sexta-feira, junho 19, 2015

Prisão coletiva



por Rafael Belo

Luanna saiu sem rumo exatamente como se sentia. “Esqueceu” o celular de propósito onde todos em casa podiam ver. Estava no ônibus com o itinerário mais longo da cidade. Saiu do extremo da zona norte de São Paulo para o mais distante ponto da zona sul.  Precisava pensar sem ninguém dizer o que nem como, muito menos rondando o tempo todo.

Cercando perguntando. Maldita sociedade hipócrita, pensava Luanna, cuidam da vida de todo mundo só pensar em investir em melhorar e qual a finalidade? Ela estava há um ano na cidade que mais produzia dinheiro para o Brasil... Todo mundo correndo o tempo todo para dar tempo e... Ninguém tem tempo para nada... Decerto não querem pensar de verdade no que estão se tornando, concluiu balançando a cabeça lentamente.

Luanna tinha recém completos 20 e poucos anos. Suas melhores companhias eram os livros, Salomé e Lou - respectivamente sua gata e seu cachorro. Cada leitura a fazia crescer e assim se sentir menos dentro de tantos universos, já seus animais mostravam o oposto da vida humana. Eles eram incondicionais, só precisavam de carinho, água, alimento e curtos passeios.

Qual eram os objetivos delas e das demais pessoas? Juntar dinheiro, rejuvenescer, viver até não poder mais e rezar para ir para o céu?, negava com tanta força que as pessoas já a olhavam. Luanna queria mesmo não precisar de dinheiro e nem de tanta poluição na cidade com tantos contrastes.

Pensava em como seria bom se a moeda de troca fosse as habilidades de cada um, prestação de serviço... Gostaria de ter nascido em outra geração quando havia motivos mais heroicos para lutar, principalmente pela liberdade e agora? Lutamos para continuar lutando...  Estamos sem rumo. Sem rumo seguiu e nem tinha saído da zona norte ainda. Entrava na coletiva prisão.

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