vejo marginalizados, isto sim. E neste ano atravessadores para políticos vestidos de caráter duvidoso e lascas de madeira e promessas e pão e circo e entretenimento vazio e assim se atrofia a humanidade.

Nas primeiras vezes, fui até as margens da cidade para tratar de tiroteio, brigas de gangue, violência, descaso, buracos, crateras, alagamentos... E há sempre um traço de sofrimento nos rostos curtidos. Enganamos-nos ao comparar: “São iguais mulheres bonitas. São invisíveis. Ninguém vê ou se importa se há vida inteligente por ali”. Já na região central ou com mero abastecimento adequado de água, luz, esgoto e coleta de lixo a face dos assaltados é de ofendidos e alheios a este mundo. No entanto quem tem culpa da dores e alegrias do mundo?! Heim?

Mas, o mais triste é ver as crianças vivendo e sobrevivendo no meio e do lixo. Para quem, como nós, não está largado a própria sorte. Respirar ali é sinônimo de passar mal, de ânsias, de lágrimas... Os menores agressivos feitos animais selvagens sem contato com a civilidade, sem carinho, sem qualquer afeto, vivendo no desamor, usados e abusados já estampam na testa, conforme a visão de muitos, a palavra “perdido”, “drogado” “aprendiz de criminoso”. Palavras cruéis de crianças mostrando os dentes e avançando nos carros ousados ao passar por onde não “lhes diz respeito”.

Vi esta realidade nos poucos lugares em que trabalhei e fotografei nesta minah apaixonada vida jornalística, depois voltei e volto pra casa sem esquecer mais daqueles rostos sofridos. Já no caminho penso um pouco como Carlos Heitor Cony: “E ninguém toma nenhuma providência!?”. Mas eu é que não vou desistir e fechar os olhos e esquecer. Vou insistir para que tomem - não cicuta ou o veneno do trágico amor de Romeu e Julieta, mas as providências.

segunda-feira, janeiro 18, 2010

Retornos


(foto tirada da saúva no meu novo velho quintal)
por Rafael Belo

       Veio um momento silencioso há alguns meses do fim deste último ano. Era hora de voltar como um experimento eternamente inacabado. Mas, o instante preciso ainda rodava pela estrada para propor meu retorno. Vinha ao meu encontro. Mal sabia ter eu a decisão tomada, àqueles que vinham. Já era hora, algo me dizia. Eu balançava a cabeça e imaginava as pessoas voltando ao meu círculo tão amplo. Mais uma vez a estrada me chamava. Foram dois anos. Silenciosamente pensava. Seria esta minha casa? Sim... Minhas raízes aéreas sempre voltavam para “o” lugar.
     Mais alguns pontos seguidos de reticências na minha vida se reiniciando constantemente. Sorria com a certeza da decisão tragada feita um copo de aguardente envelhecida. A arder em uma mistura de calor e frescor, acendendo os olhos como um ânimo injetado de vida sem qualquer rotina. Minha vida. Passando pelas entradas para mais adiante fazer retornos. Tantos livros lidos e tanto tempo longe da “vida inteligente” refugiada nos campos da blogsfera.
     Começar do zero é o refrão da minha balada mais tocada. Mas, desta vez permiti enfim, a adoção legal da minha pátria regional e uma ligeira troca de música. Mesmo dizendo aos ventos não ser de lugar nenhum e ser de todo lugar, meu coração insiste em ser desta Cidade Morena. O meu refúgio negligente com o mundo de costas, porém com mãos estendidas. Esta Campo Grande, neste Mato Groso do Sul acaba por ser para onde volto.
     Agora é 2010. Neste momento quando volto a postar meus olhares do avesso. Quando deixo a mudez completamente falando pelos cotovelos. Minha virada sem posses a não ser as palavras aleatórias por acaso formando algo compreensível, depois de tantos livros empilhados na ponta da mente. Após uma nova evolução, nem sempre dar um passo para trás significa o mesmo retorno. Estou de volta.

sexta-feira, setembro 18, 2009

Um Vários

(tirei esta da espetacular janela do meu amanhecer de um apê)


