por Rafael Belo
Fazia algum tempo que
um som repetitivo chegava distante até o seu ouvido. Ele já tinha perdido a
noção das horas, mas ainda tentava navegar naquele barco salva-vidas pintado de
cinza no alto-mar condensando exatamente a variação do tom azul para o
esverdeado enquanto o sol nascia gemado rodeado das estrelas da noite
sucumbindo. Do outro lado...
Uma tempestade fazia a
noite permanecer e criava um contraste trazendo algo de reconhecimento na mente
de Aurélio Abel. O barco estava vazio assediado por ventos vindouros por sua
vez criando ondas ainda distantes, mas futuramente responsáveis pela virada do
barco antes da chegada do novo amanhecer. Estava em transe sorrindo para aquele
quadro tão real...
Ele era o barco. Ele estava
vazio. Seria responsável pela tempestade chovendo noite de um lado? Poderia conquistar
aquelas cores presenteadas por um novo amanhecer? Quem sabe se tornaria aquele
vento capaz de mudar até o meio do alto-mar formando uma onda gigantesca capaz
de virar uma vida... Também havia outra sensação emoldurada ali.
Era liberdade. Nada mais de
assédios nem da obrigação de escolher entre vontade, necessidade, fantasia e
realidade... Então, se virou para o “chefe” berrando seu nome e mais uma vez o
humilhando. Só de encarar pela primeira vez o “chefe”, aliás diretor o silêncio
veio. Olhou o quadro triunfante balançando a cabeça como se concordasse com um
amigo. Falou calmamente a palavra processo
puxou dois “amigos testemunhas”, mas antes voltou para a sala do seu
ex-diretor e pegou o quadro: - Esta é parte da indenização, depois seguiu
cantarolando.
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