por
Rafael Belo
Começa
a música e todos se iluminam. Cada um lembra-se de um momento, cada um canta
como se estivesse no palco e esta fosse a vida. Não tem valor. As pessoas se
unem em uníssono e naquele momento somos um. O poder atômico de cada canção reconstrói
mundos, conecta pensamentos e eleva o indivíduo a um coletivo sorridente e
compartilhado, mas o lado b não é bonito. A valorização dos músicos
sobrevivendo da música e da boa energia do público é gratificante, é
energizante, eleva uma satisfação flutuante, porém é praticamente inexistente.
Há
bares aos montes por aí. Por onde passamos há um local para diversão, entretenimento
e música boa, mas as pessoas e os donos destes lugares “esquecem” que é uma
profissão. Quanto tempo dedicado para estudar e aprender um instrumento, para
afinar a voz, para chegar ao tom, as notas, aquela cadência, aquele ritmo, naquela
quase perfeição foi necessário - e ainda é - para criar um repertório, para
ficar no mínimo satisfatório para o público? Este tempo não tem limite porque a
cultura não tem limite e mesmo sendo inestimável o valor, nem 1/3 do salário
mínimo é repassado para estes artistas.
Eles
sobrevivem trabalhando o máximo possível em três, quatro, cinco, inúmeros
palcos por dia e estou falando apenas dos músicos. Imagine a situação da dança,
das artes plásticas, do teatro... É uma roleta russa da negociação diária de um
cachê, do amor-próprio, do amor pela arte e ainda assim vestir o melhor
sorriso, dar o melhor da alma e do coração para pelo menos alimentar estes,
enriquecer estes com mais sorrisos, com agradecimentos e abraços. É o mínimo do
reconhecimento em um mundo frio e capitalista... Receber calor e incentivo para
que o desânimo não tome conta porque ele também não vai pagar as contas.
Os
heróis das artes com os dons brilhando nos olhos das pessoas estão aqui para
iluminar, mostrar os dons da criação desta aliança entre impalpável, mente,
alma e coração. São nossos ídolos fomentando em nós o desejo de sucesso deles
criando esta ponte entre o palco e nossos sonhos. Eles nos ajudam a acreditar. Inspirados
inspiram nossas inspirações e nos dão aquela vontade de viver mais intensamente.
Os artistas do nosso mundo pagam diariamente o preço da escolha que fizeram e
nos dão a coragem de escolher o que nos faz bem, mesmo sendo obrigados a
acertarem as multas injustas, às vezes com a alma, a música não pode parar.
Um comentário:
Muito lindo!infelizmente são valorizados neste pais as falcatruas e as malandragens! Mas não podemos deixar de sonhar e acreditar em um mundo melhor! Que as pessoas possam viver do seu oficio!Parabéns!
Postar um comentário