Há mundos colidindo em mim e me formando, formações
evoluções desequilibradas para o cachorro existente dentro
querendo roer ossos da fidelidade de se expressar quando
na imaginação tem gente, diria demais, mas não é

sem se levar a sério na seriedade de não ser se lembrando de esquecer

nas mudanças ranços enteiados das partes sempre chuvosas
umedecendo as partes secas, esfriando as partes quentes
parando no ar nas mediadoras folhas do tempo marrom
diria dos imaginários amigos mas são eu de mãos dadas personalizadas
todos esperando sua vez de se expressar na própria evolução partilhada

Daí vão dizendo ais no tempo molhado escorrido compartilhado
alguns cheios de sais outros adocicados demais, uns falta até tempero
Como um exagero gastronômico, mas literário na altura dos olhos que pode ser um galho
Pronto para quebrar, partir ficar, mas pretende sentir,
para me formar um, são necessárias várias multidões de mim.

Folha de Outono (Rafael Belo) às 13h, 23 de agosto de 2009.

segunda-feira, setembro 14, 2009

Volte outra hora

(deitado em um chão antigo tirei)


Aquelas horas estavam enrugadas
na banheira de rugas expressivas
ao redor das olheiras espalhadas pelo corpo
despercebidas no desaperceber daquele sal nas águas
fazendo da profundidade superfície flutuante do pilar

de uma liquidez liquidada na voracidade devorada sem constituição
uma repartição não repartida para fora do bando uivando seus balires
matizes pastorais da maioria, rebanho, respondendo os sinos babando
falas shakespearianas nos lugares-comuns, comunamente se esgueirando
pelas beiras das sombras matreiras

Quem diria o dizer mastigado com pedaços de engasgo
faltando o ar nos neurônios de últimos suspiros
suspirando
garganta tapada tapando o ouvido ao fechar dos olhos
três macacos
não há vagas.


Folha de Outono (Rafael Belo) às 13h28, 16 de agosto de 2009.

sexta-feira, setembro 11, 2009

Somos.

(tirei foto dos candangos )



Páginas em branco escritas, Vão ao vento voar
Soltas em elos existenciais sem espaço nem cálculos
Toda distância é proximidade calorosa de uma batida
Amores de um coração imenso de essências glórias
Não há tempo na amizade nascida de um reconhecimento
são circunstâncias necessárias da vida para poder inalar ar
em retumbâncias ecoadas na alma em eternidades laçadas
de sentimentos descritos justiçados depois de uma olhar mareado
Na única maré cheia sempre, de perdas de fôlego
Persistente em ser toda uma extensão de apoio de mãos
Sustentação de brilhos no olhar, de sorrisos cegantes, de corpos em pé...
Passos adiante, triunfantes abraços, ombros presentes, raízes ascendentes, fé
Todas as promessas em pessoas imperfeitas, a melhor das perfeições feitas vários
O Santo Graal, verdadeiro relicário reluzente
Está em nossa gente vista mesmo fora da proximidade
A maior profundidade de quem somos, Amizade.

10h55 (Rafael Belo) Folha, 10 de setembro de 2009.

terça-feira, setembro 08, 2009

Interpretação textual

(tirei da onde mesmo hehehe ee estrada ainda bem que estava deserta)



Chocaram-se em perdição
naquele caminho obstruído
só havia dúvidas e joelhos abraçados
até a cabeça martelar a parede do atalho
e rachar enfim de um talho interno de bolor

entalho na pele enquanto célebre árvore
de pernas que perdem a noção do equilíbrio
forjado da queda estreia vazia, naquela floresta deserta
de gritos e aplausos chocados de superação concreta de caos
inverso no avesso contrário averso ao paradoxo imaginário de acertos

foi um raio de um céu limpo
chocando o cume esverdeado de galhos secos
partindo o tronco em dois na multidão de engarrafados
no fluxo corrente corrido de falsos independentes
surdos aos estrondo brutal nos aplausos gritados dos invisíveis.

