quarta-feira, junho 17, 2015

Revelações em tintas



por Rafael Belo

Fazia algum tempo que um som repetitivo chegava distante até o seu ouvido. Ele já tinha perdido a noção das horas, mas ainda tentava navegar naquele barco salva-vidas pintado de cinza no alto-mar condensando exatamente a variação do tom azul para o esverdeado enquanto o sol nascia gemado rodeado das estrelas da noite sucumbindo. Do outro lado...

Uma tempestade fazia a noite permanecer e criava um contraste trazendo algo de reconhecimento na mente de Aurélio Abel. O barco estava vazio assediado por ventos vindouros por sua vez criando ondas ainda distantes, mas futuramente responsáveis pela virada do barco antes da chegada do novo amanhecer. Estava em transe sorrindo para aquele quadro tão real...

Ele era o barco. Ele estava vazio. Seria responsável pela tempestade chovendo noite de um lado? Poderia conquistar aquelas cores presenteadas por um novo amanhecer? Quem sabe se tornaria aquele vento capaz de mudar até o meio do alto-mar formando uma onda gigantesca capaz de virar uma vida... Também havia outra sensação emoldurada ali.

Era liberdade. Nada mais de assédios nem da obrigação de escolher entre vontade, necessidade, fantasia e realidade... Então, se virou para o “chefe” berrando seu nome e mais uma vez o humilhando. Só de encarar pela primeira vez o “chefe”, aliás diretor o silêncio veio. Olhou o quadro triunfante balançando a cabeça como se concordasse com um amigo. Falou calmamente a palavra processo puxou dois “amigos testemunhas”, mas antes voltou para a sala do seu ex-diretor e pegou o quadro: - Esta é parte da indenização, depois seguiu cantarolando.

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