por
Rafael Belo
Zumbem
os insetos e emitem todas as onomatopeias próprias deles. Até pararem para
escutar, mas não se aproximam enquanto as pessoas se aglomeram. Há um respeitoso
silêncio entre elas envolvidas pela música tocada. A flauta de Hamelin está pendurada no meio do
ambiente, ninguém ousa tocar, ninguém ousa falar, ninguém ousa cantar, mas
todos querem. Ratos e crianças desaparecem neste instante e o prometido não é
pago. Os instrumentos do lugar também hipnotizam com os músicos elevando as
almas para os dedos, os pés e vozes.
Há
amplificadores por toda parte e a cidade não emite nada. Cessou o vento, nada
mecânico funciona nem elétrico ou tecnológico, exceto no bar para onde estão
todos indo silenciosamente. Quem tocava era a última banda já ouvida neste país
com violão, guitarra, baixo, bateria, percussão, sax, trompete, flauta, tuba,
violino, violoncelo, piano, contrabaixo, viola, sanfona, triangulo e zabumba. Todos
também eram voz, mas a verdade é que 1% das pessoas estava chegando, o restante
não conseguia sair de casa. Zumbiam e emitam todas as onomatopeias próprias
delas.
Zombem
se quiserem... Vocês já perceberam a ausência de alguém? Aquele alguém na
contramão do cotidiano? Já sim! Pode confirmar! Elas são como lâmpadas sem
apagar jamais. Luzes no caminho iluminando os passos. Sóis nos despertando, nos
amanhecendo novos e exultantes. Atraem a todos e os fazem crescer
emocionalmente, espiritualmente, mas só crescem mesmo com seus iguais. Sem saberem
simular era O instrumento no momento. A Banda atraia no momento artistas que
são a famosa Alma dos lugares, das famílias, dos amigos e da cidade.
Os
atraídos tinham lido A Revolta de Atlas (Who is John Galt?) e
sentiam que algo assim aconteceria. O tal do “algo me dizia...”, mas nenhum
deles era filósofo nem gostava de ser rotulado como homem de razão. Eles preferiam
serem tachados de loucos e taxados por isso, enquanto os verdadeiros donos da
loucura permaneciam achando serem donos de algo. Está quase amanhecendo e os
atraídos seguiram A Banda até o estádio encantados pela música que queriam
cantar, mas não cantavam. Não se sabe ao certo quantos são, mas está tudo
realmente vazio agora. Ao amanhecer só havia desaparecimento e coletivos de
silêncios.
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