Folha de Outono (Rafael Belo) às 13h13, 16 de agosto de 2009.

domingo, setembro 06, 2009

quarta-feira, setembro 02, 2009

Liza Vazi

(tirei esta em um trabalho com três amigos, me chamou a atenção a maestria do reflexo e do convite)

por Rafael Belo

Vazaram os sentimentos em uma nascente de liberdade. E ela estava vazando todos de uma vez sem preconceito sem rejeição. Era preciso. Soltou as amarras da sua vida. Era território completamente desconhecido. Tirar o dentro pra fora. Nada de fugas desta vez. Enfrentaria e não voltaria atrás. Pelo menos era o pensamento fixo que a tomara. Liza Vazi andava só com seus papéis e a cada passo sorria mais e chorava mais. Era um misto sentimental inexpressível em palavras mas super claro.

Quem passava via uma jovem sem juventude com vários livros, HQ’s e cadernos de anotações fortemente pressionados sobre o peito, o rosto vazado dos olhos de mel escuro com uma sombra prateada manchada pelas várias horas de caminhada sob o frio daquele domingo primeiro, os dentes superiores para fora mordendo os lábios inferiores e muita determinação naqueles 16 centímetros a mais de meio metro de pessoa de pele amarelada. Magrinha que só pena do vento para ela não decolar. Quem disse que esta não era a vontade dela? E se a medisse por dentro... Bem, veriam ser impossível usar de medição!

Quero decolar. Tenho antes de encontrar minha pista de voo. Minhas manobras começaram. Como um salto do vigésimo andar para perder minhas asas forçadas da paternidade. Cara, eu não sou um ideal de gente. Nem quero poder ser. Mãe, pai me desculpem ais a filhinha queridinha aqui sabe quem é antes de vocês aos 30 e muitos. Cansei de ser tratada pela minha idade e vocês dizerem: “madura demais, criança!” Criança?! Pelo amor! Escolham palavras melhores. Espero saberem da minha partida, não fuga, ser necessária. Posso ter 15, mas meus 15 valem o 21 de vocês e olha que vocês nem chagaram lá ainda. Podia ter deixado uma carta assim. Não quis. Fui clara “um dia eu volto. Amo vocês. Smack smack , smack smack. Uma bela olhada nos dois esmagador abraço, outra olhada e até. “Vocês fizeram o possível. Agora é comigo!”

Sou Liza Vazi. LIZA VAZI. Grande coisa para mim. Posso não viver do meu sonho, mas tentarei até o fim. Houve sempre algo me atraindo para isto. Este momento. Agora nele não tenho pressa. Não mais. Cadê meu espelho? Aí está você sua monstrinha bela! Espero não aparecer na tevê. Nada de muita maturidade. Isto seria mostrar que sou totalmente madura. Pode ser pra minha idade até demais. Idade não é problema eu sei segurar minha mente. Mesmo pesada.

Minha liberdade chora. Como se fosse o doutor Frankenstein, mas com quase as próprias palavras. “I’m alive! Finally!” Pouco pretensiosa no linguajar estrangeiro como se fosse “ás” das línguas. Passando as mãos nas capas das minhas outras liberdades escreverei estas histórias com minha aquarela. As mulheres têm de criar seus próprios personagens nos quadrinhos. “Vazante”, dona das lágrimas da vida, da força e da leveza pra voar. Agora, onde está minha pista de manobras?!

terça-feira, setembro 01, 2009

Dias chuvosos

(tirei esta ao lado do supermercado há dois anos)

Por Rafael Belo

Dia chuvosos são caóticos para o caos das cidades... Fora sábados e domingos onde se nota a úmida ausência de pessoas nos lugares. Os outros cinco dias parecem forçados por trabalho de servidão - às vezes os seis, até os sete. Há a milenar robótica de atos conduzidos por repetição. São 24 horas de branco, como se fôssemos ideias abandonadas. Bem, 12 horas na verdade, as outras 12 são o apagão no fechar dos olhos, só há escuro na mente. Como indicado por aquele médico obsceno e monstruoso.

