quarta-feira, junho 10, 2015

Não era uma pedra



por Rafael Belo

Estava tendo delírios, suava litros e gemia dolorosamente. Bicampeão de artes marciais mistas com 100 kg cravados em dois metros e doze e mesmo assim derrotado por um ser microscópio. Virose? Ah, era sempre assim quando não sabiam o que acontecia. Enfia paracetamol e manda pra casa... Duas semanas intermináveis e nada de melhorar.

Golias se gabava de nunca ter ficado doente e até dias atrás era verdade, mas eram tantas pessoas doentes ao redor dele tossindo, espirrando, desrespeitando a saúde alheia que ele decidiu prevenir e se medicou. Nada de mais, apenas estes antigripais, porém foi aí que a tal virose o surrou como nenhum outro adversário ainda tinha feito.

Inconformado, Golias parecia murchar a cada dia acamado.  Delirando aos 39 graus de febre repetia o famoso ditado popular “todo cuidado é pouco”.  Existe alguém mais cuidadoso que eu? Só se for quem sofre de toque... Não bebo, não como porcarias, não fumo, sou atleta e água... Cadê? Aqui. Bebo litros em um só gole...

Não tinha forças para nada, mas mesmo assim precisava terminar de ler A Torre Negra e O Vento pela Fechadura ao mesmo tempo. Queria ser como Roland e assim delirava... Naquelas duas semanas ainda não terminadas percebeu a fragilidade em qualquer situação da vida, este clichê da roda-viva... Era tão fácil estar lá em cima e despencar. As posições trocavam todo dia, mas era certo que não seria uma pedra no caminho a derrubar o gigante Golias, ele iria se curar, não iria?

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