por
Rafael Belo
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audível nem gestos, só o silêncio. Mas, por dentro Lumi iluminava, tagarelava,
cantava, criava, talvez não haja nenhum registro de uma inteligência como a
dela. Porém, ela não desejava interagir ou mostrar para alguém todas suas
criações. Lumi guardava tudo, ou melhor, escondia. Era segredo sua real
personalidade. Ela não é quem finge ser. Lumi não fala de passado ou de
presente. Para o mundo é muda. Nem mesmo os pais sabem, ainda que os médicos garantam
ser psicológico o motivo da mudez, eles não admitem ter uma filha “louca”. “Meu
Deus, não!”. Era melhor a mudez.
Eles tinham medo dela
e a deixavam só com os pensamentos de Lumi. O combinado silencioso era ótimo
para ela. Ela subia no último quarto, do último canto da casa onde somente ela
tinha acesso e apagava o mundo. Não, não. Nada disso, ela iluminava o mundo com
poesia, romances, composições, com a própria voz e aquelas saindo dos
instrumentos musicais, pinturas, coreografia... Ela se bastava. Não, não é
verdade. Não havia única alma capaz de imaginar tanto talento acumulados em um só
ser. Mas, Lumi não se permitia sofrer.
Lumi acha um
desperdício conversar quando pode ouvir e mostrar arte, artes mais precisamente.
Lumi não é uma só, é incontáveis. Por isso, não é justo a acusar de não ser a
própria real personalidade. Ela o é em parte. Uma parte precisamente precária. É
o pior dela porque ele pensa ser isso que as pessoas merecem. Só dá para o
mundo indiferença e é indiferente com as pessoas. Não faz diferença para ela. Bem...
Ela vive repetindo não fazer. Mas, talvez seja verdade ela não tem simpatia e
nenhuma empatia. Não é possível saber. Ela é totalmente isolada.
Nada é irremovível. Nada
é constante. Houve um tempo no qual Lumi era livre, especulativamente falando. Todos
os registros dos cinco anos dela foram apagados. Lumi compunha as próprias
músicas e esperava a reação espantada das pessoas e, no início, maravilhadas,
mas logo deixavam de achar uma gracinha para “como é possível”, “que criança
esquisita”, “ninguém a força?”... Era destruidor para a pequena Lumi que hora
via seus pais explorarem esta peculiaridade dela, hora babarem de alegria e
hora temerem. Ela desde então, nada faz em público. Até neste momento que chega
sua prima, muito parecida com ela e se encaminha – sem ninguém ver – até o
quarto secreto de Lumi.
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