Por indicação arrumamos rumos nas nossas direções. E no fim da linha algo ajuda a deitarmos nos trilhos para viver outra vida, mas os trens não passam mais. Um desperdício a menos, um trabalho pesado para os corações que nos querem a menos. Ufa. Chova chuva, chove porque viver para trabalhar não é vida, bem, é vida de inseto. É ser operário, zangão de colméia em função da monarquia, mas vivemos uma aristocracia. Nossos nobres detêm o total ou pelo menos dois terços da riqueza brasileira ou/e propriedade. Seria democracia se fosse, nós, plebeus o povo possuidor destes terços.

Mas, esperem... Não... Continuem... É só papel oficial e nossa falta de atitude. Afinal, nossa pessoa é nossa maior propriedade, sinal de liberdade O Estado então é o único livre destituidor. Quem está contando a minoria burga dos aristocratas usurpadores do platô o poder de lacuna interina?

Dias chuvosos são caóticos para o nosso caos... Fora quando nos permitimos reanestesiar durante a semana onde nota-se nossa úmida ausência como pessoas. Nos lugares. Os outros dois dias parecem forçados por trabalho de servidão já presente na mente e na programação – às vezes três ou quatro quando se prolongam as emendas. Há a milenar máscara do pão e circo separando bons e maus a parecer haver só eles definidos. Ah, sim, claro! Nas áreas cinza estão os lagartos e os largados.

Carros abandonados aos pedaços longe dos centros são suficientes para proteção do vento, portanto boas moradias. Pelo nosso abandono me sinto como um morador sortudo de um carro ao relento. Nele há os despossuídos. Nos despossuídos há o quê senão a esperança de um pão amanhã? Não sei dizer, mas não parecem querem muito como se não pudessem. Parecem sentir-se diminuídos diante dos abastados comedores de pães diários.

O sol não aparece. Seus raios invadem as brechas do céu para os brechós em nós. Assim se sabe haver uma luz acima de nós para nos aquecer e ela se descobre dentro também. Mas açucares, aspartames e adoçantes em geral não saem na chuva, porém dão um adocicado sabor ao amargo café da vida como ela é para alguns. Dias chuvosos são tempo de reflexão como se o clima se alterasse para ver se o mesmo acontece com a consciência do coletivo, coletiva e de cada qual. Derreter na chuva só é obra de alguns a saber a ordem no caos, mas pode ser de todos.

sábado, agosto 29, 2009

Gestação de pregnâncias

(uma pequena maravilha no meio da grama do lado de uma barragem tirei)

Impregnado lugar de ceifa
Ceifados olhares parados em plenos movimentos
através do olhado estagnado em um ponto não visto
revisto dos incontáveis déjà vu enfileirados
nas plumas pombas revoando as ideias repensadas

Pensamentos cheiram a sensação daquele lugar
deitado em um imenso espaço desproporcional, medido
não estou lá, pois, lá está aqui me impregnando
de acessos aos tempos mentais sem números
me referindo referências dos meus acúmulos, limpos de pó

deixe minha poeira me revelar
revelação de coisa alguma
a não ser de mim mesmo
como era ao nascer luz
sem posição fetal

toda as cores
dos mundos

todos os cheiros
dos infinitos partos.

Folha de Outono (Rafael Belo) às 12h52, 16 de agosto de 2009.

quinta-feira, agosto 27, 2009

Conversas com a Lua


(Um presente já entregue para uma aniversariante deste dia 28)
por Rafael Belo

Vestia um sorriso sobre suas vergonhas, uma ansiedade desproporcional, certa inquietação, muita emoção e claro dúvidas-dúvidas-dúvidas. JS16 não ia completar 17 e ainda está no fim dos 15. Contando os dias os via lentos, até arrastados. Dormia pouco ou demais, sem meio termo. Certo era sua conectividade. Queria alguém para ser seu, outra certeza. Fiel, amiga, mas vira e mexe a emoção tomava conta à “ajudando” a cometer os repetidos erros. O que nem sempre era ruim, mas dava aquela sensação de cachorro correndo atrás do próprio rabo. Subestimava-se.

