por Rafael Belo
Se pudesse rasgava o
corpo e andava só com a alma por aí. Claro, estaria pulsando porque o coração
também seria todo alma. Não que a aparência física não importava, importava
sim. Mas só até um limite, até uma medida... E Leciti, bem Leciti já tinha se
arrependido de estar nua. Não havia como ignorar todos os olhares a analisando,
mas este não era o incômodo. Tinha certeza. Estava sendo seguida por tarados e
taradas. Afinal, tara não escolhe orientação sexual... Mas de qualquer jeito
ela se sentia uma carne exposta, às vezes de primeira outra de terceira. Porém,
cabeça dura como era, achava o chocar as pessoas e seus 15 minutos de fama até
a próxima visualização seriam o suficientes.
Queria acabar com a
hipocrisia social. Afinal, era só um corpo nu. Não era um dos mais procurados
na internet? Pornografia? Sua vontade era de acabar com a bajulação das curvas,
a coisificação das pessoas, esta procura insana de ser igual a outrem,
principalmente com as listas. Com certeza iria criar um aplicativo de concretização
do rasgar das listas neste mundinho virtual. Para Leciti, as pessoas nem sentiam
o chão e viviam nas nuvens e, a maioria, nas nuvens dos outros. Por isso vivia
repetindo: Comida pronta e micro-ondas existem em quase todo lugar assim como
gente. Gente sem cérebro falando um bocado como diria o Espantalho para Dorothy.
Leciti tinha alergia
a simples ideia de listar algo. Ela começava a empelotar todinha. Seu ar parava
de fluir. Mudava até a cor da pele. Sentia uma raiva imensa e começava a bufar como
se fosse o Lobo Mal light dos Três
Porquinhos das Disney. Só melhorava quando gritava. Sua alergia psicológica
exigia um grito de liberdade e Leciti adorava gritar. Então, uma belezinha
escultural no auge dos 19 anos nua e gritando no meio da ainda interiorana
capital do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, só podia acabar no youtube e ser o assunto. Como se não
bastasse a exposição, Leciti realmente teve um surto. Saiu rasgando todas as
listas de amigos, familiares, colegas de trabalho, afazeres, promessas, compras...
No esbugalhar dos
olhos de Leciti, ela foi detida. Presa por diversas infrações. A mais
interessante era infringir a Lei do Silêncio... Haja garganta e hipocrisia. Com
falta de vagas nas cadeias, presídios e delegacias... Preferiram acorrenta-la
com a primeira corrente de bicicleta encontrada. Não chamaram psicólogos nem assistentes
sociais. Veio mesmo a mídia. Mas, ninguém queria saber da alergia e paranoia de
Leciti. Todos perguntavam pela “loucura” dela e ela falava sem parar: não podemos nos aprisionar nos nossos
corpos, nos corpos dos outros, nestas infames mídias digitais, precisamos parar
de listar as coisas (e se coçava)...
Quando estavam todos
satisfeitos e Leciti, se coçando, ainda exigia ter voz, um jornalista com
cheiro de leite resolveu seguir à risca as ordens do patrão.
-
Fale mais devagar para eu listar aqui suas reivindicações..., começava
o comunicólogo e Leciti, ainda na palavra listar, já voava para o pescoço do
cabra e tirava a vida de mais um "inocente" foca do Jornalismo...
Um comentário:
Gostei........causar impacto...chocar.....de repente .....mamys
Postar um comentário