por
Rafael Belo
Maritah
corria pela vida. Ao redor a morte a cercava. Ela descia as escadas enquanto os
muros desabavam e ofegante não podia parar. Já tinha até se esquecido dos
motivos que a levaram até aquele terraço. Ela se sentia o próprio edifício, mas
porque eram precisos 200 andares com praticamente 1000 metros... Mas, com o
nome de The Kingdom Tower era de se esperar... Torre do Reino... Tudo isso
acontecendo daqui a quatro anos sem nem imaginar estar na Arábia Saudita.
Aquele
1 km descendo não devia ser nada para Maritah. Ela era maratonista, mantinha a
boa forma, corria de manhã e à noite. Eram quilômetros e quilômetros na esteira
e sempre que possível repetia a travessia pela cidade, de uma ponta a outra,
sem nem perceber. Maritah era como as outras pessoas... Procurava formas de ser
forte e evitava expor as fragilidades e, uma hora ou outra, acabaria
acontecendo uma implosão. Ela não acreditava em psicólogos e em falar, só em
agir, em fazer, em se destacar... Mas tudo muda tão “de repente”.
Não queria estar sozinha. Ah,
Maritah... Tão teimosa! Há tantas frustrações em conflito com as conquistas...
Não falar do assunto é o mesmo que... Eu plantei tudo e, infelizmente, à noite
o teto me mostrava o cultivo de sucesso. Ainda sem colher, aquelas frutas
amadureciam e caiam sem estragar, mas me estragavam... Estragam. Quis chegar as
nuvens com bagagem demais... Óbvio que cairia... Não! Não! Não! Não! Não! Eu
assumo minhas fragilidades! Sou um ser humano frágil e a mesma fragilidade me faz
forte.
Não deveria estar cansada. Vou ter que assumir
que é psicológico, meu coração não deveria estar tropeçando, mas trotando como
um cavalo livre em seu próprio campo aberto. Preciso chegar ao chão... De
elevador levaria alguns segundos, mas não teria graça... Não me importaria de
ser sem graça por um dia... Quem instala escadas em uma torre/residência deste
tamanho? Que ideia heim! Que ideia! ... Mas estou me referindo a mim ou aos
construtores, ao arquiteto ou ao Criador...? Ninguém me obrigou a estar aqui
girando nestas espirais e estes detestáveis degraus iguais... Ah, o chão! Só
vou deitar um pouquinho... Não tenho que me afastar pelo menos dois quilômetros?...
Mas é uma implosão não um desabamento... Vou me afastar mesmo assim, há outras
formas de chegar às nuvens.
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