Com seu mundo caindo e levantando quando menos esperava era uma das poucas adolescentes da raiz da palavra. Sua mentalidade extrapolava, às vezes, até as mais vividas. Meiga. Esta era a qualidade principal para a lua se interessar por ela. Conversando por troca de luares, assim que o sol se decompunha com horizonte. Momento esperado por ambas. Olho para a lua e sinto que ela me diz ser eu enluarada a brilhar luar sereno para ela, mas como seria possível?

Que inocência brilhante, pensava a Lua, a enxergar um sorriso puro despido e os desejos, de JS16. Esta de costas na cama sentia seus desejos realizados, sonhava. Minha liberdade eu quero – mal sabendo a poder conquistar mais e mais perante os pais e o mundo. “Chorona”, disse para o vazio do quarto com as luzes laranjadas das janelas do MSN. Chorar fácil era muito bom, mas desconhecia. Lágrimas eram fortalezas erguidas e não fraqueza demonstrada.

O quê virá? Interrogava perante sua delicadeza e educação. Sua simpatia, beleza e inteligência rogaram rubores. Errar é tão bom quanto acertar, iria pensar. Estava no Biquíni Cavadão: “ ...Quanto tempo será que demora, um mês pra passar?...”. Quero me sentir livre. A Lua se encheu. Cheia respondia: “Você e acha incompreendida e acaba se explicando demais, mas no fundo sabe não ser bem assim. Sabe que não consegue disfarçar seus pensamentos e sentimentos, a dominavam”. Descobrira ser bom, nada se controla de fato na vida e podemos nos preparar se ansiedade.

A Lua e o frio leve, a viram. A acompanharam. Descalça, de preto básico e jeans corria a noite pelo impulso. Gritou de alívio. Quantas não queriam ser impulsivas... Sorriu sua sorte e pairou seu luar e sereno.

segunda-feira, agosto 24, 2009

“De novo”


(Viagens sul-mato-grossenses o retorno, tirei co mvárias intenções)


não há bom dia – nem cumprimentos
qualquer aceno é censurável
um sorriso daqui
uma dúvida de lá
as ruas são antisociais

pessoas nuas, existem mais
estão
tão vestidas
revestidas dos seus próprios mandamentos
inseridas, em seu mau comportamento

se olham –fingem que não
se olhadas – quando não ofendidas- abrem um buraco no chão
possuem todos os dedos –ou nenhum
no meio termo podiam ser incomuns
mas há tantos a seguir – que em seguida são mais um.

Folha de Outono (Rafael Belo), às 13h49, 17 de julho de 2009.

sexta-feira, agosto 21, 2009

O Filho de Murphy


(quintal, era uns dos milhares da minha falecida vózinha)
Por Rafael Belo

Ele acordou, como costuma fazer depois de dormir, sempre irritado por ter de levantar, sair do quentinho e do breu gostoso do próprio quarto -ou de um quarto qualquer. Já que vive de aluguel e de favores. Sentia algo estranho e pensou não ser nada anormal. Ledo engano. Dário Impossível logo descobriria sons desconcertantes saindo da própria boca. Mas, por enquanto estava calado e com gosto amargo da fome. Ainda não abrira a boca sequer para bocejar o sono ainda trajado de amassos.

De repente o acúmulo de bocejos evidentes pelos olhos lacrimejados e de-o-quê-estou-fazendo-acordado foi mais forte e um forte múúúúúúu ressoou na cozinha vazia. Blam e caimcaimcaimcaimcaim seguidos de um longuíssimo e assustado méééééééé vieram do chão. Assim, aos sair do primeiro som, Impossível tomou o maior susto da vida antes de tomar o copo de leite, se jogando para trás e despencando de costas no chão de madeira. Eles emitia todos aqueles sons? Desde quando se tornara poliglota animal?

Sem resposta passou a língua nos lábios que silvou tssssssss e ele pulou do chão para a mesa que quebrou uma das pernas e o jogou no chão a emitir guturais uuuuuuuaaaaauuuuaaaaaa. Ele lembrou de Tarzan, mas ele não era rei de nada nem de bosta. Não era órfão ou Mogli. Não era viajado nem conhecido. Era um puta de um anônimo, mas não rodava bolsinha na esquina muito menos impedia que rodassem. Mas, seu cérebro Neandertal coçador de saco, impossivelmente processava alguma resolução. Não, processava mesmo era a causa de tudo. Pensou algo ao som da noite uuu uuu uuu. Corujão plena manhã.

Então, piou muito e soltou trrruuubrrruu e já que estava nessa relinchou. Pegou sua bolinha favorita de trinta anos e ficou jogando pra cima ronronando, rindo feito hiena da sua cômica tragédia.começou a rosnar e realmente teve vontade de morder o próprio rabo imbecil. E ficou rodando sobre o próprio eixo. Animal! Vivia como um animal auaauaua. Vivia agredindo verbalmente os outros com coices e patadas. Tirando vantagem das carcaças da vida, feito urubu reinando na falida procriação dos seus genes. Pensava voar alta feito a livre águia quiáquiáa, mas era mais para um roarrrrrr, um leão sem bando. Abandonado feito um gatinho indefeso de um circo malcriado, sem garras nem juba.

Após balir e uivar ao mesmo tempo. Pensou ser filho de Gérson, mas não, era filho de um bom macaco. E uiiii feito um porco aproveitou a lavagem e pensou bem ruminante: vou tirar vantagem de tudo isso. Em um quase coito saiu galopando para avisar alguém da sua vantagem animal. Quem convive com animais selvagensenfurecidos? Abandonado ele deveria ir para adoção – mas quem quereria? Ele não sabia ser na verdade filho de Murphy e de uma camisinha furada e daquelas mudanças que você sempre deixa e/ou esquece um cachorro pra trás. Só que ele era o cachorro.

quarta-feira, agosto 19, 2009

“Antes”


(mais uma que tirei do ex quintal)

pensava a afastar do coração
a tendo distante do pensamento
mas em nenhum momento, ela me deixou
não sei se era amizade ou amor

falta em mim, ela
está na minha mente, subconsciente
de sonho em sonho a me despertar
amanheço com ela
ela não está

vi seu ventre me acolher
acarinhar-me com ternura
era sempre, eu, a massagear lhe por inteiro
suas lágrimas me abraçavam
o coração pensava- o pensamento batia

a gente se conhecia
de tempos atrás
antes do conhecer.

Folha de Outono (Rafael Belo), às 13h36, 17 de julho de 2009.

segunda-feira, agosto 17, 2009

“Simples motivo”


(já subi nesta, mas esta foi dos primeiros dias de facul abaixo da antena torre, que já me transmitiu)

por Rafael Belo

Estava estranho. Me sentia recém parido. Das entranhas da luz. Mas, estava escuro fora do ventre. Era dia feito. Crescido com todo biotônico solar de uma preocupada infância. As vozes encorpadas nas rua, os insistentes latidos dos cachorros vizinhos, os carros sempre atrasados seguidos de buzinas e freadas impacientes, mas faltava alguma coisa.

Fiquei no escuro e no som dos instrumentos de músicas clássicas até o escuro se estender para as ruas ainda agitadas. Tinha certeza de algum mal-estar e me inibi de me movimentar. Nada de comida, nada de cochilo, nada de banheiro, nada das necessidades ao necessárias agora ao meu corpo. Meu castigo minhas chibatadas por não decodificar meu sentimento enrolado no pescoço.

Aquele piano frenético viria a me irritar. Muitas notas por segundo. O telefone chamou até cansar. Depois um celular e então o outro. Batiam palmas lá distantes na calçada. Batiam no portão. Bateram na porta. Chamaram meu nome. Meu nome foi gasto até acabar. O silêncio substituiu a insistência exceto pelos carros ainda velozes e cheios de buzinas no asfalto.

Do meu espaço pacífico e estanho vinha espaços de irritações contorções faciais a cada bagageira “incomodação. Seria necessário “o quê” para dize mais “não estou aqui.”Isto não bastava. Substituível feito tudo - menos o sentimento - e não há problema algum. Não existe insuficiência de presença, pois de alguma forma sempre estamos.

“Hoje era meu dia de sombra”. Repetia meu novo mantra. Mais ainda havia o estranhamento me mordendo. Mordia minha boca, minhas mãos, minhas pernas e meus pés até começar de novo e de novo... Ficavam marcas invisíveis a arder e queimar se espalhando pela minha corrente sanguínea para um, um grito enlouquecedor. Típico desabafo. A pergunta era: “O quê está abafado, afinal?”.

Ensaiava meu olhar vazio e o atuava pelos cômodos mais escuros e cheios de sombras, agora. Já me permitia sair do castigo, me movimentar livremente. “Por que então estava tão preso, tão pesado?”. Mudei a tática. Fui me esvaziando pele por pele, pensamento por pensamento, respiração por respiração... Senti um bom vazio me inflar no sopro de um ar quente imperceptível.

Estava estranho simplesmente pela primeira lembrança de estar de férias!

domingo, agosto 16, 2009

Balada minha


(tirei a bombordo de uma balsa)

Gaiola sempre aberta
do som do periquito
apitando os perigos da proximidade
de um verde amarelo avermelhado saboreando desconfiança
nas bagunças de uma casa de coisas

mãe e pai órfãos de lugar, perante a tevê
nada se vê, tudo se imagina
na cisma das imagens, captarem o medo
atiçarem, atos covardes
transmitidos na seriedade de uma visão

então, a ação e proteção
mesmo por uma ligação
maternidade e paternidade, terminam não
quem dirá filiação
a gaiola não tem grades

lá fora tem mais jeitinho de prisão.

Folha de Outono (Rafael Belo), às 19h18, 16 de julho de 2009.

sábado, agosto 15, 2009

A imagem da palavra


(tirei esta no quintal da ex-casa)

Não a via há dez anos
Não tinha meus números profanos que ninguém fez
Mesmo assim ligou
Feliz ou algo havia- contando coisas pelo nariz
Infortúnios da beleza

Havia destreza e intimidade
Porém, poucas palavras troquei com ela
Uma das mais belas daquela cidade sem importunidades

Olhei pro teto
Depois do sonhei

Era o sonhar da confiança
Aos meus íntimos
E aos outros
Recuperei minhas palavras viciadas
Palavras perdidas de um sonho.

Folha de Outono (Rafael Belo), às 18h58, 16 de julho de 2009.

quinta-feira, agosto 13, 2009

Pescador de atenção

(tirei nas margens do paraguai, só que este não mente só quer peixe)
por Rafael Belo

Às vezes -quando escuto histórias – atento meus ouvidos públicos e presto muita atenção. Quando a conversa é entre homens ou de um homem para uma mulher, lembro de Cazuza e sua menor “Menor Abandonado”: “Mentiras sinceras me interessam, me interessam”. Não pelo fato da mentira em si e seus artifícios de vantagem, mas pela sinceridade da forma contada. Por acreditarem na “contação” e no acreditar do ouvinte. É um pescador de atenção. Mas, não me peça para acreditar.

Tais mentiras desimportantes são conhecidas, pois nas histórias com finais morais quando esta pessoa diz a verdade, não há quem acredite. Mentiras inocentes viram vícios de alguns. Elegem muitos - mitos – e deixam de ser inocentes. Tomam proporções quase impossíveis de desmentir, uma vida de mentiras.

É como fingir de morto perante a vida e rolar – dizendo ser espasmos da morte. Detesto mentiras e me afasto de mentirosos. Funciona nas primeiras vezes e se acaba patológico ou meramente compulsivo dificilmente não se percebe é como uma Winona das palavras, um cleptomaníaco do palavreado.há um ditado sobre os ases da mentira: os poderes norte-americanos . Diz: “George Washington não conseguiria dizer uma mentira, Richard Nixon não conseguiria dizer uma verdade e Ronald Reagan não saberia diferenciá-las”.

Não diria faltar malícia para diferenciar ou sobrá-la para desconfiar de tudo. Nem haver inocência incapaz de identificar. Apenas acredito ser um vício. VOCÊ experimentou, te fez um mal – como me faz (não é uma confissão), você só volta a fazer se for um sádico ou sadomasoquista. Gostou do poder de dissuadir e enganar – Virou viciado. Manipular realidade e fantasia não me faz me sentir um mentiroso penso ser um entretenimento e um sabor coletivo. Mentir é uma fuga, um disfarce ou entretenimento pessoal com aquela palavrinha amarga: egoísta.

quarta-feira, agosto 12, 2009

Desnome

(tirei estas nas viagens sul-mato-grossenses)

Coisas ruins gostam de vir em sucessões
só se sucedem
para depois virem boas
boas coisas, são apenas mais um ponto de vista
como, unicamente, penas
não serem a razão de voar

mas muitos voam, imprudentes
dentes pra fora e ausentes
iniciantes e experientes
esperando a ruindade passar
sem, às vezes, nem pensar

em agir diferente
bondosamente ou por bondade
fica a vontade de escolher a semântica
pois coisas são algo qualquer – que não queremos nomear.

Folha de Outono (Rafael Belo), às 18h43, 16 de julho de 2009.

terça-feira, agosto 11, 2009

Sentidos

(não sei onde tirei esta -risos- da torre antena)


Quando alguém está escondido
nem adianta procurar
provavelmente nem saber estar
encolhido em algum palco em si
desaparecido de qualquer outro lugar

atuando uma imagem favorecida
conforme com quem conversar
em algum lugar esqueci
sinceramente ser
um banquinho e o escuro

você pode me dizer quem é
aquele diz quem sou

misturo o segredar liquidificador, junto com uma dor
bebida insana da saliva
escondida na plateia.

Folha de Outono (Rafael Belo), às 18h29, 16 de julho de 2009.

sexta-feira, agosto 07, 2009

Merecimento

(tirei lá naquele reduto)

por Rafael Belo

“Os que merecem ser atendidos”. Ouvi de uma médica. Há algum cúmulo maior!? E o desespero e autoisolamento de quem está “infectado” com a gripe suína. A H1N1. Morreram algumas dezenas e a vacina só será produzida no Brasil no próximo ano. Claro, se ela pode esperar até o início das aulas por que não mais um ano! E como a Déia disse é “gripe escolar...” Porque de resto ela é antisocial. Milhares de casos registrados. Foi rápida a saída de uma epidemia para uma pandemia, gerando pandemônios. Há relatos do não atendimento de suspeito da influenza. O digníssimo secretário de Ciências, Tecnologia e Insumos estratégicos do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães, diz estar preparando parar “combater uma ‘eventual segunda onda’ da pandemia do Brasil, prevista pelo ministério para o próximo inverno, relata ainda a pesaridade deste problema grave, mas a vacina não servirá agora.”

Certo mesmo é tudo isso ter cara de endemia. Por quê a lentidão da vacina, vamos esperar um ano e quantas mortes mais? Espero nenhuma... Com tantas más abordagens como ficamos!? Desespero nunca adianta. Não há vacina contra a ignorância e conhecimento demais se saturado. Merecimento!? Chocante!?Qual o critério de “merecer” ser atendindo?! É um absurdo! “Isto é uma vergonha”, esbraveja enraivecido Boris Casoy. Se você estiver com febre-dor-de-cabeça será atendido depois – e olhe lá- de quem estive com febre-dor-de-cabeça-vomitos.Passe bem!(?).

quinta-feira, agosto 06, 2009

Tonicidade


(subindo as escadarias, tirei na torre dos sinos)

As coisas se moviam pelo ar
diante de atônitos olhos inquietos
nenhuma o acertou, boquiaberto

mas, ela os atirava em revolta
sem mira. Só objetos e palavras

veio de uma volta corriqueira

até com o gato preto que voava
cada qual se espatifava

feita a supertição da promessa quebrada
Quando foi – porque disse que ia.
Mas voltava – porque não aguentava

ele se movia pelo ar
nas coisas que o aquecia

não queria ser mai um par
mas um par queria

ambos olhares se encharcaram

o mover era atônito e inquieto.

Folha de Outono (Rafael Belo), às 17h08, 16 de julho de 2009.